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No retrato aos consumos culturais em Portugal, é o cinema que faz figura

A conclusão é de um inquérito nacional sobre os hábitos de consumo de cultura pelos portugueses. Nos 12 meses anteriores à pandemia, foram os jovens e os de maior rendimento a entrar nas salas de cinema.

Joana Moreira
Escrito por
Joana Moreira
Jornalista
Cinema São Jorge
© Gabriell Vieira
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Quantas vezes vai ao cinema por mês? Com quem vai ao cinema? Leu algum livro nos últimos anos? Quantas horas por dia passa em frente à televisão? São apenas algumas das perguntas levantadas no Inquérito às Práticas Culturais dos Portugueses, um estudo encomendado pela Fundação Calouste Gulbenkian (FCG) e executado pelo Instituto de Ciências Sociais (ICS) entre Setembro e Dezembro de 2020. 

“Pela primeira vez há em Portugal um amplo levantamento à escala nacional das práticas culturais dos portugueses em vários domínios da cultura”, diz Guilherme D’Oliveira Martins, administrador da Fundação Calouste Gulbenkian, esta terça-feira, em conferência de imprensa para apresentação dos resultados do estudo. 

2000 indivíduos com 15 ou mais anos e residentes em Portugal responderam ao inquérito que apresenta vários dados estatísticos sobre práticas e hábitos de consumo de Cultura pelos portugueses, em particular nos 12 meses anteriores à pandemia da Covid-19. O cinema, revela o estudo, “é a actividade cultural com uma taxa de participação mais elevada. Nos 12 meses anteriores ao início da pandemia, 41% da população inquirida foi ao cinema”. A frequência de salas de cinema “é mais forte entre a população jovem, dos 15-24 anos, na qual 82% declaram ter ido ao cinema, contra percentagens mais baixas na população com mais idade”, pode ler-se no mesmo documento. 

Coordenado pelo investigador e coordenador do ICS José Machado Pais, pelo investigador do ICS Pedro Magalhães e pelo ex-programador cultural Miguel Lobo Antunes, o estudo revela também que, durante a pandemia, foram os mais jovens a intensificar as práticas culturais online. Entre os 15 e os 24 anos, 41% dos inquiridos passaram a ver mais filmes e séries em casa. Questionado pela Time Out se a transição deste consumo pode representar um decréscimo na afluência às salas de cinema nos próximos anos, o investigador Pedro Magalhães acredita num “legado cumulativo e não substitutivo". “Não sei se a capacidade e a frequência intensificada de ver um filme em casa vai produzir um legado futuro de uma menor procura do cinema agora que se espera que a pandemia esteja a dar as suas últimas manifestações”, diz, admitindo duas consequências possíveis. “Uma é que há um segmento do público que procura muito este tipo de conteúdos e que agora, com circunstâncias novas, volte”; “outra é que a facilidade, o hábito, a conveniência de ver filmes em casa acabe por ter uma consequência negativa futura para ter uma afluência às salas de cinema”.

Já Miguel Lobo Antunes, antigo programador e administrador da Culturgest, recorda que “há uma componente [no cinema] que é o convívio”. “É um dos motivos mais citados para ir ao cinema e ao teatro”. Por isso mesmo, acredita que a ida à sala de cinema “não vai ter repercussões”. 

Os recursos económicos mostraram-se também relevantes na frequência das salas de cinema. “Os indivíduos que frequentam, de forma mais regular, o cinema têm o ensino superior e auferem rendimentos entre os 1800 euros e mais de 2700 euros mensais”, lê-se no documento agora divulgado. Já os inquiridos com os rendimentos mais baixos, até 500 euros, “indicam nunca terem ido ao cinema nos últimos 12 meses”. 

Poucos livros, mas mais leitura online

“Um leitor de livros tem outra propensão para desenvolver outras práticas de leitura. Há uma correlação forte entre leitura e outras práticas culturais. Todos os investimentos feitos na sensibilização, no interesse, todas as iniciativas tomadas, no Plano Nacional de Leitura, nos media, etc., são bem-vindas”, diz José Machado Pais, sociólogo cultural, e um dos responsáveis pelo estudo que descobre um cenário pouco animador para o mercado livreiro: 61% dos inquiridos não abriram um livro nos últimos 12 meses, “muito menos, em formato digital”. O sociólogo sentencia: “A não existência de um Plano Nacional de Leitura traduziria um panorama para pior”. 

Para contrabalançar, a pandemia intensificou a leitura de livros, jornais e revistas online, sobretudo nas camadas mais jovens. 

Este retrato das práticas culturais em Portugal, que pode ser consultado online, está a ser apresentado esta quarta-feira num colóquio na Gulbenkian. O evento é transmitido em directo aqui.

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