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Não foi a noite que se esperava, mas foi ainda assim melhor do que a edição do ano passado quando apenas dois restaurantes saíram premiados (o 100 Maneiras, de Ljubomir Stanisic, e o Eneko, do basco Eneko Atxa, ambos em Lisboa). Na gala do Guia Michelin para Portugal e Espanha, que aconteceu esta noite em Valência, foram cinco os restaurantes portugueses a conquistarem uma estrela. O maior destaque vai para o restaurante da Herdade do Esporão, em Reguengos de Monsaraz, liderado pelo chef Carlos Teixeira, que não só conquistou a primeira estrela como venceu uma estrela verde, pelo seu compromisso com a sustentabilidade. Em Espanha, foram premiados seis restaurantes.
Em Portugal, só houve mais uma estrela verde, atribuída ao Il Gallo d'Oro, na Madeira, do chef Benoît Sinthon, que mantém as duas estrelas Michelin. Esta foi a primeira vez que Portugal conquistou estrelas verdes, uma distinção criada no último ano numa tentativa de demonstrar a preocupação do guia pelas práticas sustentáveis na restauração.
Entre as novidades deste ano, está Pedro Pena Bastos que conquistou uma estrela para o Cura, no hotel Ritz – uma confirmação, já que o chef era apontado há algum tempo por muitos nomes do meio, o nosso crítico Alfredo Lacerda inclusive. Pena Bastos esteve três anos no Esporão, voltou a Lisboa com o Ceia, um restaurante na Graça que recebeu boas críticas, mas que acabou por não vingar depois da saída do chef em 2019. Em 2020, abria portas o Cura, um restaurante que, apesar de estar integrado no hotel, tem porta directa para a rua.
Se na capital não houve mais premiados, no Algarve há dois novos restaurantes com estrelas Michelin. Em Tavira, o chef Luís Brito, com mais de 30 anos de carreira, vê o seu A Ver Tavira, em plena zona histórica da cidade, ser distinguido. Já em Lagos, a Louis Anjos bastou-lhe seis meses no Al Sud, o novo restaurante de fine dining no Palmares Ocean Living & Golf, na zona de Lagos e da Meia-Praia, para conquistar uma estrela. Foi no final de 2020 que o chef anunciou a sua saída do premiado Bon Bon para rumar a este novo projecto.
A norte, só o Porto conseguiu uma nova estrela com o Vila Foz, restaurante de fine dining do Vila Foz Hotel & Spa, que Arnaldo Azevedo assumiu em 2019. Na carta do restaurante que fica no palacete do final do século XIX em plena Avenida Montevideu destaca-se essencialmente o peixe e o marisco da nossa costa – ou não estivesse virado para o mar.
Portugal somou, portanto, cinco novas estrelas – e não perdeu nenhuma. Em Espanha foram 27 os restaurantes a conquistarem a distinção (e um em Andorra). Espanha teve ainda quatro restaurantes a conquistaram duas estrelas. Este ano, não foram atribuídas quaisquer três estrelas.
Depois da gala desta noite, Portugal tem agora 33 restaurantes com o símbolo da excelência gastronómica.
“Os nossos inspectores desfrutaram especialmente da preparação da selecção de 2022, pelo impulso gastronómico que vive actualmente a Península Ibérica, e que se confirma ano após ano”, escreve em comunicado Gwendal Poullennec, director internacional dos Guias Michelin. “Em Portugal e Espanha, e apesar da complexa situação de 2021, surgiram muitos jovens talentos que defendem os seus inovadores e diversificados conceitos gastronómicos com personalidade. Uma tendência básica impõe-se em muitos estabelecimentos: a de valorizar ao máximo os produtos locais e as tradições – por vezes audaciosamente revistas – que deles derivam”, acrescenta ainda. “As nossas equipas também observaram que cada vez mais estabelecimentos mostram um maior interesse em oferecer uma cozinha mais preocupada com as questões do meio ambiente e da sustentabilidade. Não podemos se não congratularmo-nos e apoiar este movimento fundamental, ilustrado este ano com a atribuição de uma Estrela Verde a oito novos restaurantes especialmente comprometidos com estes factores.”
A edição deste ano teve ainda uma surpresa: o anúncio de duas novas distinções, o Michelin para o Cozinheiro Jovem, atribuído a Mario Cachinero, do restaurante Skina (Marbelha); e o Prémio Michelin para o Cozinheiro Mentor, entregue a Martín Berasategui, o chef espanhol com mais estrelas Michelin (12, uma delas conquistadas em Portugal no Fifty Seconds). E um momento especial quando antes da entrega dos prémios foram chamados ao palco os chefs distinguidos no ano passado, como forma de compensar a ausência de gala (em 2020 tudo aconteceu de forma virtual).
+ Leia a crítica de Alfredo Lacerda ao Cura, de Pedro Pena Bastos