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Estamos em terra de arte e galerias, o que não deixou João Azinheiro, o proprietário, indiferente na hora de escolher um espaço para abrir uma galeria em Lisboa. Na Kubikgallery, que tem porta aberta no Beato desde 3 de Outubro, ainda cheira a inauguração. Ao fim de 15 anos no Porto, desceu até Lisboa, pouca coisa para uma galeria que há muito cruzou o Atlântico.
“Temos muitos artistas brasileiros, fazemos uma ponte com São Paulo e com o Rio. Tento ao máximo levar também artistas portugueses, aliás, temos lá [em São Paulo] um espaço onde pontualmente fazemos exposições. Trazer a galeria para Lisboa nunca tinha sido um foco, mas houve essa necessidade. Tenho muitos clientes brasileiros aqui e o mercado infelizmente é assim: brasileiros compram brasileiros e portugueses compram portugueses”, explica o galerista.
Portugal e Brasil mais próximos do que nunca
E a primeira exposição, para visitar até 30 de Novembro, não poderia fazer mais jus ao posicionamento da Kubik. “Ação à Distância” apresenta uma comitiva de 14 artistas, a maioria representada pela galeria, que conta com um total de 18 nomes no seu portfólio. Um vídeo da espanhola Paloma Polo e uma peça do brasileiro Daniel Frota de Abreu dão o mote para uma reflexão sobre a nossa relação com a natureza na sua concepção ocidental.
"Ambos, cada um com a sua linguagem, tentam dar conta de uma tentativa de apreender um eclipse que aconteceu em 1919, por Thomas Edison. E essa apreensão, que seria usada na época para tentar justificar uma certa Teoria da Relatividade de Einstein, é só um ponto de partida para a gente para entender o modo de funcionamento da ciência em relação à natureza, como a ciência inventa milhares de formulações e manipulações para tentar criar uma interface com a natureza, o que faz com que, provavelmente, a gente não tenha uma relação inclusa com o mundo ao redor, mais directa, mais sensível, menos mediada, menos construída por uma certa colonização intelectual do Ocidente", contextualiza Luisa Duarte, que assina a curadoria com Bernardo de Souza.
Outros nomes espreitam na exposição – Alexandre Canonico, Artur Lescher, Dan Coopey, Emmanuel Nassar, Flávia Vieira, Gonçalo Sena, Leda Catunda, Manoela Medeiros, Pedro Vaz, Salomé Lamas, Sara Ramo e Vera Mota. Para a curadora, uma das responsáveis por seleccionar as obras (pintura e escultura) que integram a mostra inaugural, a relação entre Brasil e Portugal tem vindo a estreitar-se no campo artístico, devido a espaços e estratégias como a de João Azinheiro, mas não só. "Tem muitos artistas brasileiros fazendo parte de times de galerias portuguesas. E depois tem alguns projectos acontecendo, como na Comporta com galerias brasileiras e portuguesas. Uma das maiores galerias no Brasil, a Fortes D'Aloia & Gabriel, mantém há muito tempo um escritório aqui. Na verdade, é uma relação inevitável e são muitos os artistas brasileiros que se dedicam a pensar a história dessa relação. Então a gente está num momento de intercâmbio cada vez mais próximo", refere.
Bons vizinhos
João ainda agora chegou e já sente a segurança de estar entre galerias – a Galeria Filomena Soares está a escassos metros e até ao Braço de Prata é sempre a contar. A localização não foi escolhida ao acaso. Quis integrar um roteiro, mas também fugir à tipologia de espaço tipicamente ocupada por uma galeria. Aqui, numa antiga oficina de carros, na última década e meia convertida num armazém de vinhos, as paredes foram mantidas em bruto. Para lá das superfícies lisas que delimitam a área expositiva, há lugar para acomodar acervo e ainda para receber artistas em residência.
"Veio muito mais gente europeia, novas gerações, novos públicos, que também chegaram ao Porto, mas em menor escala. E na arte contemporânea temos de estar onde estão as pessoas", remata João. A paisagem lisboeta mudou, de forma mais expressiva nos últimos quatro anos, aponta. Existe um público internacional, que já procurava arte e galerias portuguesas, mas que chega cada vez em maior número à cidade. A Kubikgallery só quer aproveitar o empurrão. Brasil, Áustria, Madrid – levar os artistas a feiras internacionais é também uma prioridade, além de ser uma forma de manter relevante o papel da galeria.
Calçada Dom Gastão, 4, porta 45 (Beato). Ter-Sáb 14.00-19.00. Entrada livre
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