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É o autor mais conhecido da língua portuguesa. Escreveu sobre Vasco da Gama e sobre os navegadores portugueses que cruzaram os mares até à Índia e também escreveu sobre o amor, os anseios e as preocupações em torno do mundo em que vivia, a natureza, a mulher, e sobre a vida enquanto poeta. Em 2024, celebram-se os 500 anos do seu nascimento e, para assinalar a data, A Barraca decidiu fazer uma peça de teatro sobre o homem por detrás de Os Lusíadas. No palco do CCB, ficaremos a conhecer Luís de Camões, desde os seus tempos de juventude em que se metia em lutas com fidalgos aos períodos que passou em Moçambique e na Índia.
Ainda estávamos a dois anos do quinto centenário do nascimento do poeta, quando Maria do Céu Guerra e Hélder Mateus da Costa se juntaram para escrever uma peça sobre Camões. Durante a pandemia, a investigação foi sendo feita, o texto foi-se escrevendo, até que Amor é um fogo que arde sem se ver estreou este ano, no dia 6 de Setembro, na Festa do Avante. E, desde início, o objectivo e vontade da companhia era mostrar Camões de uma forma que não costuma ser ensinado na escola.
“Isto é um projecto que quer dar a conhecer um Camões que os jovens na escola não são convidados a estudar. Portanto, tirar a poeira, tirar o cansaço e dar as partes mais difíceis, as partes mais interessantes”, começa por explicar Maria do Céu Guerra à Time Out. E também mostrar a dedicação do poeta para com o país e a língua portuguesa. “A sua paixão era fazer da língua portuguesa alguma coisa estudada e organizada. E foi ele que fez realmente a primeira grande obra em português de Portugal. Esse lado de Camões, apaixonado pela cultura portuguesa e pela língua portuguesa, é o que quisemos dar”, continua.
Quando o pano sobe, somos transportados para o que parece ser uma aula de português. Depois de entrarem a cantar poemas de António Botto e de Almada Negreiros, os alunos acabam por dizer o que todos estão a pensar: não querem ouvir o que Camões tem para dizer, tão-pouco lê-lo. Pelo menos, da maneira a que estão acostumados. É-lhes feita a vontade e, a partir daqui, começa uma viagem que nos leva por vários episódios da vida do poeta. Ora estamos na taberna em Alfama que ele frequentava, ora na Índia com Diogo Couto e Garcia de Orta. De Os Lusíadas também nos são apresentadas passagens, tal como a do Adamastor, em que uma tempestade se agiganta sobre os marinheiros.
Apesar do seu forte carácter biográfico, a peça não quer ser enfadonha nem pesada, por isso, entram em cena diferentes tipos de linguagens. Uma delas é a música, que inclui canções de José Afonso, por exemplo. Outros elementos são passagens de outros autores portugueses, entre eles Jorge de Sena e Sophia de Mello Breyner. Esta última é citada pela própria Maria do Céu Guerra, que numa cena interpreta a mãe de Luís de Camões.
E não é só das partes boas que se faz esta história. “É o Camões maltratado pelas instituições. A história do poder em Portugal tem sempre uma relação um bocado negra com os artistas e com os criadores e Camões foi uma das vítimas”, afirma a encenadora. Contudo, a ideia sempre foi chegar à última cena com Camões em toda a sua glória e, assim, chegamos ao fim com a Ilha dos Amores, em que o elenco se vê envolvido em flores, amor e libertação. “Queria que isto acabasse de uma forma positiva, bonita e poética. Queria um poeta que acaba por vencer, porque a poesia acaba por vencer. E vence porque a obra ganhou e porque a poesia tem a força de nos levar para outros mundos, que não são os mundos que se disputam no dia-a-dia.”
Depois de o pano descer, é isto que Maria do Céu Guerra quer dar a pensar aos espectadores. “O que é a vida, o que é a arte, o que é a relação da arte com a vida. E, como se diz, na poesia, na relação entre a verdade e a poesia, há um grande mal-entendido”, remata.
CCB – Centro Cultural de Belém. 29 Nov-1 Dez. Sex 20.00, Sáb 19.00, Dom 17.00. 12€-15€
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