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No LU.CA, Mário Coelho apresenta-nos um principezinho cheio de ansiedades

A 14 de Março, estreia-se no teatro municipal a nova peça do encenador, que parte da obra de Antoine de Saint-Exupéry e centra-se na morte e no luto.

Beatriz Magalhães
Escrito por
Beatriz Magalhães
Jornalista
O dia em que decidi encenar “O Principezinho”
João Costa | O dia em que decidi encenar “O Principezinho"
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Quando Susana Menezes, directora artística do LU.CA, falou com Mário Coelho acerca da peça que ele ia encenar para apresentar no teatro municipal, perguntou-lhe se existia alguma obra sobre a qual ele gostasse de trabalhar. “O Principezinho”, respondeu prontamente o encenador. Leu-o, pela primeira vez, quando tinha oito anos, pouco tempo depois de a mãe morrer. Aliás, o livro foi-lhe deixado por ela, daí que carregue consigo mais do que a simples história sobre um rapaz que viaja pelo universo a conhecer novos mundos. Esta pequena grande obra, com menos de 100 páginas, tem um pouco de Mário Coelho – do seu trabalho, das suas ansiedades, da sua infância, do seu luto, da sua mãe. Um pouco não, muito. Assim, ele quis encenar O dia em que decidi encenar “O Principezinho”, em cena entre 14 e 23 de Março. 

“É um livro ao qual eu regresso sempre antes de começar um processo criativo novo”, começa por dizer Mário Coelho, ao telefone com a Time Out. Quando leu o livro, ainda em criança, achou-o complexo e difícil de entender, confessa, mas alguns dos aspectos que o intrigaram na altura, ressoam ainda hoje, mesmo que de uma maneira diferente. “É bastante interessante para mim voltar a este livro, agora com 30 anos, e também perceber o que é que é esta relação com a minha criança interior e esta ideia de que sou um dos adultos que o livro descreve, que se tornam ansiosos e preocupados com o que pensam deles, com ganhar dinheiro, com as pessoas gostarem deles e com não magoarem ninguém.”

O dia em que decidi encenar "O Principezinho"
© Enric Vives-RubioO dia em que decidi encenar "O Principezinho"

Apesar de partir da obra de Antoine de Saint-Exupéry, a peça não quer ser uma adaptação da mesma. O dia em que decidi encenar “O Principezinho” passa-se no dia em que Ana, uma jovem encenadora, se prepara para apresentar uma criação sobre O Principezinho, ao mesmo tempo que é assolada pelas suas ansiedades e emoções, já que o livro também a remete para a altura em que a mãe morreu, quando Ana era pequena. O espectáculo, que é talvez o mais pessoal e autobiográfico de Mário Coelho, dialoga directamente com as próprias experiências do encenador, mas não se fica por aí.

“Interessava-me esta ideia de esmiuçarmos e desvendarmos os vários departamentos do teatro, como se fossem os diferentes planetas onde o principezinho vai”, conta. Por outro lado, o encenador ainda se quis virar para o processo de criação – “é sobre alguém que está a trabalhar a partir de um livro que é muito importante para si e que tem medo de falhar a proposta pelo caminho, o que eu acho que também foram muitas das minhas inquietações e questões quando decidi fazer este espectáculo.” Mas, acima de tudo, a vontade foi a de criar algo que falasse para a ideia de não-lugar e do quão difícil é crescer, especialmente nos “tempos cínicos que vivemos hoje em dia”, reconhece Mário.

O dia em que decidi encenar "O Principezinho"
© Enric Vives-RubioO dia em que decidi encenar "O Principezinho"

Esta foi a sua primeira vez a dirigir uma peça para um público infantil, o que trouxe vários desafios, nomeadamente o de não “infantilizar” ou “simplificar demasiado” a narrativa. “Queria muito fazer um espectáculo que eu pudesse ter ido ver com a minha escola na altura em que a minha mãe faleceu, e que falasse de forma directa sobre o luto, a perda e a ansiedade e que eu me pudesse ter sentido escutado. Foi algo que senti falta”, diz o encenador. Daí, propôs-se a abordar esta história nos mesmos moldes em que aborda as restantes no seu corpo de trabalho, mesmo que isso significasse falar sobre um tema que, para muitos, pode ser demasiado sensível, como a morte. “Não existe altura melhor do que quando somos crianças para nos falarem sobre estas coisas que nos acompanham na vida, que fazem parte do nosso crescimento e da nossa estadia aqui no mundo. São verdadeiramente questões universais.” 

Com uma forte componente visual e de animação, o espectáculo conta com Ana Valentim, Benedito José, Cleo Diára, João Pedro Leal e Mariana Fonseca em palco. Alguns deles têm vindo a trabalhar com Mário Coelho nas suas últimas criações – como Quando eu morrer, vou fazer filmes no inferno! (2025) e Se te portares bem, vamos ao McDonald’s! (2022) – que, tal como esta, se debruçam sobre os temas da morte, do luto e das relações entre mães e filhos, ainda que totalmente distintas. “Para mim, não deixa de ser curioso que esta seja a minha décima primeira criação, que seja tão ligada a temas que estavam presentes na anterior [Quando eu morrer, vou fazer filmes no inferno!], mas que tenha uma roupagem tão diferente de todas as outras que encenei até agora.”

LU.CA – Teatro Luís de Camões (Lisboa). 14-23 Mar. Sáb 16.30 e Dom 11.30 e 16.30. 3€-7€

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