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Estávamos em 1994 quando Luís Louro – que em 2025 celebra 40 anos de carreira como um dos mais prolíficos autores portugueses de banda desenhada – lançou o primeiro volume de BD da icónica personagem O Corvo, através do qual tem procurado reflectir a “desprotegida ingenuidade” em que todos intervimos nas histórias das nossas ruas. Agora, festeja em dose dupla. Depois de O Despertar dos Esquecidos, o sétimo álbum do vigilante, editado em Abril pela Ala dos Livros, estreia-se na literatura para a infância com O Corvinho – O Menino Que Queria Ser Herói (ed. A Seita), onde uma versão garota do alter-ego de Vicente espelha a candura e a travessura das crianças. Com entrada livre, o lançamento está marcado para 11 de Outubro, às 18.30, na Sala do Rei, na Estação Ferroviária do Rossio.
“Há muito tempo que andava com vontade de fazer uma coisa diferente”, confessa-nos Luís. “Já tinha ilustrado um livro infantil, da Rosa Lobato Faria [o ABC das Coisas Mágicas em Rima Infantil, editado pela ASA em 2004], e gostei muito da experiência, mas fiquei com a sensação de ter ficado aquém, talvez pelas limitações do aerógrafo [com o qual desenhava] e pelas minhas próprias limitações na altura. Entretanto, sabendo desta minha vontade antiga, alguém me perguntou por que é que eu não fazia ‘o corvinho em pequenino’. Primeiro respondi que não, porque quando o Vicente era miúdo ainda não era O Corvo. Depois pensei que não tinha nada a ver, que podia ser um universo paralelo, e comecei a fazer uns esboços e a mostrar às pessoas, que o acharam muito fofinho e me entusiasmaram de tal maneira que, num mês, o álbum estava feito.”
Não é uma banda desenhada, mas não lhe falta o movimento característico das histórias aos quadradinhos. Das cores vibrantes ao carisma do protagonista, tudo parece querer saltar das páginas. Irrequieto e traquinas, O Corvinho – só Vicente para a mamã – convida-nos a exercitar a imaginação, esse super-poder incrível que nos permite atravessar os telhados da nossa cidade sem sairmos do nosso quarto. O mérito é, claro, do argumentista e ilustrador, que não poupa nem no fantástico nem no sentido de humor, com o qual também procura fazer chegar lições aos mais novos. Ao todo, são oito breves episódios, que ora nos ensinam como não ter medo de nada pode ser perigoso, ora nos alertam para o “dedo que adivinha” das nossas mães, ora abraçam sem receios a maravilha do nonsense.
“Foi delicioso poder contar histórias absurdas com cocó, xixi e puns. Não há nada melhor no universo”, partilha o autor, entre risos. “Costumo dizer que as pessoas me confundem com um adulto por causa da minha idade. O que é certo é que nada me continua a fazer rir mais, portanto devo ser uma eterna criança. É que ainda hoje posso estar a ver uma comédia e soltar uma gargalhada, mas se alguém solta um pum eu não consigo parar de me rir, fico descontrolado”, admite, antes de revelar que muitas das figuras mais impressionantes que o livro reúne, como o elefante bomba e o hipópotamo paraquedista, tiveram origem em histórias que contava às suas filhas quando eram pequeninas. “Eu inventava coisas para elas dormirem e havia sempre puns, que também as faziam desatar a rir, porque todos os miúdos acham graça. De maneira que me deu um gozo enorme fazer este álbum e é com gosto que posso dizer que já tenho um segundo volume planeado.”
A ideia é que os pais possam ler à noite, uma ou duas histórias de cada vez, e as crianças se divirtam, ao mesmo tempo que aprendem qualquer coisa. Quem sabe se, tendo sucesso, não há alguém que veja potencial no formato para uma adaptação ao pequeno ecrã. “Seria espectacular. Para já vou fazer a minha parte. Estou entusiasmadíssimo – e ao mesmo tempo em pânico – com o lançamento no dia 11. Ao fim de 39 anos de carreira, a comemorar os 40 para o ano que vem, eu continuo igualmente nervoso”, admite Luís, que irá contar com a presença de Francisco Lyon de Castro, Ruy Zink e o fã Pedro Rocha e Silva.
“O Pedro tem dez anos e vai falar sobre o livro. Sendo um livro para crianças, achei que não fazia sentido termos só adultos no painel, embora O Corvinho tenha sido pensado para leitores mais pequeninos, à volta dos quatro, cinco anos. De qualquer forma, como o Pedro é um fã de longa data, é também uma forma de lhe agradecer a dedicação, porque é um miúdo extraordinário e tem acompanhado o meu trabalho com um entusiasmo fora de série. Foi o pai que lhe passou o bichinho e é giro quando os pais conseguem passar essa paixão aos filhos, sobretudo quando estamos a falar de hábitos de leitura.”
Depois da apresentação do livro no dia 11, na Estação Ferroviária do Rossio, está prevista uma segunda, a 15 de Outubro, na Bertrand do Chiado. Às livrarias, O Corvinho – O Menino Que Queria Ser Herói só chega no dia 25, sexta-feira, durante o último fim-de-semana do Amadora BD, onde poderá encontrar o autor, que está nomeado para os prémios de banda desenhada, na categoria de Melhor Obra de Banda Desenhada de Autor Português, com O Corvo VII – O Despertar dos Esquecidos.
O Corvinho – O Menino Que Queria Ser Herói, de Luís Louro. A Seita. 48 pp. 20€
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