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Nova comédia portuguesa presta homenagem a Peter Sellers. “Isto é de nível internacional”

‘Vive e Deixa Andar’ estreia pelo Natal. É um filme com Eduardo Madeira e um elenco recheado de caras conhecidas do grande público. Fomos a uma tarde de rodagem.

Renata Lima Lobo
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Renata Lima Lobo
Jornalista
Eduardo Madeira
©Armanda ClaroEduardo Madeira, em 'Vive e Deixa Andar'
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Nesta vivenda na Herdade da Aroeira não há paz nem sossego. Até 2 de Junho é o grande cenário da rodagem de Vive e Deixa Andar, uma comédia portuguesa realizada por Miguel Cadilhe a partir de um argumento de Filipe Homem Fonseca, ambos velhos amigos de Eduardo Madeira, o protagonista da longa-metragem. Uma produção da Filbox que conta com o apoio à produção da RTP, que irá emitir o filme cerca de um ano após a estreia nas salas de cinema da Lusomundo, o que está previsto acontecer por alturas do Natal.

A trama está ainda envolta em mistério, mas é certo que se trata de uma longa-metragem com comédia, acção e romance. O cenário onde praticamente tudo se passa é uma vivenda na rica Herdade da Aroeira, para onde se muda Lucas, o personagem principal, interpretado por Eduardo Madeira. “É o típico trapalhão, tem uma vida difícil, acabou de ficar desempregado, está prestes a ser posto na rua pelo senhorio que quer alugar a casa a uns franceses, num paralelo com a realidade. Depois acaba por vir aqui parar através de uma amizade do passado, e por viver aqui uma aventura incrível que é absolutamente inesperada com um desfecho ainda mais inesperado”, começa por explicar Madeira, numa tarde de rodagem. “Esta casa pertence ao pai de um amigo dos tempos de infância, ele não tem nada este universo. Aliás, é um amigo com quem não se cruzou assim tanto nos últimos tempos. Portanto, está num universo diferente do dele, uma coisa assim de sonho e vai ficar encarregue de tomar conta da casa, enquanto estão cá umas visitas”.

VIVE E DEIXA ANDAR
©Armanda ClaroOceana Basílio, Débora Monteiro, Eduardo Madeira e João Paulo Rodrigues, na rodagem de 'Vive e Deixa Andar'

Visitas que, desconfiamos, são as duas excêntricas influencers Diva e Diana, interpretadas por Débora Monteiro e Oceana Basílio, e a pacata Rosa, papel que coube a Joana Pais de Brito. “A Rosa tem um grau de parentesco com uma delas, mas eu não vou dizer”, diz a actriz que veste a pele da personagem que “vai criar uma ligação muito improvável com o Lucas”. “Pode até acontecer uma magia, um romance, quem sabe”, revela Pais de Brito, sem poder adiantar muito mais. Do elenco, também faz parte Dinarte de Freitas, actor português radicado nos Estados Unidos que tem passado cada vez mais tempo em Portugal após a sua prestação em Rabo de Peixe. Em Vive e Deixa Andar é Quintino, “a pessoa que põe ordem nesta casa e que vai ser disruptive, porque ele é inglês de nascença”, diz o actor. “O comportamento british, composto, calmo, é uma particularidade do povo inglês. E eu sou um gentleman. Portanto, tenho que manter essa calma, pelo menos aparente, até que a chegada das senhoras com a presença do Lucas vai, de certa forma, proporcionar momentos hilariantes entre mim, o Lucas e as divas”, adianta.

Além do elenco principal, Vive e Deixa Andar conta com várias participações especiais, entre elas a de Alexandra Lencastre, Ricardo Carriço, João Paulo Rodrigues, José Pedro Gomes, João Manzarra e até de Lili Caneças.

Os “absolutamente fanáticos” do Peter Sellers

A ideia partiu de Miguel Cadilhe (Curral de Moinas – Os Banqueiros do Povo) e “já vem de há muito tempo, de achar que o Eduardo [Madeira] tem o seu quê de Peter Sellers”, diz o realizador, referindo-se ao actor britânico, particularmente conhecido pelo Inspetor Clouseau nos filmes A Pantera Cor de Rosa. “No fundo, isto é muito slapstick [comédia física], acho que não houve um único dia de rodagem que não fizéssemos uma coisa de confusão e que não tivéssemos duplos a trabalhar”, descreve o realizador. Cadilhe que é amigo de longa data de Eduardo Madeira, tendo colaborado em projectos audiovisuais dos Cebola Mol, banda de Madeira e de Filipe Homem Fonseca, o argumentista desta produção (e de 1986, por exemplo).

“O Miguel teve essa ideia de uma situação muito específica. Depois, numa almoçarada já com o Eduardo, começámos a falar um bocado do que o filme podia ser. Fui para casa, escrevi uma primeira versão e em conversas com o Miguel fomos apurando até chegar a uma coisa filmável”, descreve o argumentista. “O filme também se vai transformando à medida que a rodagem avança, até pela escolha dos décors que depois inspiram outro tipo de situação. E como este filme tem um lado físico tão presente isso ainda é mais visível.” Homem Fonseca acrescenta ainda que nesta história estão “retratadas algumas personagens tipo da sociedade portuguesa contemporânea”.

VIVE E DEIXA ANDAR
©Armanda ClaroEduardo Madeira, Débora Monteiro, Filipe Homem Fonseca, Oceana Basílio, Dinarte de Freitas (em cima), Miguel Cadilhe, Joana Pais de Brito e João Paulo Rodrigues (em baixo)

Vive e Deixa Andar é, assim, a concretização de uma ideia antiga que volta a reunir os três velhos amigos. “Somos mesmo todos velhos amigos. Há talvez uns 20 anos que o Miguel me dizia que gostava de fazer uma história assim e assado, com uns certos pressupostos. Com os anos torna-se um mito, mas estamos finalmente a fazer ao fim deste tempo todo”, conta Eduardo Madeira, que recorda os tempos em que ele e Miguel Cadilhe eram “absolutamente fanáticos, mesmo cromos do Peter Sellers”. Mas faz uma ressalva: “O Miguel queria fazer essa homenagem ao Peter Sellers e eu também achava bem. A certa altura o que eu disse ao Miguel é que não iria fazer uma imitação, porque era disparatado, nem me iria aproximar muito. Ou seja, iria ser uma homenagem em certos momentos. Mas eu quero que seja uma coisa minha no sentido de ser eu a construir o personagem”. Até porque Eduardo Madeira considera Peter Sellers “irrepetível”: “Acho um disparate meter-me por aí”. Ao mesmo tempo, defende que este é “provavelmente” o melhor filme em que participou. “Eu olho para o guião, para a realização, produção, para todos os detalhes – e o diabo está nos detalhes – e penso: isto é de nível internacional”.

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