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Há quem diga que somos o que comemos. Se assim for, no Raminhos Desserts somos todos um doce de pessoa. Neste novo espaço de Campo de Ourique, nascido em Agosto no número 53 da Rua Pereira e Sousa, as protagonistas são as sobremesas, ainda que não se trate de uma pastelaria, mas sim de um restaurante. A proeza é da chef pasteleira Ana Raminhos, que desenhou uma carta onde existem mais opções doces do que as salgadas. “Eu acho que não existe nenhum restaurante de sobremesas em Portugal”, diz, mostrando-se orgulhosa da sua nova aventura a solo.
No seu restaurante, os livros de gastronomia fazem parte da decoração do espaço harmonioso, que se completa com plantas, mesas em madeira, e uma mesa turquesa de apoio à cozinha. Um desses livros, intitulado Fabrico-Próprio – O Design da Pastelaria Semi-industrial Portuguesa (Pedrita Studio), é a principal base para as suas criações, tal como a sua experiência em vários restaurantes. Grande parte do seu currículo construiu-se além-fronteiras, chegando mesmo a cozinhar em restaurantes com estrelas Michelin, como o Ron Gastrobar, em Amesterdão, mas quando chegou a Portugal foi n’Os Gazeteiros, em Alfama, que aterrou, onde ficou durante quatro anos. Nesta altura, Ana também fez a sua primeira performance gastronómica na Trienal de Arquitectura, com uma experiência sensorial em torno do acto de comer – uma conquista interessante considerando o passado da pasteleira nas Belas-Artes, onde estudou design. "Fui fazer qualquer coisa entre o ser artista e ser pasteleira. Foi muito gratificante.” Depois d’Os Gazeteiros lançou-se num projecto dentro da Micro Padaria, na Graça, onde partilhava a loja. “Foi um projecto curto, na medida em que depois surgiu esta oportunidade. Faz sentido ter um espaço a solo, ter as pessoas sentadas”, conta.
No Raminhos Desserts, há então sete sobremesas à disposição, todas elas artesanais. “Eu diria que isto quase que pode ser um atelier de um artesão”, comenta. A tarte de framboesa com creme de requeijão e sorvete de framboesa e hibisco (12€) – bonita por fora, gulosa por dentro – é uma delas. Mas para quem gosta de arriscar, o gelado de cevada com bavaroise de alcaçuz e telha de cacau (12€) pode ser a escolha mais acertada. A taça de gelado de sésamo preto com morangos e consommé de morangos (12€) é uma opção fresca. A lista dos salgados é bem mais reduzida, com apenas quatro receitas, entre as quais uma salada de tomate, morango, mozarela e pickles de chia (13€). “Eu nunca fiz parte salgada profissionalmente, então também é uma boa aventura”, revela a chef pasteleira.
“Isto é, realmente, uma amálgama de tudo o que eu já fiz”, confessa, referindo-se às sobremesas da loja de Campo de Ourique. Uma afirmação que se estende à carta das bebidas. “Somos um restaurante de sobremesas, com vinhos naturais – referências que ficaram dos tempos d’Os Gazeteiros. Acho que amplia a experiência. Não somos especialistas em vinhos, nem temos sommelier, somos entusiastas”, sublinha. O Nature (37€/garrafa) é uma sugestão para acompanhar quase todos os pratos. Nas opções sem álcool encontra-se uma lista de chás e infusões da Companhia Portugueza do Chá.
Com o restaurante aberto há apenas umas semanas, Ana admite que quem lá passa ainda não compreende bem o seu propósito, mas “a ideia é conseguir ir cativando os clientes para este conceito e vamos caminhando”.
Rua Pereira e Sousa, 53 B (Campo de Ourique). Qua-Sáb 17.00-22.30
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