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Fechado ao público desde Julho de 2018, o Miradouro do Adamastor tem causado tormentas no debate público. Reabriu a 11 de Outubro com novas grades que vedam o acesso entre as 23.30 e as 07.30 e que dividem opiniões.
Mais segurança, mais iluminação, melhores espaços verdes e maior qualidade de vida para moradores foram os argumentos da Câmara Municipal de Lisboa (CML) para esta operação. Vimos um espaço verde renovado, novos e modernos candeeiros, um agente da polícia municipal a operar junto ao largo que dá acesso ao miradouro e muitas pessoas em ameno convívio. A dinâmica social parece manter-se no local, onde estivemos na última sexta-feira entre as 16.00 e as 17.00. Pelas novas entradas, chegavam turistas, residentes, jovens, velhos, crianças e bebés a dormir nos seus ovos, imunes às conversas que circulavam. Muitos tiravam fotografias à paisagem ou selfies para as redes sociais e álbuns de viagens. Nos degraus de pedra do miradouro, um pequeno grupo fumava haxixe, mas ninguém se parecia importar. Ao lado, uma mãe avisava duas crianças, em inglês: “Ninguém sai do portão!”. Outros chegavam com bebidas engarrafadas e copos de plástico, mas muitos usavam dos reutilizáveis vindos do quiosque de Rosa Lages, a 1€ o depósito. Uma nova medida adoptada pela concessionária do espaço, que já lá está há mais de 20 anos. “Não temos plástico neste momento. E tivemos a preocupação de personalizar os copos para que saibam que são os nossos”, explica Rosa Lages, que acrescenta: “A nossa missão é trabalhar em paz e querer o melhor para o sítio onde trabalhamos”.
António, 74 anos, é de Campo de Ourique e já não vinha aqui há muito tempo. As notícias da reabertura despertaram-lhe a curiosidade e está de acordo com a nova solução que encerra o espaço durante a noite. “Até é bom, por causa do vandalismo. As pessoas criticam por tudo e por nada, mas às vezes é preciso fechar as portas”, defende. E acrescenta: “Agora está tudo muito bonito, até apetece vir mais vezes”.
Mais indignada com a situação está Rosa Silva Ramos, co-administradora do grupo de Facebook “Libertem o Adamastor!”, a quem perguntámos se nota alguma diferença na dinâmica de pessoas no miradouro. “Quanto à dinâmica do espaço parece-me que continua exactamente a mesma que era antes do gradeamento do espaço”, afirma, referindo-se a moradores do bairro, turistas e outros visitantes ocasionais. Mas defende que a dinâmica do bairro foi afectada pelo encerramento do miradouro: “Passou a circular menos gente por ali durante o tempo em que o espaço esteve encerrado, o que contribuiu para agravar o sentimento de insegurança de quem por lá passava. As pessoas que lá costumavam ir ao final da tarde e início da noite passaram a ir para a Rua da Bica de Duarte Belo, onde passa o Elevador da Bica, e muitos dos pequenos traficantes de droga passaram a estar mais espalhados pelo Calhariz, Calçada do Combro, Rua da Bica de Duarte Belo a até na Praça Luís de Camões”, diz. Mas quando passámos pela Rua Marechal Saldanha a meio da tarde, uma das que dá acesso ao miradouro, fomos abordados três vezes seguidas por esses pequenos traficantes (e ainda tivemos direito a um piropo).
Rosa é clara no que deseja para este espaço público: tirar as grades; colocar bancos de madeira com costas “tal como foi anunciado pela CML na apresentação do projecto feita, em Fevereiro passado, no Liceu Passos Manuel”; arranjar as casas de banho “nomeadamente os autoclismos que estão estragados”; reforçar o número de cinzeiros; caixotes do lixo para plástico e vidro; e mudar a iluminação de acordo com a estética da cidade e reforçá-la nas ruas envolventes. E deixa um apelo: a apresentação pública das despesas de requalificação do Adamastor e a discussão na Assembleia Municipal de Lisboa da petição “Por um Adamastor de todos e para todos” que apresentaram no final de 2018, com mais de 4000 assinaturas.
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