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O multipremiado escritor jamaicano Marlon James aventura-se pela sua primeira experiência em televisão, desenhando o argumento de Get Millie Black, um noir jamaicano que acompanha uma detective dedicada a encontrar pessoas desaparecidas. Com um total de cinco episódios, a estreia está marcada para 26 de Novembro, terça-feira, na Max.
Millie Black é uma detective da Scotland Yard que regressou à Jamaica para continuar o seu trabalho no país onde nasceu e que abandonou em criança, após a mãe a enviar para o Reino Unido viver com outros familiares. Para trás, deixou o irmão homossexual às mãos de uma mãe abusiva que parecia só conhecer o cinto como meio de disciplina. Mais tarde, em adulta, Millie recebe a notícia de que o irmão morreu, mas ao voltar para a Jamaica, após a morte da mãe, percebe que está vivo, mas agora é Hibuscus, uma mulher trans que se sustenta na prostituição. Ao mesmo tempo, Millie continua o seu trabalho fixada em encontrar um miúdo que desapareceu sem deixar rasto, numa investigação que acaba por envolver um detective da Scotland Yard, que atravessou o Oceano em busca de um homem rico que vive à margem da lei e que lhe pode servir de ajuda para um caso. Mas nem tudo é o que parece.
Para quem é de fora, o imaginário da Jamaica envolve calor, praias paradisíacas, reggae e canábis. Sendo certo que tudo isto existe no país caribenho, que vê no turismo uma das suas grandes fontes de receita, a realidade é bem mais complexa e recheada de preconceitos. Get Millie Black é um noir que não só envolve mistério, polícias e malfeitores, como é um retrato da Jamaica contemporânea, ainda a tentar libertar-se das amarras coloniais britânicas e submersa na incompreensão de quem é diferente. Temas que acompanharam a vida de Marlon James, filho de detectives e homossexual, que abandonou o país para não ter de viver uma vida fechado no armário. A Time Out esteve à conversa com o autor, produtores e também com elementos do elenco.
“Sempre encarei a escrita como um mistério a resolver”
Com quatro livros publicados, Marlon James é um multipremiado escritor e entre os vários galardões destaca-se o Man Booker Prize, atribuído ao livro A Brief History of Seven Killings (2014), sobre as várias tentativas de assassinato de Bob Marley e suas consequências. Residente nos EUA, aos 53 anos apresenta o seu primeiro argumento para televisão, apesar de já ter experiência como dramaturgo, um trabalho que considera menos solitário do que o habitual. “Tenho alguma experiência em dramaturgia, por isso escrever de forma mais colaborativa foi algo que me atraiu”, explica James, cujo trabalho diz ter sido sempre influenciado pelo cinema e a televisão (em particular Get Christie Love!, série de 1974) e que partilha os créditos do argumento com Theresa Ikoko e Lydia Adetunji, duas britânicas de origem nigeriana com mais experiência no audiovisual.
Num enredo com um ambiente assombrado por fantasmas do passado, do colonialismo às perdas pessoais, foram também as memórias de Marlon James que ajudaram a construir a narrativa de Get Millie Black. À Time Out, o escritor revela que a mãe sempre foi uma influência no seu trabalho, mesmo antes de Get Millie Black. “A minha mãe foi uma das primeiras mulheres na Jamaica a tornar-se detective. E eu sempre encarei a escrita como um mistério a resolver. Normalmente, quando crio uma história, os personagens aparecem primeiro. E depois fico a perguntar-me: por que é que eles estão ali? Qual é a história deles e o que é que não me estão a contar?" E foi a mesma coisa com a Millie”, recorda.
A produção é da Motive Pictures, responsável pela série A Mulher na Parede (SkyShowtime), que agora decidiu apostar em mais uma trama misteriosa. Simon Maxwell, CEO da produtora britânica, explica a nova aposta: “Eu era fã do trabalho dele e só a ideia de ele querer fazer um thriller de detectives que explorasse temas que são, simultaneamente, intemporais e contemporâneos, além de explorar o cenário pós-colonial, a relação entre a Jamaica e o Reino Unido, mas sob a forma de um thriller noir de acção, parecia demasiado bom para deixar passar a oportunidade”.
O papel de Millie Black ficou nas mãos de Tamara Lawrence (Dupla Silenciosa), britânica, mas de ascendência jamaicana. O que serviu que nem uma luva à personagem que dá vida. “Foi realmente importante para mim pessoalmente, como jamaicana e britânica, porque não se pode fugir do colonialismo sendo filha de imigrantes. Mas o que foi realmente incrível nesta série foi poder formar a minha própria ligação com a Jamaica, não ia lá desde os três anos”, conta. Para a actriz, foi também fundamental experienciar uma espécie de “catarse e cura”, ao poder representar como uma “uma forma de processar o colonialismo”. Por isso mesmo, encontrou inspiração na mãe e na tia, as mulheres jamaicanas que a criaram. “O facto de estarmos aqui hoje significa que as pessoas da minha linhagem sobreviveram. Por isso, sinto a força das mulheres que me criaram em tudo o que faço, porque não é fácil viajar para um país diferente, tentar adaptar-se, tentar criar uma nova vida para ti e para os teus descendentes. Poder voltar à Jamaica através da Millie, uma personagem tão formidável, deu-me a oportunidade de as honrar através deste papel.”
Get Millie Black marca a estreia da modelo transgénero jamaicana Chyna McQueen, no poderoso papel de Hibiscus, que também a acabou por inspirar. “Inspirou-me como pessoa, como personagem e também como mulher trans a interpretar outra mulher trans. E mostrar como podemos sobreviver, como devemos lutar pelo amor, para ser aceites e reconhecidos, simplesmente por sermos nós mesmas”, defende. O elenco principal fica completo com os actores britânicos Joe Dempsie (A Guerra dos Tronos), no papel do detective inglês Luke Holborn, e Gershwyn Eustache (Britannia), que interpreta o detective jamaicano Curtis, ele próprio mergulhado em dramas pessoais, por ser homossexual numa sociedade ainda muito conservadora.
Max. Estreia a 26 de Novembro
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