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O mais difícil era lembrar que estávamos em Lisboa. A música estava alta e animada e as paredes pintadas com desenhos de campos de milho e pessoas em trajes coloridos. Quase não se ouvia o português, que passava despercebido entre outras línguas, como o espanhol e o inglês. Nas mesas da esplanada ou do interior, estão nachos, tacos e margueritas. O La Fugitiva, aberto desde o Verão na movimentada Rua de São Paulo, no Cais do Sodré, quer ser uma viagem ao México, sem que sejam precisas malas e bagagens.
É Marbelly Prado que em conjunto com o irmão Ulises e com o chef e amigo mexicano Gabriel Rivera nos dá a conhecer um pouco do calor latino. Marbelly é da Costa Rica, mas vive há sete anos em Portugal. Veio por amor e não lhe faltaram motivos para ficar. "Eu sei que vou morrer aqui. Amo Lisboa, sinto uma paz incrível. É pela segurança e também porque as coisas acontecem aqui, se trabalharmos para elas", conta. Tanto trabalhou que fez nascer um restaurante, mesmo com os travões impostos pela pandemia. "Foi bom porque fizemos as coisas pouco a pouco", revela.
É costa-riquenha, adora Portugal, mas Marbelly não esconde a preferência pela gastronomia mexicana. “[Na Costa Rica] temos muita influência da comida mexicana, que para mim é uma das melhores do mundo”, afirma. E atreve-se a dizer que no La Fugitiva não se come tex-mex, que é como quem diz uma fusão da cozinha mexicana e norte-americana. Aqui serve-se a verdadeira comida do México, defende.
Para nos explicar a diferença, ninguém melhor do que o chef. "O Texas formou parte do nosso território. Os barbecues americanos, com os antecedentes da cozinha mexicana e com a fusão que se deu, gerou o tex-mex. Por estar nos Estados Unidos, deu-se a conhecer muito mais rapidamente do que a cozinha mexicana. Mas no centro [do México] ninguém come burritos, ninguém come chilli com carne", assegura. Além de conhecer muito bem a gastronomia do seu país, tendo mais de uma década de experiência na área, é também apaixonado por ela. “Aqui em Portugal, o mais pobre e o mais rico sabem como é um bom bacalhau à brás. No México todos sabem o que é um taco, como se come um taco. É parte da nossa cultura”, diz.
Os tacos são, claro, obrigatórios. No menu criado por Gabriel encontram-se vários, como o camarón al pastor (13,50€), com camarão; o frijol (8,5€), com feijão; ou o birria (13€), com carne de vaca. Aos tacos juntam-se as tortas, as saladas e também as sopas, com destaque para a sopa de tortilha (4,5€). Mas antes, para abrir o apetite, vão bem os clássicos nachos (9,5€) que, segundo a responsável, “são para comer com as mãos”. As tortilhas são acompanhadas com queijo, jalapeños, feijão preto e guacamole. De sublinhar que há muitos pratos vegetarianos na carta — um requisito de Marybell com base nas escolhas alimentares das suas filhas.
Como não seria um restaurante mexicano sem coktails típicos, no La Fugitiva não faltam opções, mas as margueritas (8€-9,5€) são as rainhas da casa. “Esta é a melhor margarita de Lisboa”, atira Marybell. A margarita clássica é a favorita dos clientes, mas de quando a quando vão aparecendo versões mais ousadas. “Agora temos uma de tamarindo, que é uma inovação para o Inverno”, diz.
O nome — La Fugitiva — é “um monumento de um momento” da vida de Marybell. “Todos somos fugitivos em algum momento da nossa vida. Às vezes fugimos por amor, às vezes por medo, por vergonha. E mesmo sem sair da nossa casa, nós fugimos. Ser um fugitivo faz parte da nossa vida diária”, justifica.
Este é o primeiro restaurante da costar-riquenha, mas esperam-se novidades para breve. “A nossa ideia é trazer para Portugal o sentimento mexicano”, confessa, e por isso pretendem abrir dois novos espaços na cidade.
Rua de S. Paulo 186. Seg-Qua. das 18.00 às 00.00 e Qui-Sáb das 18.00 à 1.00. Vários preços.
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