[title]
João Simões de Almeida, 31 anos, quis ser editor de vídeo e imagem, mas não teve a vida facilitada. “Tive estágios, mas depois foi difícil. Ninguém me aceitava e já estava a começar a ficar farto, mas não sabia o que fazer”, conta-nos. Agora, é o responsável pela caixa no novo Café Joyeux, que acaba de abrir ao público e emprega pessoas com dificuldades intelectuais e de desenvolvimento. “Quis ter a oportunidade de trabalhar aqui e não só receber ajuda na área da restauração, mas com intenção de ajudar também as outras pessoas como eu a trabalhar nesta área”, acrescenta.
Este café-restaurante é um projecto solidário vindo de França, onde já conta com cinco espaços, e chega a Portugal, mais concretamente a São Bento, mesmo em frente à Assembleia, pela Associação VilacomVida. O objectivo? Provar “que é possível empregar estas pessoas e ter um negócio de sucesso”, diz Filipa Pinto Coelho, presidente da IPSS. “Tem sido uma alegria enorme porque percebemos que, de facto, estas pessoas estão preparadas, entusiasmadas, e os clientes também estão a sentir esta alegria e este amor que se vive aqui”, afirma.
Esta alegria é sentida logo à entrada, com um “bem-vindo ao Café Joyeux” dito pelos funcionários a quem entra pela porta. A decoração, em amarelo, também nos lembra momentos felizes e as fotografias dos trabalhadores, que acompanham a escadaria que vai dar à cozinha, dão-nos o aconchego de um sítio familiar. Quando há gorjetas, toca uma campainha e todos aplaudem.
Aqui, são garantidos o pequeno-almoço, almoço e lanche, com opções típicas de cafetaria, saladas, quiches e também pratos do dia. Também está à venda merchandising do projecto, que acaba por reverter para a missão. “É mais uma forma de as pessoas poderem falar sobre o projecto, vestirem a camisola e contribuirem para a causa. Temos t-shirts, sweats, café de vários gostos, chá, aventais, tote bags e crachás”, detalha a presidente da VilacomVida.
De momento, o Café Joyeux emprega nove pessoas com dificuldades intelectuais e do desenvolvimento, tais como trissomia 21 e perturbações do espectro do autismo, e três profissionais da restauração que são também tutores — o responsável da cozinha, o gerente, e o supervisor. A formação é feita em contexto de trabalho e divide-se em vários níveis de autonomia, ao longo de dois anos. “Eles podem escolher ser baristas, caixa, cozinha ou serviço de mesa. Começam por estas áreas e ao fim de seis meses rodam para a área a seguir e ao fim de dois anos vão ter aqui uma experiência de colaboradores polivalentes no sector da restauração”, explica Filipa. “Eles é que estão na linha da frente e nós estamos na retaguarda”, sublinha.
Filipa espera que a dinâmica do café-restaurante inspire outras empresas a fazer o mesmo. "Precisamos repensar a forma como entendemos um negócio”, argumenta. Os lucros desta operação destinam-se à abertura de mais espaços e, assim, à empregabilidade de mais pessoas. No início do próximo ano está prevista a abertura de um Café Joyeux em Cascais, mas o plano é abrir entre cinco a seis cafés no espaço de cinco anos.
Calçada da Estrela 26 (São Bento). Ter-Sáb 9.00-18.00.
+ Na Cabana, junto à Embaixada, entre o Jardim Botânico e o Príncipe Real
+ Sabores do mundo provam-se em Benfica nas próximas sextas-feiras