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Já havia sido falado muito antes, mas o projecto de reabrir o espaço verde junto ao centro comercial das Amoreiras tomou carácter oficial em 2017, ano em que a Epal (Empresa Portuguesa de Águas Livres) e a Câmara Municipal de Lisboa (CML) assinaram um protocolo para a sua recuperação. Os anos passaram e quem avistava o terreno próximo dos acessos à A5 deixou de se questionar, até ao anúncio do projecto em 2022, mais tarde estampado num outdoor no local. No lugar do grande reservatório de água gerido pela Epal, que chegou a servir para umas tacadas de golfe, nasceria um novo jardim de Lisboa. Tudo apontava para que acontecesse em 2023.
Não aconteceu. A inauguração deu-se no passado dia 30 de Março, sem grande pompa. O novo Jardim de Campo de Ourique faz-se de duas alas: uma com um passadiço que serve para encurtar o caminho entre os bairros de Campo de Ourique e das Amoreiras; e outra arborizada, com um parque infantil e um para cães, mesas de piquenique e um quiosque. Mas o grande espaço verde que sempre vimos do lado de fora, ao passar pelas ruas José Gomes Ferreira ou Carlos Alberto Mota Pinto, não é acessível. "A EPAL teve alguma reserva em ter pessoas em cima do terreno, já que por baixo existe o reservatório. Como não teriam como controlar o número de pessoas que entra no local nem a sua organização no espaço, optaram pela solução do passadiço", explica à Time Out o presidente da Junta de Freguesia de Campo de Ourique, Hugo Vieira da Silva, que tem acompanhado o processo nos últimos anos.

O acesso ao passadiço faz-se passando por um torniquete, que deixa de rodar depois de terem entrado as primeiras 50 pessoas (a lotação máxima, por questões de segurança), e a vista para o verde consegue-se nas brechas entre as ripas de madeira da estrutura. "Foi um compromisso que se conseguiu e quem vem encurtar a distância entre quem vem da Ferreira Borges e as Amoreiras", descreve o presidente. Mas não é um compromisso completo. O passadiço não é acessível a pessoas em cadeira de rodas ou a carrinhos de bebé, circunstância que Hugo Vieira da Silva diz esperar ver resolvida no futuro. "Com um algum engenho e criatividade é fazível", garante, assumindo que também seria preciso mexer na configuração da zona envolvente, dando mais protagonismo ao peão e menos ao automóvel. Há zonas em que "os passeios são exíguos e ainda têm postes de iluminação no meio", não deixando outra solução ao peão que a passagem para a rodovia.
Para entrar no jardim, há três possibilidades: uma dá para o bosquete ao lado dos acessos ao viaduto Duarte Pacheco e à A5 e duas vão directamente para o passadiço que atravessa a superfície acima do reservatório.
Do corta-mato à zona de estadia
A acepção de jardim caberá, por isso, mais ao bosquete junto à estrada do que à mancha verde sobre o reservatório. Era um local vedado à população, com árvores de grande porte, que foi agora reabilitado, ganhando lugares de estadia (o quiosque ainda não está em funcionamento). Quem vem do lado das Amoreiras precisa, ainda assim, de atravessar um caminho asfaltado e pouco agradável para lá chegar. Já na zona arborizada, o ruído dos automóveis é intenso, como sublinhou o Lisboa para Pessoas. Mas não há surpresas: este é um dos principais pontos de entrada na cidade.
Os próprios acessos ao jardim não são amigáveis. À volta, os passeios são estreitos, o automóvel reina na ambiência. Mas a nova ideia de jardim pode ter impacto na forma como pensamos o local, acredita Hugo Vieira da Silva.

"Para mim, ganhámos duas coisas: a zona do bosquete, com o quiosque e um parque infantil, e um novo caminho, seguro, que encurta distâncias", considera o presidente da Junta de Freguesia de Campo de Ourique. "Agora, há um conjunto de coisas que ainda hão-de melhorar", antevê o responsável, assumindo que "o espaço não está, de todo, como se queria ou até mesmo aceitável". Para o autarca, no entanto, a sua abertura continua a ser "uma boa notícia" e "uma pedrada no charco". "Há um mês e meio ninguém falava daquele espaço, agora temos as pessoas a discutir, a questionar, a reclamar. Reacendeu-se o debate público e há muitas coisas que têm de ser repensadas naquela zona. Sabemos perfeitamente que é uma das portas de entrada na cidade, mas não devíamos ter quase uma A5 a entrar pelo bairro. Queremos uma cidade para as pessoas e menos na lógica dos anos 80", remata Hugo Vieira da Silva.

Embora tenha aberto ao público, o Jardim de Campo de Ourique ainda não está concluído, com a segunda fase das obras (já arrancaram, mas terão parado por questões relacionadas com o empreiteiro, tendo sido entretanto lançado novo concurso público, segundo explicou o presidente da Junta à Time Out) a incidirem sobre o edificado. Ali vai existir uma cafetaria, um auditório e a Academia das Águas Livres, um espaço dedicado à formação.
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