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Tal e qual uma casa de fados, todos estão em silêncio para ouvir o trio Romeu Tristão, que tem o próprio no contrabaixo, João Pereira na bateria, e Hugo Lobo no piano. Apesar disso, sente-se uma energia colectiva à boleia do jazz. Na bem composta plateia estão alunos de música, curiosos e entusiastas, incluindo duas senhoras – as únicas com lugar reservado – antigas habitués do Hot Clube de Portugal, o clube de jazz mais antigo da Europa, agora fechado. Estamos no Távola Jazz Bar, que abriu em Fevereiro numa rua pacata em Alvalade, mas só recentemente passou a música das colunas para o palco.
Comecemos pelo princípio. “O bar abriu em 1971 e teve outros conceitos, na maior parte do tempo foi um bar de alterne”, conta o proprietário Nuno Seabra. “Nós comprámos o bar a umas pessoas que o tinham aberto em 2019. Passado meio ano apareceu a pandemia e fecharam”, continua. Apesar das várias vidas, o espaço sofreu poucas alterações, e até o nome é o original. “Podíamos ter mudado, mas achámos engraçado. As pessoas que aqui estiveram antes, tentaram demarcar-se da imagem do bar de alterne, e chamaram isto de Távola Bar and Lounge, since 2019. O primeiro que fizemos foi acabar com o Lounge, acabar com o ‘since’ e substituir por ‘desde 1971’. Se há capital que esta casa tem é a sua idade. É um dos bares mais antigos da cidade de Lisboa”, justifica.
A decoração é, assim, de outros tempos, e isso é parte do charme. A luz é baixa, os sofás em pele e a madeira escura predomina, inclusive no bar, onde estão Teresa e Rita, respectivamente mulher e filha de Nuno Seabra. E, sim, este também é um negócio familiar, nascido do gosto pela música. “Para ser franco, não sou propriamente um grande conhecedor de jazz, mas sempre gostei de música”, esclarece Nuno. Sobre a escolha do jazz como o único género musical do espaço, o responsável é bem claro: “Há milhares de bares em Lisboa e este seria mais um. Esta localização não é fantástica, não estamos num bairro antigo de Lisboa e mesmo em Alvalade está muito escondido, portanto nós tínhamos que nos diferenciar de alguma forma”.
Desde que abriram portas que o jazz é a estrela, mas numa primeira fase não tinham música ao vivo. “Depois contactámos o Hot Clube, porque ficaram mais uma vez sem casa, e perguntámos-lhes se teriam interesse em fazer alguns concertos aqui. Disseram que sim, e tivemos então o Hot in Távola, no dia 25 de Maio, que se estendeu para uma vez por semana, até o final de Julho”, lembra. Depois de um período encerrados para obras de insonorização, em Agosto, reabriram em força com jam às terças (dia em que o trio residente Romeu Tristão marca presença) e concertos todos os dias. “A comunidade do jazz apercebeu-se que o que nós temos feito também tem uma grande importância para eles, e é uma comunidade muito solidária. Não é à toa que conseguimos ter aqui nomes como o Ricardo Toscano ou o João Paulo Esteves da Silva”, assegura.
Para não incomodar os vizinhos, o bar abre às 20.00 e encerra à meia-noite. Significa isto que o Távola também oferece jantar. “Nós não temos cozinha, e portanto não temos nada de faca e garfo, mas começámos com umas tostas mistas, uns nachos com guacamole, uns wraps, e dá perfeitamente para a pessoa mais do que matar a fome, jantar uma coisa leve”, afirma o responsável. Para beber não faltam opções, especialmente de coquetelaria, como o daiquiri de romã (8,50€), com rum, sumo de lima e romã; e o basil smash (9€), com gin, sumo de limão e manjericão.
No futuro, Nuno Seabra quer dinamizar a zona da cave. “Não sei o que é que vou fazer com isto aqui, mas sei que posso fazer qualquer coisa Este espaço tem potencial”, acredita. Mas o essencial, para já, “que o Távola seja conhecido por quase toda a gente”.
Rua Coronel Bento Roma, 16 (Alvalade). Ter-Sáb 20.00-00.00