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O Alkantara Festival vai procurar outros futuros a partir de sexta-feira

Faustin Linyekula, Sorour Darabi, Nadia Beugré e a Cão Solteiro são alguns dos nomes do Alkantara Festival este ano. Dizemos-lhe o que não pode perder.

Escrito por
Mariana Duarte
Palco, Teatro, Performance, Cutlass Spring, Dana Michel
©Jocelyn MichelCutlass Spring de Dana Michel
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A edição de 2020 do Alkantara Festival captura um mundo em ebulição e transformação, à procura de “construir outros futuros”. Futuros mais integradores e plurais, futuros menos eurocêntricos e falocêntricos – na sociedade, na política, na ecologia, nas artes.

De sexta-feira 13 a domingo 29, entre o Centro Cultural de Belém, a Culturgest, o São Luiz – Teatro Municipal, o Teatro do Bairro Alto no Lux e o Teatro Nacional D. Maria II, artistas nacionais e internacionais vão ensaiar alguns desses futuros possíveis, num programa que quer lançar muitas perguntas, mas também “encontrar respostas” que permitam acelerar o passo para chegar a um mundo “mais representativo da diversidade de corpos e subjectividades”, escrevem Carla Nobre Sousa e David Cabecinha, directores artísticos do festival, no editorial/carta de intenções da edição deste ano.

Assumindo fazer parte do problema – e da solução e respectiva responsabilização –, a direcção artística do Alkantara reuniu 20 espectáculos e projectos artísticos que propõem diferentes olhares sobre as narrativas da História, sobre a língua e a cultura, sobre o género, sobre o sexo e as dinâmicas de poder, sobre a violência ecológica, sobre as artes performativas… Os assuntos são muitos, e necessários. A começar pelas performances, conversas e partilha de processos de pesquisa da Terra Batida, uma rede de intervenientes das áreas da dança, das artes visuais, do cinema, da ciência e do activismo de várias regiões de Portugal, do Alentejo a Aveiro, que procura pensar e agir sobre problemáticas ambientais e sociais como a agricultura superintensiva e o trabalho migrante, ou o tráfego portuário e a subida do nível dos mares. Joana Levi, Marta Lança, Rita Natálio, Sílvia das Fadas e Vera Mantero são algumas das artistas e investigadoras deste projecto, que de 15 a 27 de Novembro vai ocupar o São Luiz.

Ainda no São Luiz, a 17 e 18, atenções redobradas para Tafukt, solo em estreia absoluta do bailarino e coreógrafo marroquino Radouan Mriziga. Esta é o primeiro capítulo de uma trilogia centrada nas semânticas e nas mitologias do povo Imazighen, do Norte de África, reflectindo sobre os mecanismos de poder na produção e reprodução de conhecimento. Questionar os vazios da História e abrir outros arquivos é também o que faz a artista visual palestiniana Dina Mimi na conferência-performance Grinding The Wind (24 a 27 no D. Maria II), cujo ponto de partida para falar sobre o controlo do corpo no colonialismo é a história do seu bisavô, sujeito a testes médicos num hospital militar israelita em 1969.

Palco, Performance, Sorour Darabi, Farci.e
©DR


Pela primeira vez em Portugal, Nadia Beugré, coreógrafa nascida na Costa do Marfim, apresenta no D. Maria II, a 26 e 27, a peça L’Homme Rare, em que cinco bailarinos baralham estereótipos de género e desafiam o olhar europeu sobre corpos não-brancos. As separações impostas entre masculino e feminino são também abordadas em Farci.e, um monólogo quase sem palavras dx coreógrafx iranianx Sorour Darabi sobre o binarismo da língua francesa (e não só), em contraponto com a iraniana, em que não existe distinção entre “ela” e “ele”. Para ver entre os dias 19 e 21 no Lux, a casa temporária do Teatro do Bairro Alto, onde o Alkantara irá levar também, a 25 e 26, Dana Michel com Cutlass Spring, “simultaneamente um manifesto e uma reflexão acalorada” sobre a identidade sexual da artista, a pornografia e as representações dominantes do desejo.

Entre os nomes internacionais, há ainda Eszter Salamon com Still Dance for Nothing, peça em estreia absoluta em que a coreógrafa volta a revisitar o seu trabalho, desta feita em colaboração com a artista portuguesa Vânia Doutel Vaz (13 a 15 na Culturgest). Nos portugueses, destaque para a Cão Solteiro & André Godinho, que exploram a possibilidade de fazer teatro fora do teatro em Heading Against The Wall, espectáculo apresentado em duas versões distintas (uma para ver em casa, em streaming, e outra para ver ao vivo no Lux nos dias 13 e 16) e para Cláudia Dias, com Sexta-Feira: O Fim do Mundo… Ou Então Não, o novo capítulo do ciclo Sete Anos Sete Peças, em desenvolvimento desde 2016 (17 a 20 no D. Maria II).

Teatro, Cão Solteiro, Heading Against the Wall
©DR


Fora dos espectáculos, vale a pena acompanhar a conversa Representatividade Negra nas Artes Performativas: Significados, Limites e Políticas de Acção Afirmativa, moderada pela poeta, performer e investigadora Raquel Lima. Será transmitida online no site oficial do festival no dia 28, pelas 15.00.

Lisboa, vários locais. 13 de Nov (Sex) a 29 de Nov (Dom). Programação completa em alkantara.pt

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