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A localização pode, à primeira vista, desmotivar uma ida propositada ao Santos, o restaurante que marca a mudança de vida do casal José e Maria João, mas não se deixe intimidar. A Abrunheira, em Sintra, não fica assim tão longe quando à sua espera está um repasto farto e caseiro. Escondido numa zona industrial, no Santos não precisa de se preocupar com nada. Estacionamento há sempre e a comida chega à mesa sem que precise de escolher.
O preço é fechado, 20€, e inclui couvert, entradas, prato de carne e prato de peixe, sobremesa e bebida à discrição. No final, há ainda um medronho para o caminho. O casal não esconde que a inspiração para este projecto vem do Sítio de Gente Feliz, em Oeiras, de Miguel Gonçalves, embora não se queira comparar, até porque ainda agora estão a começar.
Foi em Novembro que abriram portas aqui, depois de os filhos e os amigos dos filhos os incentivarem. José foi motorista toda a vida. Maria João é cabeleireira e ainda hoje mantém um salão no Lumiar.
“Cada vez que os meus filhos ou os amigos dos meus filhos iam lá casa comer diziam que tinha de abrir um restaurante, porque a minha comida era óptima e ia fazer sucesso”, conta Maria João, orgulhosa. O gosto pela cozinha herdou da avó, “uma mão cheia para a cozinha”. E ainda hoje recorda o primeiro prato em que se aventurou: rissóis de pescada com arroz de cenoura.
Foi num aniversário do filho, em que este lhe pediu que cozinhasse uma feijoada de choco para 70 pessoas, que Maria João percebeu que se calhar ter um restaurante não seria uma ideia assim tão disparatada. “Nunca tinha cozinhado para tantas pessoas e foi um sucesso”, diz.
A ideia foi maturando, sem que se tivesse iniciado uma corrida à procura de um espaço – se bem que os filhos não desistiram da ideia e não descansaram até que o sonho se materializasse. Foi na Abrunheira que descobriram que um restaurante que um amigo frequentava iria fechar. “Puseram-se todos em campo”, conta Maria João. E aconteceu.
O sítio até pode ficar fora de mão, admitem, mas também por isso fizeram um restaurante para se estar, sem qualquer pressa.
“Não corremos com ninguém”, garante José, destacando ainda a esplanada com 40 lugares e a sala privada para grupos maiores. O restaurante só funciona aos almoços de segunda a sexta-feira, mas não há porta que o casal feche. Jantar? É possível. Almoço no fim-de-semana? Também. Músico ao vivo ou karaoke? Tudo se arranja. Tudo se faz para ter clientes felizes.
Na mesa, a garantia é a de cuidado e qualidade. Maria José faz questão de não só nos explicar a receita de cada prato, como de nos falar das suas idas ao mercado. “Eu compro tudo fresquinho”, diz.
O menu muda todos os dias e, por norma, repete-se semanalmente. Às segundas-feiras, costuma ser dia de favas com entrecosto e choco à algarvia. Às terças, bochechas de porco e massada de peixe, e às quartas come-se galo caseiro estrugido e pataniscas com arroz de tomate. Quinta-feira, há moqueca de peixe. Às sextas, Maria José destaca o entrecosto caramelizado e a feijoada de choco. Isto falando de pratos principais, porque antes disso são sempre servidas entradas, dos croquetes de alheira aos ovos rotos com batata frita caseirinha ou o choco frito. Para sobremesa, também é costume haver escolha, entre o pudim ou o cheesecake de frutos vermelhos não ficará mal servido.
A bebida é à discrição e José não deixa ninguém vir embora sem provar o medronho que traz do Algarve, onde o casal tem uma quinta – é, aliás, daqui que chegam muitas das verduras.
“Quero que as pessoas saiam daqui e que não vão ali fora dizer mal disto. Ai, isso é que não”, atira José, voltando a frisar como no Santos “é tudo escolhido a dedo para as pessoas sentirem que estão a comer aquilo que gostam e que há qualidade”. E que ninguém se assuste se achar que a comida é muita, “se sobrar, levam para casa”, avisa Maria João, lembrando um mantra que sempre ouviu: “mais vale sobrar que faltar”. E aqui não falta nada.
Zona Industrial Abrunheira Quinta Lavi (Sintra). 93 888 6089. Seg-Sex 08.00-17.00
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