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Somos cabeças de vento, dizem-nos. Andamos distraídos, esquecidos do bom que é estar neste planeta. Sair à rua, respirar ar puro, viver com todos os sentidos – desfrutar da terra nos pés, dos cheiros das flores, do espanto das paisagens. Mas não faz mal, também dizem que este é o momento, que chegou a hora de encontrar o espaço que há dentro de nós. Com lançamento previsto para 25 de Fevereiro, em formato de livro ilustrado, com código QR para o respectivo áudio, Cabeças de Vento, o novo projecto musical de Gonçalo Pratas e Inês Pupo, não só convida as famílias a desconfinar no meio da natureza, como promove a consciência ambiental entre todas as idades. A estreia em concerto está marcada para 27 de Fevereiro, às 11.00, no Teatro Maria Matos.
“Como estivemos confinados durante muito tempo, ocorreu-nos esta ideia de que os mais novos, sobretudo as crianças nascidas neste período, têm vivido uma parte considerável da sua vida de máscara e com menos contacto com o ar livre. Tem sido de facto uma experiência nova e fez-nos pensar muito sobre a necessidade de sair para a rua e respirar”, partilha ao telefone Inês Pupo, responsável pelas letras das canções musicadas por Gonçalo Pratas, com quem tem assinado muitas outras criações para a infância, como o Galo Gordo, que anda a alegrar famílias há mais de dez anos. “Por outro lado, tem-se vindo a acentuar em nós, como em toda a humanidade, esta preocupação com o planeta”, continua. “Tentámos abordar o tema de uma maneira não propriamente pedagógica mas sobretudo como um ponto de partida inspirador, para querer conhecer de perto o que nos rodeia.”
Com a participação de Inês Pupo (voz), Gonçalo Pratas (voz e guitarra), Alexandre Ferreira Alves (bateria), António Quintino (contrabaixo), João Fragoso (bandolim e guitarra) e Malu Garcia (violino), o folk-rock de Cabeças de Vento, financiado pelo programa Garantir Cultura, leva-nos numa viagem sensorial por quase todos os lugares do mundo. A acompanhar, as ilustrações de Ricardo Machado e as fotografias de Inês Pupo desenham desde campos cheios de amoras, onde as horas passam devagar e fazemos só o que apetece, a plácidas montanhas com riachos saltitantes que nos acalmam sedes antigas. Neste livro – e nestas canções – não temos relógio, andamos descalços ou com botas para gastar a sola em voltas aventureiras. Respiramos e o dia acontece, debaixo de um céu azul e com pontos cardeais a postos para todas as partidas e chegadas que desejarmos fazer.
Com simplicidade e sensibilidade, os poemas de Inês Pupo descrevem as belezas naturais deste planeta-casa e incentivam à acção, promovendo uma relação saudável com os diferentes ecossistemas e os seres vivos que neles habitam. “Quando escrevo sobre a natureza, sou de facto invadida por memórias, sensações, percepções, que têm tudo a ver com os sentidos. É assim que absorvemos a natureza. Quando relembramos um momento ao ar livre, uma caminhada na serra, um mergulho na praia, tudo isso vem cheio de sensações, imagens, sons e aromas”, diz Inês. “É importante estabelecermos essa relação emocional com o espaço natural e questionarmos a nossa presença e o nosso impacto”, acrescenta Gonçalo Pratas. “Quando a natureza nos invade, é completamente avassalador. Na vida urbana, por causa da forma como o mundo se organizou, é-nos retirada essa ligação mais primária.”
Dos oito aos 80, é importante libertar tempo para contemplar e “provar o mundo”. Sim, provar, insiste Inês, lembrando como as crianças usam todos os seus sentidos para descobrir as coisas. “Com as mãos, com a boca”, provoca a escritora, entre risos. “Ao crescer, ficamos mais cautelosos, mas se de repente nos confrontamos com um momento desses, somos outra vez pequeninos. Por exemplo, num pinhal, com o cheiro e o som das agulhas a partir debaixo dos nossos pés. É maior do que nós e é difícil explicar, mas temos um bocadinho a ilusão que mandamos em tudo e há sítios que nos fazem perceber que somos só uma partícula insignificante. Curiosamente, em vez de ser mau, é libertador”, remata Inês, que anseia agora por uma sala cheia no Teatro Maria de Matos, onde além de cantar também tocará ukelele. Por enquanto, já é possível ouvir no Spotify duas das dez canções de Cabeças de Vento: “O Teu Passo É Forte” e “100%”.
Teatro Maria Matos. Dom, 27. 11.00. 8€
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