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A essência de um Teatro é fazer espectáculos, mas também há vida além deles. Numa altura em que a cultura está novamente confinada, os conteúdos paralelos das programações que estão à distância de um clique tornam-se particularmente necessários e valiosos. É o caso do TEATRA, o podcast do Teatro Nacional D. Maria II. Nascido em 2019 com a missão de fazer alastrar e aprofundar a reflexão e o debate sobre teatro, cultura e os seus criadores, o TEATRA dá a ouvir, gratuitamente, uma série de entrevistas conduzidas pela jornalista Mariana Oliveira a diferentes profissionais do universo teatral, nas suas mais variadas frentes. “Não apenas actores ou encenadores, que são provavelmente a face mais visível deste sector, mas também escritores, músicos, artistas visuais, técnicos, pensadores e outras figuras que, de alguma forma, se relacionam com o teatro e a cultura”, diz o director artístico do Teatro Nacional D. Maria II, Tiago Rodrigues, numa altura em que o TEATRA passa de um ritmo mensal para quinzenal e em que o teatro regressa à sua programação online, o D. Maria II em Casa.
Albano Jerónimo, Bruno Nogueira, Dulce Maria Cardoso, Filomena Cautela, Mónica Calle, Manuela Azevedo, Rita Blanco ou Vhils são alguns dos nomes que já passaram pelo podcast, disponível no Soundcloud, no Spotify, no YouTube e no Apple Podcasts. Os episódios vão para o ar à terça-feira, ficando depois albergados nas referidas plataformas. “Este projecto integra-se na missão que o Teatro Nacional D. Maria II persegue e que imprime em toda a sua programação: a democratização do acesso à cultura e à actividade teatral”, explica Tiago Rodrigues. Apesar de nada substituir os palcos e a presença física, uma das vantagens do digital é tornar os bens culturais mais acessíveis e descentralizados, e isso é também um dos objectivos deste projecto. “Actualmente, segundo as estatísticas do Spotify e do Soundcloud, a maioria dos ouvintes do podcast encontra-se em Portugal (cerca de 90%), mas temos também um número já considerável de ouvintes (cerca de 10%) no Reino Unido, em Espanha, nos EUA e no Brasil”, revela o encenador e director artístico do D. Maria II. “Em Portugal, a maioria dos ouvintes encontra-se nas cidades de Lisboa, Porto, Amadora, Coimbra e Aveiro, de acordo com as estatísticas da plataforma Soundcloud.”
Além da descentralização, o TEATRA visa adubar terreno para que um público mais jovem se comece a interessar pelo teatro, ou que estabeleça uma relação mais íntima com ele. “Segundo os dados facultados pelo Spotify, a maioria dos ouvintes do podcast (cerca de 52%) tem entre 23 e 34 anos, o que nos ajuda a comprovar que estamos a conseguir chegar a este público.” Independentemente da idade, certo é que o número de ouvintes tem crescido desde o início da pandemia. “Isto leva-nos a concluir que, apesar de o D. Maria II ter encerrado entre Março e Junho de 2020, conseguimos manter uma proximidade com o nosso público, através do TEATRA e de várias outras iniciativas que desenvolvemos online durante o primeiro confinamento”, refere Tiago Rodrigues. “Paralelamente, acreditamos que esta fase nos ajudou a consolidar o público do podcast, chegando a mais pessoas.”
No que toca à selecção dos entrevistados, a “diversidade” é a principal directiva. Ao TEATRA chegam figuras incontornáveis do teatro português e jovens criadores, bem como nomes que, apesar de não estarem directamente associados a esta área, se entrelaçam com ela. Os próximos três convidados são reflexo dessas três orientações: Teresa Coutinho, jovem actriz e encenadora (o episódio estreia no dia 2); Jorge Silva Melo, histórico encenador e dramaturgo, capitão dos Artistas Unidos; e Gonçalo M. Tavares, escritor que tem colaborado regularmente com o meio teatral.
As criações que os entrevistados estão a desenvolver no momento, muitas delas com apresentação no D. Maria II, são abordadas no podcast, mas funcionam mais como “ponto de partida do que como centro para a conversa”, assinala Mariana Oliveira. “Os espectáculos, presentes e passados, são uma belíssima porta de entrada para escalpelizar o universo criativo de cada um, mas a ideia é sempre usar essa porta para abrir outras portas dentro dela.” Embora o podcast não seja um canal de divulgação da programação do D. Maria II, importa “seguir o rasto” que liga cada convidado à instituição – e, a partir daí, ir construindo “uma espécie de história informal do Teatro”. Trata-se de uma “colecção de histórias muito diversa”, nota Mariana Oliveira, o que “decorre da própria diversidade” dos intervenientes: desde Rui Mendes, “que viu o teatro [D. Maria II] a arder em 1964 e fez ensaios para a censura”, a Sara Barros Leitão, “que nasceu quase 30 anos depois do incêndio e viveu sempre em democracia”.
A juntar a isto, cada episódio do TEATRA procura “compreender os impulsos e as motivações” que levam cada entrevistado a “mover-se pela vida fora”. “No fundo, esses são mecanismos humanos e, por isso mesmo, transversais”, afirma a jornalista. “Interessam-nos conversas sobre teatro que possam interessar mesmo a quem não se interesse por teatro – porque, em última análise, toda a gente terá alguma capacidade para se interessar por pessoas.”