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‘Nympho Maniac’: Aurora Pinho como nunca a vimos

A artista e performer apresenta o seu novo trabalho, ‘Nympho Maniac’, na Rua das Gaivotas 6, de quarta a sexta-feira. Fazemos as apresentações.

Escrito por
Mariana Duarte
Palco, Performance, Nympho Maniac, Aurora Pinho
©DRAurora Pinho em Nympho Maniac
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Na primeira fase da pandemia, Aurora Pinho passou uma temporada na Noruega em residência artística. Foi lá que desenvolveu uma boa parte de Nympho Maniac, que por estes dias se estreia na Rua das Gaivotas 6, em Lisboa. Segundo a própria, este trabalho “é uma espécie de renascimento”. E, simultaneamente, “um manifesto de empoderamento” sobre o material que tem vindo a criar nos diferentes espaços em que transita: da música à performance, do vídeo ao teatro, da dança ao trabalho de figurinos. “No fundo, é uma mescla das várias peças que eu fui desenvolvendo, mas apresentadas numa nova versão”, diz a artista multidisciplinar, comparando o processo de criação ao de Aurora de Areia (2018), onde também entrelaçava vários pedaços dos seus trabalhos, reconfigurados a partir da sua autobiografia no aqui e agora.

Esta nova performance não se trata, contudo, de um best of. Além dos vários dispositivos que Aurora Pinho activa em cena – incluindo música ao vivo, centrada no seu último álbum, Flesh Against Flesh –, Nympho Maniac traz outros vocabulários coreográficos. Mais concretamente as danças urbanas, que foram uma das primeiras paragens do percurso de Aurora enquanto bailarina e performer. O movimento é, aliás, um dos pontos de ruptura deste trabalho, e todo esse re-perspectivar está intimamente ligado às suas vivências enquanto mulher trans num corpo em desconstrução e construção. “Isto é muito o meu renascimento depois de um processo de violência na minha última operação. Acho que a peça é a Aurora agora, neste lugar, depois de uma luta extensa e em que eu transformo essa violência em força”, descreve. “Comecei a analisar as coisas de uma forma diferente porque finalmente me sinto no meu corpo e me sinto viva. E claro que o meu próprio movimento mudou por causa disso.”

Se antes havia uma raiva à flor da pele, diz Aurora, agora essa raiva como que foi transformada numa interface que está sob o seu controle e sobre a qual o seu corpo se sente “totalmente seguro”. “Antes eu sentia uma ânsia de deitar as coisas cá para fora, mas era tão intenso que eu nem as processava. Agora eu controlo tudo. Sei onde vou atacar, onde recuar. É ver a Aurora de uma forma diferente de como viram até hoje porque esse lugar nunca tinha existido, só agora é possível.” O período de confinamento, aliado à estadia na Noruega, permitiu também abrir caminho para este “reset”. “Permitiu-me ir às questões que eu achava que estavam resolvidas mas não estavam, desde a minha infância a processos com a minha família e com o mundo binário”, assinala. O facto de ter tido mais tempo do que o habitual para conceber esta peça fez também com que “aprofundasse todas as questões interiores” que a revoltavam e se “curasse de uma outra forma”.

Apesar de se poder considerar Nympho Maniac um solo, em que Aurora é responsável por todos os elementos, no momento final há espaço para uma convidada: a artista brasileira Rezm Orah, que também participa em Flesh Against Flesh e que aqui fará a ponte para Jogo da Bixa, uma futura peça em que ambas estão a trabalhar, juntamente com Jaja Rolim e com estreia agendada para 2022. Por enquanto, foquemo-nos no presente – e vejamos Aurora Pinho como nunca a vimos.

Rua das Gaivotas 6. Qua-Sex 19.00. 7€.

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