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A instalação de Ângela Rocha ocupa o palco do Pequeno Auditório da Culturgest. Vista de fora, Metade dos Minutos, é um cubo de pêlo cor-de-roda iluminado por dentro, onde é possível entrar e desaparecer. Mas antes de entrar, passamos por uma bizarra secretária, macia aos olhos, áspera ao toque. Está coberta por milhares de alfinetes, que se movem lentamente, como se o objecto inspirasse e expirasse.
"A experiência começa com a textura mais agressiva precisamente como forma de nos acordar, para não usarmos só o olhar. Até porque se soubermos escutar o tacto, até mesmo os alfinetes podem ser macios", começa por explicar Ângela Rocha, cenógrafa que aqui se aventurou pela primeira vez no mundo da instalação.
Metade dos Minutos, nome que foi buscar ao título do seu primeiro diário gráfico, ainda nos tempos da António Arroio, foi concebida para a Quadrienal de Praga, em 2023, comissariada pela Direcção Geral das Artes. Depois disso, esteve em Évora, na Fundação Eugénio de Almeida, e é agora apresentada pela primeira vez em Lisboa. Habituada à cenografia, neste projecto eliminou a intermediação dos actores e colocou o espectador no centro da cena. "É muito importante para mim o lugar que o espectador tem aqui, ele fica com o papel principal. E isso só fazia sentido num lugar que fosse exploratório, onde cada um se pudesse conduzir. Daí o labirinto", continua a autora.
Uma vez lá dentro, os estímulos sobem de tom. Um corredor estreito cobre-se de franjas luminosas, quase como se atravessássemos o interior de uma lavagem automática, com as suas escovas. O espectador tem de escolher o caminho a seguir e, em função da direcção escolhida, pode ter de calçar as luvas, premir o botão "saída" ou de usar o coração. Num projecto elaborado ainda em 2022, o pós-pandemia ainda teve influência sobre o trabalho da cenógrafa. "Vínhamos de uma altura em que o toque era associado a uma ideia de perigo, então quis que nos voltássemos a reconectar com ele e, ao mesmo tempo, por contraponto ao digital, algo que pudesse ser experienciado no plano físico, fora das redes sociais", resume.
Curiosamente, o resultado revelou-se altamente instragramável, com a luz e a textura a enriquecerem a experiência sensorial, para a qual contribuíram ainda Diogo Costa e Telma Pais de Faria. A instalação fica na Culturgest até 5 de Janeiro e pode ser visitada por apenas 1€. Junto à bilheteira, os visitantes vão encontrar uma outra criação de Ângela Rocha – Mirabolante. Uma máquina de brindes de onde, por 50 cêntimos, saem pequenas bolas com mensagens (visões do futuro) recolhidas por todo o país. Nos dias 30 de Novembro e 7 de Dezembro, haverá conversa com a autora, às 15.00.
Rua do Arco do Cego, 50 (Campo Pequeno). Ter-Dom 11.00-18.00. 1€
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