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Neste musical, somos todos tudo o que quisermos

Dez anos depois de estrear, o musical 'Quando For Grande Quero Ser' volta à cena com novo elenco, para uma nova geração.

Raquel Dias da Silva
Jornalista, Time Out Lisboa
Quando For Grande Quero Ser
© Marco Reixa, João Filipe (design gráfico) e Renato Arroyo (fotografia)'Quando For Grande Quero Ser', de Ana Rangel, da Plano 6
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Quando era miúda, Ana Rangel sonhava ser veterinária. Era um grande sonho, mas nunca se chegou a concretizar. A insensatez dos 18 anos levou a que se candidatasse só a universidades em Lisboa, onde sempre vivera, mas as médias eram altas e acabou por entrar em engenharia geográfica. Bastaram três meses de infelicidade para mudar o rumo da sua vida. “Fui para o Porto estudar Gestão Internacional. Na altura, como já tinha conseguido uma transferência para a Faculdade de Ciências em Lisboa, achei que ia ser só por seis meses, mas fiquei lá cinco anos e depois, como tinha pais jornalistas, decidi virar-me para a escrita e para a cultura”, revela-nos a produtora, no pátio da Casa dos Artistas, onde nos encontramos para falar de Quando For Grande Quero Ser. O musical, que estreou pela primeira vez em 2013, está prestes a voltar a cena, e a história que se contará e cantará no palco do Casino de Lisboa, de 11 de Novembro até 28 de Janeiro do próximo ano, não só tem vários ecos biográficos, como continua bem actual na mensagem que pretende transmitir.

Quando For Grande Quero Ser
© Francisco Romão Pereira / Time OutEnsaio do musical 'Quando For Grande Quero Ser', de Ana Rangel

Em palco, numa cidade atrás do sol posto, havia uma escola já muito velhinha, com paredes cansadas de estar em pé, que teve de ser encerrada por ordem de um engenheiro civil. Há muito, muito tempo, o narrador da história, que não se apresenta quando entra em cena, foi aluno nessa escola. Mas isso, o que lá andou a fazer e o que lhe aconteceu entretanto só descobrimos no final. O mistério é desvendado à medida que a peça se desenrola, com a professora Arlete a liderar a iniciativa de construir um novo espaço de educação, onde todos – sobretudo as crianças, mas também os adultos – possam aprender a ler, a escrever e a fazer muitas outras coisas importantes, como somar e dividir, e até divertidas, como brincar (a brincar também se aprende!). À causa, juntam-se outros profissionais, como a médica, a carteira, o polícia, os bombeiros e até um casal de merceeiros rezingões. Afinal, como lembra uma das personagens “a escola é a nossa segunda casa e não é menos importante que a primeira”. É onde, por exemplo, podemos descobrir o que queremos ser… quando formos grandes.

“A verdade é que, aos 15 anos, não sabemos ainda nada. É um processo constante de aprendizagem, e os meus pais nunca me disseram ‘tu não podes fazer isto ou não podes fazer aquilo’, mas ‘faz aquilo que tu achares, que tu sentires, que te vai fazer feliz’. Eu encontrei a minha [paixão] mais tarde, mas a minha professora Arlete foi muito importante na mesma”, conta Ana Rangel, que assina a dramaturgia, incluindo as letras das músicas. “O nosso propósito é o entretenimento, mas ficamos felizes por podermos passar mensagens bonitas, que fazem de nós pessoas melhores e nos ajudam a criar um mundo melhor. É também por isso que gostamos de trabalhar com textos originais. Conseguimos divertir e, ao mesmo tempo, ensinar qualquer coisa e garantir que [os espectadores] saem com uma sensação boa do que é o teatro.”

Quando For Grande Quero Ser
© Francisco Romão Pereira / Time OutEnsaio de 'Quando For Grande Quero Ser', de Ana Rangel

Com encenação de Ricardo Conti, coreografia de Colin Vieira e direcção musical de Dino Rodrigues e Nuno Pires, Quando For Grande Quero Ser é, mais do que uma reposição, uma releitura. Além das actualizações feitas ao texto de Ana Rangel, quer a equipa técnica quer o elenco se apresentam renovado, com Ivo Lucas a interpretar o protagonista. “O mundo mudou, as pessoas mudaram, o tempo de pensamento é outro, é mais rápido, mas a sensibilidade e o afecto são os mesmos, e não há inteligência artificial que altere isso”, garante o brasileiro Ricardo Conti, que começou a trabalhar com a Plano 6 ainda como actor, em 2001. “É um namoro antigo”, brinca Rangel. “Eu vivi em Portugal durante sete anos. Agora, estou de volta ao Brasil, mas vim cá de propósito, 15 anos depois, para este trabalho”, continua o encenador. “A Plano 6 está a contribuir para a formação de público, para este género de teatro, que é o teatro musical, que exige um actor muito completo, que também canta e dança.”

Conti não esconde o seu entusiasmo. Quando era miúdo, confessa, ainda pensou em ser engenheiro agrónomo, porque o pai tinha uma fazenda e ele adorava cuidar dos animais. Mas um amigo de família, o actor e cineasta Miguel Falabella, “bateu o olho” nele e disse-lhe que tinha de frequentar O Tablado, uma escola de artes cénicas no Rio de Janeiro. “O meu pai era totalmente contra, porque eu tinha de ter ‘uma profissão de verdade’, mas eu fiz o meu primeiro ano escondido e correu tudo bem”, diz orgulhoso, antes de nos falar sobre os desafios de pôr em palco uma peça estreada há dez anos. “O maior é adaptar para as crianças dos tempos de hoje, mas que bom que Portugal tem essa tradição tão forte do projecto escola, que sempre foi a força da Plano 6. Muitos lugares consideram o teatro para crianças como um teatro menor, mas a criança é quem forma a nossa plateia de amanhã, é um produto eterno.” E até os pais, promete Ana Rangel, vão gostar. “Aposto que não há um adulto que se aborreça a ver este espectáculo.”

Casino Lisboa. 14 Nov-28 Jan, Sáb 16.00. 10€

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