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O DayDream Re:Loaded volta a materializar o rap digital na ZDB

A segunda edição do festival, que se estreou há precisamente um ano na Zé dos Bois, realiza-se este sábado na galeria do Bairro Alto. E os concertos começam logo às 21.00.

Luís Filipe Rodrigues
Editor
Diepretty Mercédes
Diepretty Mercédes
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Desde a década passada que a internet e sobretudo o soundcloud moldam o som do hip-hop um pouco por todo o lado, dos Estados Unidos à Rússia, passando pela Suécia (Yung Lean, Drain Gang), pela China (Bloodz Boi) ou os dois lados da Península Ibérica. Apesar de um ou outro nome que começou por dar cartas no soundcloud português, como LON3R JOHNY, ter saltado para o mainstream (e mudado de som), a maioria continua a ter pouca visibilidade e concertos marcados, a “existir só no mundo digital”, como diz Luís Medeiros. Foi para lhes dar palco que há exactamente um ano organizou o primeiro Daydream Fest na ZDB. E é por isso que este sábado faz o segundo.

“Comecei a conhecer este som do Soundcloud e eles nunca tinham gigs. Achei necessário fazer um show, uma festa para eles”, explica Luís Medeiros, também conhecido como DRVGジラ e metade dos fascinantes 7777 の天使. “E a noite teve uma boa recepção. Senti que o pessoal gostou imenso.”

O cachet a dividir pelos artistas, reconhece, não foi muito, apesar do interesse do público e de terem feito uma boa sala. É quase impossível viver da música independente em Portugal, o cartaz era longo e os bilhetes baratos. Os artistas não se parecem ter importando com isso, porém – tanto que muitos, como floraa, frost.y, Mizu, Nests ou B4ICRY2, estão de volta. “Não dão muitos concertos”, repete Luís, para sublinhar que é esta a realidade. E eles gostaram da interacção com o público.

Muitos nomes, porém, não estavam no cartaz do ano passado. São os casos de princess, produtor determinante do trap português mais etéreo; Bleach Mane, que ainda este ano editou o EP AUDIO, a meias com Mizu, seu companheiro no colectivo Hate Rain Records; o rapper Diepretty Mercédes, que lançou em 2023 os discos MODA PODRE e MODA PODRE+; os algarvios 2heaven e noxsar, que se apresentam juntos; e ainda a dupla de DJs luviaswitch, de noxsar e ascenscia. Há ainda músicos cuja participação não foi anunciada, mas que vão estar na ZDB para interpretar uma ou outra malha.

Olhando para a quantidade de nomes que se encontram no soundcloud, a fazer música nova, diferente e frequentemente entusiasmante, na intersecção entre o rap etéreo, o emo-trap e a hyperpop, é legítimo perguntar porque demorou tanto tempo a fazer esta segunda edição. Não podia haver mais noites assim? Luís acha que sim e conta que “isto era suposto ter acontecido em Maio”.

Mas a vida meteu-se pelo meio. Luís já não está a viver em Lisboa (a cidade insiste em expulsar os seus melhores filhos e os que cá chegam com vontade de construir um futuro), voltou para Tavira e tinha passado os primeiros meses do ano em Berlim, casa-mãe da editora Soul Feeder, que já o levou a tocar na ZDB e editou as cassetes Bruised Grills Eternal Tears (2020) e Seven Angels (2021) dos 7777 の天使. E, convenhamos, haver só uma DayDream por ano torna tudo mais especial.

Só é pena não haver outras festas assim e mais gente a programar estes músicos. Até porque há público, como sabe quem viu os concertos do Drain Gang e de Yung Lean, influências partilhadas por estes e outros intérpretes da mesma geração (sobretudo zoomers e alguns millennials mais novos). Respectivamente no Primavera Sound Porto e em Paredes de Coura, os suecos tiveram centenas de pessoas a sentirem a música e a acompanharem as canções em coro. Os artistas portugueses também podem ter. “Mas é preciso haver dinheiro e gente a investir em festa”, remata Luís Osório.

Zé dos Bois. Sáb 21.00. 8€

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