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Não sei se veio cá para julgar, mas se veio, desmanchamo-nos já com uma confissão: na impressionante jukebox da Marshall do novo JNcQUOI Deli Comporta, na aldeia do Carvalhal, a nossa escolha durante um almoço tardio foi para “I Just Called To Say I Love You”, de Stevie Wonder. Pronto. Se isto tem alguma coisa a ver com uma tasca alentejana? Não. Mas o Alentejo está bem representado nesta reinterpretação do grupo Amorim Luxury – de forma excêntrica, requintada, surpreendente, como a marca já nos vem habituando. Se veio cá para julgar… o melhor é abrir os horizontes para o que aí vem.
O impacto à entrada é grande – como foi quando nos estreámos no JNcQUOI Avenida e vimos um esqueleto de dinossauro no tecto, ou quando entrámos pela primeira vez no JNcQUOI Ásia e fomos recebidos por uma carcaça dourada de dragão. O responsável pelo novo projecto não é o mesmo destes restaurantes da capital (o arquitecto catalão Lázaro Rosa-Violán), mas sim Jean-Philippe Demeyer, belga, com quem a marca já tinha trabalhado no Frou Frou. Divertido, irreverente e ousado, mas ao mesmo tempo castiço e tradicional, o espaço apresenta-se desde logo com um enorme balcão forrado com cortinas coloridas (muito coloridas) confeccionadas pela associação A Avó Veio Trabalhar. No chão brilha uma mistura de azulejos Viúva Lamego, que cria um padrão confuso e inesperado, e nas paredes há vasos de barro com rostos pintados à mão pela artista Susa Monteiro, de Beja. O tecto, feito e pintado à mão, remete para o colmo característico da zona, e a loiça espalhada pelas mesas e pelo balcão vem da Olaria Pirraça no Redondo.
O ambiente pop continua no pátio interior (com acesso directo à vizinha Fashion Clinic, do mesmo grupo) e é mais delirante que nunca na casa de banho. O que também continua é a música escolhida pelos clientes (sem ser preciso moedas) que sai da jukebox: ouve-se ABBA, Cindy Lauper, Rod Stewart, Chaka Khan e Barry White. À noite, a caixa de música sai de cena, dando lugar a DJs, que prometem animar o espaço até à meia-noite (de domingo a quarta) e às 02.00 (entre quinta e sábado).
Sabores autênticos, mas não só
Assinada pelo chef Jerónimo Ferreira e acompanhada pelo sous-chef Luís Santos (ambos responsáveis também pelo JNcQUOI Beach Club, na praia do Pego, a poucos minutos de carro dali), a carta do Deli volta a misturar sabores alentejanos autênticos com receitas contemporâneas. Os primeiros mostram-se imaculados, por exemplo, na carne de porto preto com amêijoas (37€), conhecida por este país fora como carne de porco à alentejana; os segundos, por outro lado, estão nos waffles com salmão fumado e creme fraîche (23€). Pelo meio, misturando sem vergonha os dois extremos, há o já popular bife raspado “Harry’s Bar” com ovo estrelado e batata frita (25€), que é um mix entre ovos rotos e carpaccio, ou o tamboril barriga preta pil-pil (38€).
O restaurante, inaugurado a 28 de Junho, está aberto todo o dia, a partir das 09.00, tendo uma carta dedicada aos pequenos almoços – com croque-monsieur com ovo estrelado (19€), granola caseira com frutos vermelhos (9€), waffles americanas com maple syrup (9€) ou o clássico English Breakfast (25€), com torrada, bacon, ovo frito, morcela, salsicha, cogumelos, baked beans, batata “Hash Browns” e tomate.
Para quem não quer fazer refeições tão a sério, há pratos leves, petiscos e tábuas: do gaspacho com carne de sapateira (15€) à cabeça de xara com salada Kartoffel (25€); da mariscada royal de mariscos deli (185€) à tábua mista de enchidos (26€); do prego trufado JNcQUOI (24€) ao hot dog de lavagante (39€). A sério ou nem tanto, há que passar pelas sobremesas, com destaque para a tarte de chocolate amargo e alfarroba (11€) e para a baba de tubarão (12€), com um travo a arroz doce – duas novas chamadas ao Alentejo, onde o que parece nem sempre é.
Avenida 18 de Dezembro, 15, Carvalhal. Dom-Qua 09.00-00.00, Qui-Sáb 09.00-02.00
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