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Estava o Rude pronto para se dar a conhecer nos Anjos, quando Gonçalo Salgado negociava o espaço praticamente ao lado já com planos para abrir o Finória, um restaurante italiano que, apesar do nome, é bem descontraído e cheio de onda. O início da Rua de Macau nunca mais foi o mesmo.
Ao fim da tarde, a esplanada fica composta em menos de nada e não tem sido diferente desde que abriram em Abril. Ajuda que o Rude, dos mesmos donos, dois números abaixo, se tenha estabelecido no bairro, mas não é só isso. Gonçalo Salgado sabia desde o início o que queria (e não queria) fazer. Para o Finória, trouxe o conhecimento de seis anos à frente do restaurante italiano Salti Vera Pizza, em Oeiras, entretanto fechado. “O Finória é uma transição desse restaurante”, diz o empresário. E o nome é uma brincadeira com o Rude. “Já que estamos tão perto, a ideia foi ter um nome que chocasse com Rude, mas que também funcionasse como a namorada do Rude.”
Apesar de as pizzas terem um grande destaque na carta e na comunicação do restaurante, resumir o Finória a uma pizzaria seria demasiado redutor. “Somos um restaurante italiano, focado acima de tudo na qualidade do produto”, atira. De tal forma, que Gonçalo não tem dúvidas de que é nesta morada de Lisboa que pode estar a melhor carbonara da cidade. “Neste momento são 300 a dizer que têm a melhor carbonara de Lisboa, mas eu acho que podemos ter uma das melhores, ou a melhor, se olharmos para ela como se faz desde sempre em Itália. A nossa carbonara é feita de uma forma totalmente original, sem adulteração nenhuma”, garante. E continua: “Uma carbonara é uma carbonara. É feita com guanciale e não com bacon. Leva pecorino e parmesão, e não só parmesão. Leva muita pimenta – e tem que ser pimenta a grão moída na hora”. Nem é preciso dizer que não leva natas. Acresce que a pasta é feita todos os dias no restaurante, tanto para a carbonara (11,50€) como para o ravioli com porcini, asiago e trufa (12€), ou para a lasanha com ragu e cogumelos (13€), que também já começa a dar que falar. “Não fugimos às receitas originais. A receita da lasanha, por exemplo, está na mão da minha família há 80 ou 90 anos. Foi dada à minha mãe há 50 anos por uma senhora italiana que já tinha 80 e tal e não há alteração nenhuma.”
Gonçalo Salgado fala de tal forma que seria de supor que até teria alguma relação especial com Itália, mas não é o caso. “Eu considero, sim, que tenho uma curiosidade pela comida desde sempre, pelas diferenças na forma como se cozinha... A forma como cozinhas a cebola aqui não é a mesma como vais cozinhar na Itália. Há sempre um interesse muito grande da minha parte em descobrir as outras cozinhas”, explica. “Não te garanto que amanhã não vá passar um mês ou dois ao México e não abra uma taqueria. Não vou é abrir uma taqueria sem ir ao México. São coisas diferentes”, defende, recordando algumas das muitas viagens feitas a Itália.
É de lá que vem praticamente tudo e esse é um critério do qual Gonçalo não está disposto a abdicar. “Tirando os frescos, que compramos localmente, vem tudo de Itália. O sal, os queijos, os enchidos, os vinhos”, enumera. No caso de algum produto falhar, não se fazem atalhos. É preferível dizer que não há.
O próprio forno é italiano e, embora seja, um forno napolitano, não são as pizzas de massa alta que se fazem por aqui. “A ideia é fugir um bocadinho daquilo que é a moda agora em todo lado, aquela pizza com a borda enorme… Nada contra. É muito pão para mim”, conta. “A nossa pizza é milimétrica, mas passa por todos os processos normais que passa uma pizza napolitana”, justifica. “As fermentações são naturais, a massa tem 12 horas de descanso. O processo é o mesmo, temos é uma forma diferente de trabalhar a massa.”
Entre as pizzas que levam tomate na base e aquelas que levam mozzarella, há cerca de duas dezenas de opções, além de quatro calzones. “É engraçado que as bestsellers de Oeiras continuam a ser as bestsellers de Lisboa”, nota Gonçalo, referindo-se à burratina (14,50€), com tomate, mozzarella, burrata, parma e manjericão; à caserta (13€), que ao tomate e à mozzarella junta speck, cebola e alho; e à pera e zola (13€), com mozzarella, pêra e gorgonzola. É nas pizzas brancas que fica aquela que leva o nome da casa com mozzarella, asiago e porcini (13,50€).
E faltou falar das entradas onde ficam as bruschettas, como de burrata e mortadela (7,50€) ou de tomate e manjericão (6€). Há uma focaccia de azeite e alecrim (4,50€) e um pão de alho e mozzarella (5€). E saladas mais simples como a caprese (9,50€), ou mais inusitadas como a de abacate e camarão com molho rosa Finória (11,50€).
“Estamos a apalpar terreno, mas tem corrido muito bem e percebemos, por exemplo, que há alguma vontade das pessoas quererem mais massas”, revela Gonçalo, adiantando que em breve duas novas farão parte do menu. “Não nos vamos esquecer que a Itália é um mundo de gastronomia e é por isso que encontramos muitos restaurantes italianos com dez folhas de carta. Eu aqui quis uma coisa homogénea em que não esticássemos a carta a dez folhas, mas que tivesse um bocadinho de cada. Ainda não chegámos aos risotos, mas não quer dizer que num futuro próximo não venham”, aponta.
Nas sobremesas, há tiramisù (5,50€), bolo de chocolate com gelado (6€), uma focaccia com nutella (6,50€), perfeita para partilhar, e uma panacota de manjericão (5€). Nos vinhos, o objectivo é fazer crescer a carta com vinhos de baixa intervenção, sempre vindos de Itália.
Por fim, um conselho em jeito de provocação: não deixe de espreitar a casa de banho. Sem revelar muito, foi feita dentro da câmara frigorífica do talho que antes existiu aqui.
Rua de Macau, 4 (Anjos). Qua-Seg 18.00-00.00
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+ Terá a Sofi’ a melhor pizza napolitana da cidade, vinhos fora da caixa e um preço honesto?