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Em 2015, estavam Levi Martins e Maria Mascarenhas a fundar uma companhia de teatro no Montijo, com o objectivo de ali estabelecer um ponto cultural e de encontro com a comunidade envolvente. Passados dez anos, os directores artísticos reconhecem os desafios que enfrentaram para chegar onde estão hoje, mas também sublinham o papel da Companhia Mascarenhas-Martins no panorama artístico daquela cidade. Em Janeiro, a primeira década de actividade será celebrada com uma programação especial, que inclui um concerto de Levi Martins. Já para o futuro, fica a vontade de continuar a programar com a mesma missão em mente e de ir ainda mais longe.
Maria chama-lhe um “fruto do destino”, mas a verdade é que com Levi chegou ao Montijo da mesma forma que podia ter chegado a outro sítio qualquer. E quando os dois lá chegaram, não quiseram ir embora. Decidiram então criar uma estrutura artística e cultural para a cidade. Na altura, não existia uma referência prévia para aquilo que queriam fazer, por isso, o caminho a percorrer foi exigente. “Começámos do zero e houve uma configuração e uma conjugação de factores muito rara e que deu muito trabalho a conseguir. E isso tem que ver com fundar e estruturar uma companhia fora dos grandes centros urbanos em que muitas destas coisas já estão mais ou menos estabelecidas, ou seja, há já um modelo de funcionamento na relação com as companhias, que aqui não existia e teve de ser criado”, começa por dizer Levi, ao telefone com a Time Out.
E, ao contrário do que possa acontecer com os teatros no centro de Lisboa ou do Porto, a missão da Companhia Mascarenhas-Martins nunca se prendeu com existir apenas como estrutura de criação artística, mas passa sim por desempenhar um papel activo na cultura local, seja através de workshops, conversas ou actividades de mediação artística. “A nossa missão é estar no Montijo e trabalhar para as pessoas aqui à volta e, naturalmente, ser também uma ponte entre aquilo que, às vezes, acontece só em Lisboa ou só no Porto e esta comunidade”, explica Maria. Levi reforça – “Houve uma procura por um enraizamento da companhia, ou seja, não queríamos ser estrangeiros. Nós vimos de fora, não somos montijenses, mas queríamos passar a ser. E com a Mascarenhas-Martins passámos a ser de alguma maneira e acho que as pessoas reconhecem isso.”
Ao longo dos anos, a companhia tem trabalhado com Luís Madureira e já produziu espectáculos de Luís Miguel Cintra e o próprio Levi Martins também já trabalhou com grandes nomes do teatro português, tais como João Brites e Jorge Silva Melo, o que teve um peso no que toca a legitimar a acção da Mascarenhas-Martins. Por outro lado, a relação que a mesma tem vindo a estabelecer com o público acaba por ter também um papel importante no seu estabelecimento. “Isto são os frutos de relações humanas e afectivas. Não é só a questão artística e cultural, é também uma questão humana, é o que vai acontecendo quando as pessoas começam a trabalhar num determinado sítio e cumprem a sua função social”, continua Levi.
“No fundo, toda a gente já percebeu que não vamos a lado nenhum e, de certa maneira, até querem que isto não desapareça. Há um público e para as pessoas que acompanham o nosso trabalho faz uma diferença muito grande. E depois de termos ido para a Casa da Música [Jorge Peixinho, onde estão desde 2023], chegámos a uma população que estava mais fora do centro, o que acaba por ser muito interessante”, reconhece Maria.
Para o futuro, a dupla espera consolidar o trabalho que tem feito até agora e manter a programação regular, com actividades de mediação e criações artísticas, procurando fortalecer também a relação com o público mais jovem e com as escolas. “Agora que temos as mínimas ferramentas, queremos tentar que a actividade artística e cultural faça parte da vida das pessoas, através de tudo aquilo que fazemos, e tentar ir o mais longe possível para que esta configuração que temos com a Câmara Municipal e com as entidades públicas sirva como um exemplo do que pode ser a relação entre um território e uma companhia”, remata Levi. Para o co-fundador, arte e cultura podem mudar a vida das pessoas, pela via do pensamento crítico e da sensibilidade.
Uma década em festa
Em Janeiro, para celebrar os dez anos da Companhia Mascarenhas-Martins, há uma programação que se estende ao longo de quatro dias na Casa da Música Jorge Peixinho. No dia 11, é apresentado o primeiro de dez capítulos de Memorabilia, um projecto que se debruça sobre o arquivo da companhia. Neste dia, olha-se para a sua pré-história até ao primeiro espectáculo Toda a gente e ninguém. Há ainda uma conversa e um convívio.
No fim do mês, entre 24 e 26, Levi sobe ao palco para apresentar Já passaram dez anos, um conjunto de dez canções que escreveu em jeito de balanço desta década e que reúnem também momentos marcantes da companhia. Na sexta-feira e sábado, o concerto está marcado para as 21.30 e, no domingo, para as 16.30. A entrada é livre.
Casa da Música Jorge Peixinho (Montijo). 11 Jan, 24-26 Jan. Vários horários. Entrada livre
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