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O Espectador Emancipado é um espectador com regalias

O novo clube da Fábrica das Artes quer desafiar os jovens a partir dos 15 anos a aproximarem-se da arte e dos artistas.

Raquel Dias da Silva
Jornalista, Time Out Lisboa
Um Mini Museu Vivo de Memórias do Portugal Recente
DR | | Um Mini Museu Vivo de Memórias do Portugal Recente, de Joana Craveiro, do Teatro do Vestido
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Pertencer a um lugar é ter voz. É o que a Fábrica das Artes se prepara para provar com o lançamento de O Espectador Emancipado, um clube para jovens entre os 15 e os 23 anos, que os convida a “construir um projecto cultural pessoal e autónomo” através do diálogo entre pares, da aproximação aos artistas e da participação em processos criativos . Para isso, vão ter, por um lado, acesso a um conjunto de actividades a preços com desconto e, por outro, encontros mensais à quarta-feira, das 16.30 às 18.00. As inscrições abrem online, a 18 de Outubro, no site do Centro Cultural de Belém.

O nome do clube é um piscar de olhos ao livro de Jacques Rancière, O Espectador Emancipado, que está editado em Portugal pela Orfeu Negro e reúne ensaios do filósofo francês. Proferidos pelo próprio em conferências entre 2004 e 2008, esses textos contrariam uma das mais antigas premissas da estética – a de que aquele que vê não sabe ver – e incitam o espectador a reclamar um papel activo na compreensão da arte. É exactamente isso que se espera que aconteça no âmbito do clube O Espectador Emancipado, que já tem calendarização definida até 2024. Entre 8 de Novembro deste ano e 5 de Junho do próximo, estão programadas oito sessões temáticas.

“A propósito das comemorações dos 50 anos do 25 de Abril [que se assinalam em 2024], tive oportunidade de desenhar uma programação que se desdobra para a democracia hoje e os grandes temas em cima da mesa. Pareceu-me então oportuno aproveitar o activismo que está a acontecer e escutá-los [aos jovens], para perceber o que é projectar uma vida jovem num futuro como este, mas também como é que a criação artística, que traz sempre a novidade de qualquer coisa que ainda não nasceu, pode ser o ponto de partida para o espaço do teatro enquanto pólis e enquanto moldura para nos reunirmos a pensar”, detalha a coordenadora da Fábrica das Artes, Madalena Wallenstein, que convidou um conjunto de artistas para realizar plenários de divulgação, debates temáticos e oficinas de experimentação a partir dos materiais dos espectáculos em cena.

O primeiro encontro está marcado para 8 de Novembro e parte do espectáculo Bora Lá Laborar, de Igor Gandra, do Teatro do Ferro, que nos desafia a reflectir sobre a razão ou razões pelas quais trabalhamos e porque é que, para a maioria das pessoas, a vida se organiza à volta do trabalho. Mas, para Madalena Wallenstein, “o coração da programação” é o espectáculo de Joana Craveiro Um Mini Museu Vivo de Memórias do Portugal Recente, que servirá de mote para o encontro de 28 de Fevereiro. “É a reposição de uma encomenda que fiz à Joana depois dela ter feito aquele espectáculo monumental de quatro horas [Um Museu Vivo de Memórias Pequenas e Esquecidas]”, esclarece a curadora. “Foi a partir daí que pensámos tudo o resto, incluindo a apresentação do Teatro do Ferro, que é um teatro de marionetas e formas animadas.”

Já as sessões de 7 de Dezembro e de 10 de Janeiro ainda estão por anunciar, mas haverá pensamento em torno de Rádio Benjamim, de Guilherme Gomes; da instalação-jogo Quanto Vale a Liberdade?, de Luís Santos; de Mundo Oco, de Rosinda Costa; de Batalha, de Sandro William Junqueira, com encenação e dramaturgia de João de Brito; e de descobri-quê?, de Cátia Pinheiro, Dori Nigro e José Nunes. “A estreia de Guilherme Gomes, do Teatro da Cidade, que explora a ideia de narrativa enquanto instrumento político e de força formativa, é um espectáculo para maiores de oito anos”, avança Madalena, que chama a atenção para o facto dos espectáculos serem de facto pensados para “todas as infâncias”. 

“A minha vida profissional tem-me feito constatar que é preciso ultrapassar a fragmentação dos espectáculos se quisermos de facto construir alguma coisa de permanente. Foi por isso que inventámos este clube de jovens. A ideia é não termos as salas ao fim-de-semana cheias de adultos. Para isso é necessário fazer um trabalho de continuidade com o público jovem”, alerta Madalena. “Vai haver uma ficha de inscrição e, para chegarmos também a miúdos que não têm hábitos culturais, vamos levar artistas às escolas, para falarem do seu trabalho e desta ideia que O Espectador Emancipado sugere, que é eles terem um programa cultural próprio e autónomo. Portanto, quem fizer parte do clube terá acesso aos espectáculos de fim-de-semana ao preço das escolas [3,50€/pessoa] e, uma vez por mês, a um encontro, que oferece acesso a ensaios abertos, a conversas com os artistas, a conversas com os técnicos, a uma Mesa Concelhia da programação, entre outras propostas de aproximação privilegiada ao fazer artístico.”

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