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O artesanato açoriano chegou ao Depozito

Ao fim de quase dez anos, a Residência de Artesanato da Região dos Açores (RARA) chega a Lisboa. No Depozito, no Intendente, há várias peças em exposição – e algumas podem até ser compradas.

Beatriz Magalhães
Escrito por
Beatriz Magalhães
Jornalista
RARA açores
© Mariana LopesRARA
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Após nove edições, a RARA (Residência de Artesanato da Região dos Açores), marca desenvolvida através de residências artísticas nos Açores, chega ao continente. O projecto tem como curador Miguel Flor e dá agora um ar de sua graça no Depozito, que tem uma selecção de peças em exposição desde 29 de Setembro. Algumas estão para venda. 

Na zona do Desterro, perto do Intendente, o Depozito estende-se por um espaço de 500 metros quadrados, onde são bem-vindos apenas produtos portugueses. A área da antiga fundição quer ser mais do que uma loja de artesanato: pretende ser um lugar privilegiado para investigação, com cursos, conversas e oficinas, de forma a estabelecer o contacto e transmissão de saber entre todos. Catarina Portas, proprietária do Depozito (bem como das lojas A Vida Portuguesa), conta, em conversa com Miguel Flor e alguns artesãos e designers, a propósito do lançamento da RARA, que a loja “nasceu de duas partes que se complementam” – por um lado o artesanato tradicional, por outro uma parte coordenada pela Portugal Manual, que introduz novos artesãos portugueses à cena do artesanato contemporâneo.     

À entrada da imensa loja, a RARA toma lugar central. A exposição conta com peças produzidas ao longo dos nove anos de residências, em que se destacam algumas peças do catálogo de 2023, incluindo uma selecção de objectos que resultaram da 9.ª edição, que aconteceu entre 17 e 29 de Julho, em Vila do Porto, na ilha de Santa Maria. Ao contrário desta, as oito edições anteriores realizaram-se em São Miguel. Durante a conversa de apresentação, Aida Barros, artesã mariense que participou pela primeira vez no projecto, revela que aceitou de imediato o convite, destacando que “é sempre bom ter estas experiências e passar os seus conhecimentos para outras pessoas”.

Tanto ligadas às necessidades domésticas e agrícolas, como decorativas, as peças artesanais açorianas privilegiam a exploração de diferentes materiais orgânicos, tais como o barro e a lã, cruzando a utilização de técnicas tradicionais com diferentes modelos conceptuais. No campo das fibras vegetais, destaca-se o vime, utilizado nos "Cestos de Pedra", desenhados, em 2021, por Eneida Lombe Tavares e João Xará, e feitos em colaboração com Alcídio Andrade, que, juntamente com o pai João Andrade e Aida Barros, é dos poucos artesãos que ainda trabalham este material. O nome das peças, que se encontram para venda, vem do facto de serem usadas pedras de basalto para dar corpo aos cestos, explica João Xará. Já Os Potes, fruto da colaboração entre os designers Ivo Oliveira Rodrigues e as artesãs Aida Barros e Marina Mendonça, fazem parte da colecção deste ano e, além das tampas produzidas em vime, são feitos em grés.

rara cestos de pedra
© Mariana LopesCestos de Pedra

  

A "Laranja Pendular", disponível para venda, inclui a criptoméria japónica, madeira de tom claro avermelhado, textura macia, e surpreendentemente leve e resistente à humidade. Desenhada pelo estúdio Macheia, fundado por Lucrezia Papillo e Iany Gayo, e produzido por Horácio Raposo e Alcídio Andrade para a RARA 2022, a peça remonta à história da árvore, introduzida nos Açores em meados do século XIX. A sua madeira era usada para fazer caixas de transporte de laranjas, uma das primeiras exportações do arquipélago.

rara laranja pendular
© Mariana LopesLaranja Pendular

Também as "Baleias", produzidas na residência de 2016, pelo Pedrita Studio em colaboração com o artesão Horácio Raposo, são de criptoméria. Rita João, co-fundadora do estúdio de design, conta que a ideia por detrás das peças surgiu porque, enquanto estavam nos Açores, o seu filho estava sempre entediado e, por isso, ela decidiu fazer-lhe uma baleia para ele brincar. Tendo em conta que faz parte do imaginário açoriano, para a designer fez sentido produzir um conjunto de peças com a forma do animal, que também está disponível para venda.

rara baleias
© Miguel FlorBaleias

      

A RARA nasce no âmbito da associação cultural Anda&Fala, fundada em 2011, a par com a primeira edição do Walk&Talk, Festival de Artes dos Açores. Criada em 2014, constitui residências artísticas de design e artesanato, que acontecem anualmente, complementando a comercialização dos produtos resultantes destas, com o objectivo de valorizar e inovar a produção artesanal local açoriana, já que a receita permite promover a actividade dos artesãos e validar a continuidade das residências.

Ao longo das várias edições, a residência contou com a participação de 26 colectivos de sete nacionalidades e de 15 artesãos, o que resultou na concepção de cerca de 205 protótipos – 53 estão no catálogo de produção da RARA.

Depozito, Rua Nova do Desterro, 21. Qua-Dom, 11.00-19.00

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