[title]
Em 1985, Nan Goldin apresentava The Ballad of Sexual Dependency no MoMA, em Nova Iorque. No ano seguinte, a série fotográfica chegava na forma de livro e com o mesmo título. Composto por mais de 700 imagens, captadas entre 1979 e 1986, o trabalho permanece até hoje como um dos retratos mais íntimos da subcultura queer da Nova Iorque pós-Stonewall. A intimidade, omnipresença na lente da fotógrafa norte-americana, foi trazida para o centro da nova exposição do MAC/CCB. "Intimidades em fuga. Em torno de Nan Goldin" abre ao público esta quinta-feira e, partindo de 126 fotografias, expostas lado a lado numa única parede, procura outras reflexões em torno deste conceito através de obras de outros 35 artistas, portugueses e internacionais.
Nas palavras de Nuria Enguita, curadora da exposição e directora artística do museu, há "uma noção de interioridade" que percorre a exposição. À direita, a parede cor-de-rosa exibe o trabalho de Goldin – mais de uma centena de imagens, todas elas pertencentes à Colecção Holma/Ellipse. Do lado esquerdo da galeria, sucedem-se os diferentes núcleos. No primeiro de sete, ocupado por uma mão cheia de artistas mulheres, o corpo feminino torna-se político. Com a arte feminista vêm representações simbólicas de opressão, estigma e proibição, aqui da autoria de Sarah Lucas, Sanja Iveković, Valie Export, Ana Mendieta e Marina Abramović. O mesmo acontece com a fotografia de Goldin, "expressão de uma intimidade que não é normativa e que, por isso, na sua expressão pública, se torna política", segundo completa a curadora.
O corpo atravessa, aliás, toda a exposição. Helena Almeida e "a relação contínua entre interioridade e exterioridade" espreitam no núcleo seguinte. A fotografia predomina, mas há lugar para desenho, com destaque para as obras de Paula Rego, pintura surrealista, escultura e vídeo, formato usado para trazer o colonialismo para a conversa, através de uma obra de Filipa César, The Embassy. Subjugação, controlo patriarcal, introspecção e estrelato – conceitos que se cruzam ao longo do percurso expositivo e que gravitam em torno de uma mesma ideia. "Intimidades em fuga. Em torno de Nan Goldin" junta ainda obras de Eileen Agar, Hans Bellmer, Louise Bougeois, Victor Brauner, André Breton, Paul Delvaux, Chantal Joffe, On Kawara, Mike Kelley, Yves Klein, Musa paradisiaca, João Onofre, Bruno Pacheco, Cindy Sherman, Wolfgang Tillmans, Adriana Verejão e Júlia Ventura, entre outros.
A exposição pode ser visitada até 31 de Agosto de 2025 e tem uma agenda de visitas guiadas, mas que requerem inscrição prévia. Estão marcadas para 25 de Janeiro, 15 de Fevereiro, 22 de Março e 12 de Abril, sempre às 16.00. No próximo fim-de-semana, o MAC/CCB será de entrada livre a propósito da comemoração do primeiro aniversário do museu e, no domingo, haverá uma visita guiada gratuita, às 17.00. No dia 27 de Novembro, a visita guiada acontece sob o tema “Uma aprendizagem do corpo: a arte e a sexualidade”, às 16.00.
Escultura por um fio
Uma semana depois de ter apresentado duas novas exposições, o MAC/CCB volta às inaugurações em dose dupla. Além da fotografia de Nan Goldin em diálogo com obras de dezenas de outros artistas, o museu recebe aquela que é a primeira exposição de Fred Sandback em Portugal. "A última exposição com esta escala, na Europa, foi feita há mais de 20 anos", assinala a curadora Lilian Tone. Nas amplas salas do piso -1, há 16 peças do escultor minimalista para ver de perto, cinco das quais exposta pela primeira vez fora do atelier. Ver as obras de perto é, aliás, a forma desejável de visitar a exposição "Fred Sandback: Alinhavando o Espaço". Além de ter sido um dos precursores da arte minimal dos anos 60 e redefinido os limites da escultura na época, tomou como material de trabalho o próprio espaço ocupado pelo observador. "É uma situação total. O espaço pedestre não está vedado, o observador é parte do trabalho", completa Tone.
Falamos do espaço entre as linhas que Sandback começou a traçar bem cedo, primeiro com recurso a elásticos e hastes de metal, mais tarde com fio de lã acrílica. Ainda em Yale, "frustrado com a massa e volume da escultura, procurou algo que não tivesse dentro ou fora". Com fio vermelho, começou por traçar a silhueta de uma tábua. Era ainda estudante quando fez a primeira exposição. Anos depois, deixaria de lado os sistemas matemáticos e adoptaria uma lógica mais orgânica e intuitiva na hora traçar as suas linhas.
Trabalhou a cor – numa das salas, vemo-lo usar as cores primárias, inspirado pela pintura Broadway Boogie-Woogie, de Mondrian –, mas também a escala, com instalações que se adaptam ao espaço onde são expostas. Mantendo as proporções, o impacto das obras é moldado pelo ambiente físico. A exposição, realizada com o apoio do Fred Sandback Estate e do Fred Sandback Archive, pode ser visitada até 9 de Março de 2025. A primeira visita guiada é este domingo, às 15.00. A dose repete-se a 16 de Novembro, 11 de Janeiro, 1 de Fevereiro e 8 de Março, sempre às 16.00.
Praça do Império (Belém). Ter-Dom 10.00-18.30 (até 31 de Agosto e 9 de Março, respectivamente). 7€ (preço para residentes em Portugal)
📯Não adianta chorar sobre leite derramado. Subscreva a newsletter
⚡️Prefere receber as novidades sem filtros? Siga-nos no Instagram