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A Companhia Nacional de Bailado estreia duas Novas Criações, em simultâneo, esta quinta-feira. Madrugada de Victor Hugo Pontes e Annette, Adele, e Lee, de Rui Lopes Graça e João Penalva.
Os espelhos tapados na sala de ensaios de Madrugada. Ideia de Victor Hugo Pontes, que, de regresso à Companhia Nacional de Bailado (CNB), quis fazer um espectáculo para estes 13 bailarinos, gente que por norma dança repertório, “coisas que muitas vezes não são feitas para eles”. “Quis fazer uma peça especificamente para eles e a partir deles. Eles dançam para os outros, ou com os espelhos e a olhar muito para fora, e eu queria o oposto: dança como se ninguém estivesse a ver, fecha os olhos e dança”. Mais tarde percebeu que esse lugar de abstracção do que nos rodeia acontece muitas vezes em contextos nocturnos, de madrugada, aonde vamos com uma ideia de corpo social e acabamos sozinhos, ainda que rodeados de muita gente.
Madrugada dá-nos 13 solos, 13 percursos entrecortados por interacções com os outros, seduções temporárias, minicoreografias nascidas da espontaneidade. Não sabemos bem onde estamos, sabemos que estamos no escuro, sabemos que há um carro, que há um quadrado de linóleo branco que se assume como “o lugar do jogo”. E depois, em seu redor, a penumbra, onde não deixa de existir vida, espasmos, solidão. É o visível e o invisível que tanto caracteriza a madrugada.
Bailarinos sem corpo
Também na criação de Rui Lopes Graça e João Penalva se joga com o invisível. O primeiro é coreógrafo, o segundo artista plástico com um passado ligado à dança contemporânea – tendo mesmo integrado a companhia de Pina Bausch entre 1973 e 74. Na sua segunda colaboração para a CNB (a primeira foi Quinze bailarinos e tempo incerto, de 2016), fogem à ideia de dança narrativa, é como que um exercício sem intenção de dizer linearidade discursiva.
Annette, Adele, e Lee são os nomes dos três bailarinos de sapateado invisíveis, que não estão aqui, e que David Cunningham (responsável pelo som do espectáculo) utilizou para obter a paisagem sonora desejada por Lopes Graça e Penalva, que começaram por pensar na ideia de percussão feita por bailarinos: “Criou-se uma situação em que os bailarinos foram gravados com dois microfones nos pés e dois mais altos, a partir de uma playlist feita por nós”, explica João Penalva. Só que isso é apenas o som sugerido para que bailarinos clássicos cumpram a sua linguagem, a coreografia de Lopes Graça. E lá volta a ideia do invisível: “O mais interessante é a ideia de que os bailarinos que se vêem não se ouvem, e os bailarinos que se ouvem não se vêem, essa ideia interessou-nos, de algo que é invisível, os bailarinos que dão nome à peça são nomes que não têm corpo, têm que ser imaginados”, conclui Penalva.
Teatro Camões. Qui-Sex 21.00. Sáb 18.30. Dom 16.00. 5-19€.
Madrugada
Coreografia e figurinos Victor Hugo Pontes
Música Original Rui Lima e Sérgio Martins
Annette, Adele, e Lee
De Rui Lopes Graça e João Penalva
Coreografia Rui Lopes Graça
Espaço Cénico e Figurinos João Penalva
Som David Cunningham