Notícias

‘O Brutalista’: a saga americana de um arquitecto europeu

Realizado por Brady Corbet, ‘O Brutalista’ conta a história de um arquitecto húngaro refugiado nos EUA após a II Guerra Mundial. A fita foi premiada no Festival de Veneza e nos Globos de Ouro, e está nomeada para dez Óscares.

Escrito por
Eurico de Barros
O Brutalista
DRO Brutalista
Publicidade

Depois de ter conquistado o Prémio de Melhor Realização no Festival de Veneza e os Globos de Ouro de Melhor Filme Dramático, Realizador e Actor, O Brutalista, de Brady Corbet (Vox Lux) foi agora nomeado para dez Óscares. O filme vem juntar-se a vários outros sobre arquitectura, ou que têm um arquitecto como principal protagonista, como é o caso de Vontade Indómita, de King Vidor (1949), baseado no livro The Fountainhead, de Ayn Rand, e sem dúvida o melhor de todos deste género; A Barriga de um Arquitecto, de Peter Greenaway (1987); O Arquitecto, de Matt Tauber (2006); o igualmente intitulado O Arquitecto, de Jonathan Parker (2016); ou, mais recentemente, Megalopolis, de Francis Ford Coppola. 

Adrien Brody interpreta László Tóth, um talentoso arquitecto húngaro que estudou na Bauhaus, sobreviveu à II Guerra Mundial e aos campos da morte nazis, e chega aos EUA em 1947 como refugiado, tendo deixado para trás a mulher, Erzsbéth (Felicity Jones), e uma jovem sobrinha órfã, Zsófia (Raffey Cassidy), retidas pela burocracia soviética. Tóth é acolhido por um primo que vive confortavelmente com a mulher em Filadélfia, e tem que se resignar a trabalhar na empresa de móveis daquele, fazendo tarefas que pouco ou nada têm a ver com a sua formação e o seu enorme valor profissional.

A sua situação muda quando conhece o rico e esclarecido Harrison Van Buren (Guy Pearce), homem com interesses artísticos e bom gosto, que lhe encomenda um arrojado edifício modernista, misto de biblioteca, teatro, capela e ponto de encontro comunitário; e consegue também que a mulher e a sobrinha do arquitecto venham juntar-se a ele, oferecendo-lhes alojamento numa casa na sua vasta propriedade, enquanto durar a construção. Mas pouco a pouco, Van Buren vai mostrar-se cada vez mais arrogante, condescendente e autoritário, entrando em colisão com a inflexibilidade, o feitio e a visão do arquitecto, que se mostra inabalavelmente intransigente quanto a fazer qualquer tipo de alteração ao seu projecto. Este conflito com o seu patrono vai também afectar a relação de Tóth com a mulher e a sobrinha, e agravar a dependência da heroína que trouxe da Europa.

Além do tema da intransigência do artista que não abdica da sua visão nem da sua integridade face às pressões de quem lhe exige cedências e compromissos na criação da sua obra, O Brutalista trata ainda temas como o choque de pontos de vista, de concepções estéticas e de propósitos utilitários entre os mecenas e os artistas que beneficiam do favor e do dinheiro destes, a experiência dos imigrantes e dos refugiados (judeus, no caso de O Brutalista) nos EUA (do pós-guerra, nesta história), ou ainda os preconceitos e o anti-semitismo existentes na sociedade americana na época em que decorre o enredo. 

O filme tem uma duração invulgarmente grande (215 minutos) e inclui mesmo um intervalo de 15 minutos. Brady Corbet escolheu rodá-lo num formato há muito não utilizado, o VistaVision, criado em 1954 e que implica a rodagem em 35mm e a sua posterior exibição em 70mm. A ideia do realizador foi que o formato cinematográfico correspondesse ao tom épico da saga pessoal, familiar e criativa vivida pelo herói de O Brutalista, mas também que a fita, passada na sua maior parte nas década de 40 e 50, utilizasse um sistema técnico que foi concebido nessa mesma altura. (Refira-se que Paul Thomas Anderson também recorreu ao VistaVision no seu novo filme, o thriller The Battle of Batkan Cross, com estreia prevista para Agosto próximo). Resta agora a Brady Corbet saber se, depois de Veneza e dos Globos de Ouro, O Brutalista vai também ter as preferências da Academia de Hollywood.

🍿 Filmes e séries para 2025 – leia grátis a nova edição da Time Out Portugal

🏃 O último é um ovo podre: cruze a meta no Facebook, Instagram e Whatsapp

Últimas notícias

    Publicidade