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No teatro, Carolina Deslandes e Bárbara Tinoco fazem a revolução (com amor)

‘A Madrugada Que Eu Esperava’ dá a conhecer uma história de amor proibido que perpassa o 25 de Abril. Uma peça de teatro musical que pode ser vista até 27 de Abril, no Maria Matos.

Beatriz Magalhães
Escrito por
Beatriz Magalhães
Jornalista
A madrugada que eu esperava
Sebas Ferreira A madrugada que eu esperava
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Estamos em 1971, Olívia e Clara preparam-se para levar a palco uma versão musical de Romeu e Julieta. Francisco sonha ser actor de comédia e vê na peça a oportunidade de tomar o seu lugar no mundo do teatro. Perante um clima político em que a censura segue os passos de quem caminha entre os ideais da ditadura e de uma futura revolução, vemos nascer um amor improvável entre duas pessoas muito diferentes. A madrugada que eu esperava, encenada por Ricardo da Rocha, conta com música e interpretação de Carolina Deslandes e Bárbara Tinoco. Está em cena no Teatro Maria Matos até 28 de Abril. 

Sob o mote da Revolução de Abril, o texto ficou a cargo do escritor Hugo Gonçalves, a convite da dupla de cantoras. Tendo como pano de fundo “uma época de grandes paixões, muito rocambolesca, muito dramática”, o autor propôs contar uma história de amor proibido, tal e qual a de Romeu e Julieta. Olívia dirige um grupo de teatro amador e, através da arte, pretende dar voz a quem é oprimido pelo regime. Francisco quer ser actor de comédia, mas em casa espera-lhe um pai que faz parte da PIDE e que não apoia as suas aspirações artísticas.

A madrugada que eu esperava
Sebas Ferreira

Ela é uma idealista. Ele é um cínico. O que no início constitui um obstáculo entre eles, rapidamente se desvanece para dar lugar a uma paixão inesperada. “Através da história deles os dois e da sua história de amor, dos desencontros e encontros, queríamos contar uma história que fosse universal e que trouxesse à flor da pele as emoções e que as pessoas se identificassem com a história de amor deles também, mas nesta época, que foi uma época tão interessante”, conta Hugo Gonçalves, após um ensaio. Também para o encenador, Ricardo da Rocha, a peça passa uma mensagem importante – “o amor é como a democracia, são duas forças bastante fortes, mas bastante frágeis, que não são um fim, mas que estão em permanente construção”.

Em palco, os momentos musicais são complementados com uma banda que toca ao vivo. As músicas têm autoria de Carolina Deslandes e Bárbara Tinoco, para quem toda esta experiência foi uma novidade. “Escrever e fazer canções é uma coisa com a qual nós estamos familiarizadas, mas nunca sendo outra pessoa, uma personagem, um soldado, o Francisco ou dois pais com características familiares completamente diferentes e a música tem este poder que é pessoas completamente diferentes cantam a mesma canção, ao mesmo tempo, porque há muitos espaços nos poemas para nós nos revermos”, diz Carolina.

A madrugada que eu esperava
Sebas Ferreira

Uma das coisas que a peça tem de singular é o facto de Carolina Deslandes e Bárbara Tinoco interpretarem duas personagens, as irmãs Olívia e Clara. Consoante o dia em que a peça é apresentada, alternam os papéis. Parte do elenco, que conta com actores mais e menos experientes, foi seleccionado através de audições e todo o processo de criação da peça foi feito em torno da partilha de ideias e de forma “democrática e horizontal”, reflecte o encenador.

Dividida em três partes, a história de Olívia e Francisco atravessa mais de 50 anos. Em 1971, os dois conhecem-se, mas, no mesmo ano, separam-se. Francisco parte para a guerra e Olívia muda-se para Paris com a irmã e o pai. Em 1974, encontram-se em pleno 25 de Abril, sob a luz de uma madrugada mais esperançosa. Um ano depois, a vida dos dois parece vir a tomar rumos separados. No fim, os 50 anos da Revolução são celebrados e Olívia e Francisco tornam a reencontrar-se, de vida já feita. 

A madrugada que eu esperava
Sebas Ferreira

Para o encenador, o teatro e a arte, de maneira geral, também tem esta função de nos lembrar de como é que o mundo era, de como é que o mundo é, e sobretudo também de nos fazer pensar de como é que o mundo pode ser.” Também para Bárbara Tinoco, “50 anos depois, ainda é importante gritar ‘fascismo nunca mais’” – “para mim, a frase que resume mais o nosso espectáculo todo é ‘o direito da liberdade vem com o dever da memória’; para mim, este espectáculo é memória”, diz. “Este espectáculo é a lembrança do que é não ter liberdade, a lembrança do que é ser mulher.”

Teatro Maria Matos. 14 Fev-27 Abr. Qua-Sáb 21.00, Dom 17.00. 20€-25€

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