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Aniversários, almoços de família, baptizados e casamentos. Estes momentos costumam viver nos álbuns de fotografia de família. Por sua vez, estes álbuns costumam viver em caixas ou armários em casa, de onde saem poucas vezes. Para esta exposição, foi pedido a um conjunto de pessoas, afrodescendentes e africanas, que abrissem mão das suas fotografias pessoais para levar a cabo uma representação da diáspora africana na Grande Lisboa. “Álbuns de Família – Fotografias da diáspora africana na Grande Lisboa (1975-hoje)” tem a curadoria científica de Filipa Lowndes Vicente e Inocência Mata e pode ser visitada entre 28 de Abril e 30 de Novembro, no Padrão dos Descobrimentos.
A mostra chega com a vontade de combater a invisibilidade, à qual a comunidade africana e afrodescendente costuma ser, geralmente, confinada. “É uma exposição que quer tornar visíveis os rostos de pessoas que são sempre vistas como não fazendo parte da nação, pessoas que são sempre vistas como estrangeiras, como imigrantes, pessoas cujos antepassados estão nos arquivos coloniais, mas que nem sabem sequer, muitas vezes, que foram fotografadas. Através da fotografia, essas pessoas têm uma voz e dizem ‘estamos aqui e este é o nosso solo’”, começa por explicar a investigadora Inocência Mata, numa visita pré-inaugural à exposição.
Um centro da memória colonial quer ser um lugar de inclusão
As imagens que percorrem o espaço expositivo do Padrão dos Descobrimentos contemplam uma auto-representação da diáspora africana em Portugal, com um olhar particular para a cidade de Lisboa. Os “álbuns de família” procuram tecer a história desta comunidade desde 1975, ano em que se deu a independência dos países africanos da colonização portuguesa, até hoje. Mostrar este trabalho num espaço como o Padrão dos Descobrimentos, símbolo indissociável do passado colonial do país, também se tornou especialmente relevante no sentido de contar a História como ela aconteceu. “Esta é uma ex-metrópole colonial, os resquícios e legados desse passado estão por todo o lado e, portanto, o que nós queremos fazer é desconstruí-los, criticá-los, historicamente falando, reflectir sobre eles, não fingir que eles não existem e achamos que é possível hoje ter um discurso histórico e crítico sobre estes lugares”, realça a historiadora Filipa Lowndes Vicente.
A exposição parte de seis conceitos – álbuns de família, fotografias, diáspora africana, Grande Lisboa, 1975 e hoje – para criar um dicionário próprio. O primeiro núcleo, intitulado de Retratos Fotográficos da Diáspora Africana Antes de 1975, mostra, através da fotografia dos séculos XIX e XX, que já se havia estabelecido uma presença negra em Portugal antes do período de descolonização. O trabalho contou com a colaboração da investigadora cabo-verdiana Aurora Almada. No núcleo seguinte, Imagens ditas, escritas e cantadas, encontramos fotografias de um conjunto de escritoras, entre as quais Djaimilia Pereira de Almeida, completadas por uma reflexão das próprias.
Em Álbuns de família: Autobiografias fotográficas, homens e mulheres contam as suas histórias a partir das fotografias que escolheram dos seus álbuns de família. As imagens mostram momentos da intimidade familiar destas pessoas e muitas são expostas tal e qual como estariam em casa, nas molduras e tudo. É ainda mostrado um filme em que estas pessoas são entrevistadas acerca das fotografias. O núcleo seguinte centra-se na práctica fotográfica negra em Portugal. Os três fotográfos escolhidos para integrar esta secção foram Adão Marcelino, Roque G. e António Pedro Alves. Este último fotógrafo não é negro, mas é dono do Estúdio Damarte na Damaia, considerado o “estúdio mais africano de Lisboa” e onde ele recupera fotografias do passado, mas também faz fotografias do presente.
Na secção Artistas e Arquivos de Fotografia, são protagonistas nove artistas afrodescendentes e africanos, entre os quais Mónica de Miranda, José Chambel e Diogo Carvalho, que aqui trabalham a ideia de “álbuns de família”, com retratos da sua própria família ou retratos de outras pessoas, próximas de si. Este quinto núcleo realça a ideia de uma arquivo pessoal em contraste com um arquivo colonial. E, finalmente, a última paragem na exposição foca-se no presente, no hoje. Olhamos para os jovens portugueses negros e na forma como eles se relacionam com a materialidade da fotografia que, com a utilização dos telemóveis, se foi perdendo aos poucos e como é que a fotografia serve também de auto-representação.
“Álbuns de Família – Fotografias da diáspora africana na Grande Lisboa (1975-hoje)” surge como uma actividade de celebração da Década Internacional de Afrodescendentes, que termina este ano, e tendo também em mente os 50 anos do 25 de Abril. Para as curadoras, a vontade de organizar esta mostra passa por realçar as narrativas da comunidade negra em Lisboa e, acima de tudo, normalizá-las.
Padrão dos Descobrimentos. 28 Abr-30 Nov. Seg-Dom 10.00-19.00 (Março-Setembro), Seg-Dom 10.00-18.00 (Outubro-Fevereiro). 2,50€-5€
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