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Maria nasceu nos Anjos, em 2021, como montra do bairro inteiro. Agora, encontramo-la também em Campo de Ourique, na Casa Fernando Pessoa, onde nasceu Desassossego by Maria Food Hub. O nome é um aceno ao Livro do Desassossego, de Bernardo Soares, um dos heterónimos de Pessoa, e calha bem que o único heterónimo feminino do poeta seja Maria José. A coincidência é só isso, mas Miguel Leal e a sua equipa aproveitaram o acaso para “fazer uma brincadeira”: no logótipo do novo restaurante, Maria, de copo de vinho na mão, surge mascarada com um chapéu, uns óculos e até um bigodinho. Já à mesa, a cozinha é, como no irmão mais velho, de inspiração internacional, com opções para todas as dietas e horas do dia. A ideia é que, para viajar, só precisemos dos talheres.
“O nome evoca isto de estarmos num restaurante a ouvir o som dos talheres, a comida a ser confeccionada, e aquele desassossego de provar o que nos chega enquanto se conversa à mesa”, diz Miguel Leal, sócio-gerente do Maria Food Hub e do novo Desassossego. “A identidade visual tem muito a ver com o Maria, mas é lógico que queremos homenagear Fernando Pessoa, estando na sua casa, e achámos que seria giro fazer esta simbiose do mesmo conceito em dois espaços. E estamos muito satisfeitos. Acreditamos estar a acrescentar valor à restauração de um museu que, em muitos locais pela cidade, fica aquém do que poderia ser", acrescenta ainda, destacando a aposta nos produtos portugueses, nas especiarias e nos sabores de outras partes do mundo. "Embora aqui [ao contrário do que acontece no Maria Food Hub] tenhamos o cuidado de oferecer também pratos mais tradicionais.”
O restaurante abriu em Janeiro, na sequência de um concurso público. Miguel Leal acredita que o sucesso do Maria Food Hub e o conceito que apresentou, baseado numa cozinha que se transforma ao longo do dia e prioriza pratos originais confeccionados com os melhores produtos nacionais, foram determinantes para a vitória. “Sempre quisemos ter uma experiência fora de Arroios e achámos super simpático este espaço no museu, num bairro também completamente diferente”, partilha. “Quando penso em museus no estrangeiro, penso em encontrar também um espaço com oferta durante todo o dia. E isso caracteriza muito a nossa cozinha, que acompanha os horários dos visitantes. Além disso, estamos a tentar criar gostos, trazendo sabores internacionais para a mesa.”
O lugar é discreto, o ambiente descontraído. Depois de percorrermos um corredor exterior, vislumbramos a esplanada e a fachada envidraçada do Desassossego, que permite iluminar de forma natural o pequeno espaço de cafetaria e restauração. Lá dentro, a par das louças de Alcobaça e dos pratos dos anos 60 e 70 vindos de antiquários, sobressaem as cadeiras com forro vermelho e um sofá de veludo para duas pessoas – aí perto, uma das paredes destaca-se por estar forrada com a imagem de uma estante recheada de livros. Estamos no primeiro piso, o segundo serve para receber grupos e, quem sabe (a ideia está a marinar), churrascos de Verão. “Como o tempo está a ficar melhor…”
Além de opções de pequeno-almoço, como granola caseira, iogurte grego, fruta e mel (7€) ou torrada de queijo curado e marmelada (4,50€), há propostas de brunch “mais substanciais” até às 17.00. O bestseller é a shakshuka verde (10€), com batata-doce, espinafres, bimi (os chamados “brócolos-bebé”, que são um cruzamento de brócolos com couve kailan), pimentos assados e dois ovos escalfados com molho de abóbora, coco e amendoim. E não faltam saladas – como a de quiabo grelhada (7€), com tomate cherry e lima – nem pratos para partilhar.
Ao almoço, Miguel destaca a couve-flor kung pao (8,50€), que presta homenagem ao frango kung pao, um dos clássicos da culinária chinesa; e o carpaccio de polvo (13€), com folhas de shiso, vinagrete de yuzu e romã. Ao jantar, provar a flor de polvo (16,50€), com puré de batata doce, funcho e raspa de limão, ou a barriga de porco fumada (11€). Para acompanhar, há cervejas artesanais, vinhos portugueses, sumos naturais e cocktails de assinatura. “Estamos a preparar umas estreias”, antecipa Miguel. “Vem aí um MP" [um cocktail de melão com presunto desidratado, cachaça, limão e basílico (10€)]. Se preferir, também há Gal Colada (9,50€), com rum da Madeira, água de coco e ananás; e Tejo Tequila (10€), com Limontejo, o primeiro limoncello a ser produzido em Portugal com limões do Alentejo, e cardamomo.
“Queremos despertar memórias. Muitas vezes, em viagem, temos experiências culinárias que depois não são reproduzíveis. Ora, nós não queremos reproduzir outros tipos de cozinha: eu acho que a nossa cozinha continua a ser portuguesa, mas vamos buscar estas especiarias e ingredientes [sobretudo da Ásia, do Médio Oriente e do Norte de África] para criar ou rever memórias de viagem”, remata Miguel, antes da sobremesa. Nem de propósito chega-nos uma versão vegan de mahalabia (6€), um pudim árabe normalmente feito de leite que, neste caso, leva água de rosas, coco e laranjas do Algarve, com pistáchios por cima. Quatro colheradas e é capaz de ter de pedir outro.
Desassossego by Maria Food Hub, Casa Fernando Pessoa (Campo de Ourique). Ter-Qui e Dom 11.00-18.00 e Sex-Sáb 11.00-23.30