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Realizados quase 30 anos depois do final da II Guerra Mundial de Munique, os Jogos Olímpicos de Munique de 1972 foram realizados sob o signo do slogan “Os Jogos da Serenidade”. A Alemanha queria proporcionar um grande espectáculo ao mundo e, através dele, mostrar que continuava, consistente e diligentemente, o seu processo de recuperação da devastação, dos traumas e também da culpabilidade colectiva associada àquele grande conflito. Talvez por isso, e para apagar a imagem propagandística e a envolvência marcial dos Jogos Olímpicos de Berlim de 1936, que decorreram durante o regime nacional-socialista, a segurança foi descurada na Aldeia Olímpica e as autoridades alemãs não estavam preparadas para o que aconteceu.
Na madrugada do dia 5 de Setembro, um comando de oito membros da organização terrorista palestiniana Setembro Negro infiltrou-se na Aldeia Olímpica, matou dois membros da equipa olímpica de Israel e fez nove outros reféns. Os terroristas exigiam a libertação de um conjunto de palestinianos e alguns não-árabes ligados a movimentos armados de extrema-esquerda, das cadeias israelitas. Todas as tentativas de negociação e de troca dos atletas reféns por personalidades alemãs falharam. No dia 6 de Setembro foi oferecido um avião aos terroristas, para irem com os reféns para o Cairo. A tentativa de resgate destes no aeroporto militar onde o avião se encontrava, falhou, redundando num massacre em que morreram todos os reféns, um polícia alemão e cinco dos oito membros do comando do Setembro Negro.
Em 2005, Steven Spielberg realizou Munique, que conta a história da perseguição e eliminação pela Mossad, os serviços secretos israelitas, dos responsáveis pelo sequestro. Agora, O Atentado de 5 de Setembro, uma produção germano-americana realizada por Tim Fehlbaum, adopta uma outra perspectiva. Os Jogos Olímpicos de Munique de 1972 foram os primeiros a ser transmitidos via satélite em directo para todo o mundo. O filme recorda a tragédia centrando-se na equipa de jornalistas desportivos da estação americana ABC, cujos editores decidiram não entregar a emissão à sede nos EUA e aos especialistas em política internacional da sua redacção, e ficaram a cobrir os acontecimentos com os meios de que dispunham à altura.
![O Atentado de 5 de Setembro](https://media.timeout.com/images/106242450/image.jpg)
Fehlbaum, que também escreveu o argumento com Alex David e Moritz Binder, recria o jornalismo tal como se fazia nesse ano de 1972, quando tudo era ainda analógico, em papel e manual, e nem sequer se sonhava com a Internet, as comunicações digitais, as redes sociais e a informação em contínuo e em directo. Os jornalistas e técnicos da ABC, e a sua tradutora alemã, Marianne, que lhes vai servir também de precioso contacto e de “antena” com os media locais, têm que dar asas à imaginação, e improvisar a todo o pé de passada (um deles, inclusivamente, vai fingir ser um atleta dos EUA para levar bobinas de filme aos colegas que desobedeceram às ordens de evacuação da polícia alemã e ficaram escondidos num prédio da Aldeia Olímpica, a filmar com uma câmara portátil e a relatar o que se passa), para conseguirem manter a emissão no ar e ter exclusivos sobre o que está a acontecer na Aldeia Olímpica, e na zona desta onde estão alojados os atletas de Israel sequestrados pelos terroristas.
Interpretado por Peter Sarsgaard, Ben Chaplin, John Magaro e Leonie Benesch, entre outros, O Atentado de 5 de Setembro recorre a muitas imagens feitas na época, e também, para uma maior autenticidade, a material físico de então ainda existente, e passa-se quase todo nos estúdios montados pela ABC em Munique. O que, nas palavras do realizador, “transmite a atmosfera claustrofóbica que lá se vivia e faz com que a fita em si pareça uma reportagem”. Tim Fehlbaum aproveita ainda para deixar subentendidos na narrativa temas que mais tarde seriam muito discutidos, como a informação que arrisca ser transformada em espectáculo, a tentação do sensacionalismo, ou que mostrar ou omitir em acontecimentos como este, captados em directo e contínuo (caso de mortes ou execuções). Ou ainda questões como a confirmação e reconfirmação por fontes credíveis das informações, antes de irem para o ar ou serem publicadas, sob a pressão ou com a ânsia de as dar primeiro e ter a “cacha”.
![](https://img.youtube.com/vi/Zo7gzO99x7U/sddefault.jpg)
Não é por se passar há mais de 50 anos que O Atentado de 5 de Setembro (a fita está candidata ao Óscar de Melhor Argumento Original) não deixa de ser relevante para os nossos tempos. Tudo pelo contrário.
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