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‘O Falcão e o Soldado do Inverno’: quem vai segurar o escudo do Capitão América?

A nova minissérie do Disney+, que se estreia esta sexta-feira, explora um mundo sem Steve Rogers – e embrenhado nas guerras culturais.

Hugo Torres
Escrito por
Hugo Torres
Director-adjunto, Time Out Portugal
Televisão, Séries, Aventura, Drama, O Falcão e o Soldado do Inverno
©David LeeO Falcão e o Soldado do Inverno
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– É por isso que é teu.

Vingadores: Endgame terminava assim, numa cena bucólica em que o envelhecido Steve Rogers (Chris Evans) passava o testemunho – isto é, o icónico e quase indestrutível escudo do mais patriótico dos super-heróis da Marvel – a Sam “O Falcão” Wilson (Anthony Mackie). O caminho a seguir no Universo Cinematográfico Marvel (UCM) parecia inequívoco: estava na calha um Capitão América negro. A solidez do julgamento moral de Rogers, juntamente com o assentimento de Bucky “O Soldado do Inverno” Barnes (Sebastian Stan), que assistia ao momento de perto, deixaria convencido até o mais cínico dos espectadores. Mas o mundo é tudo menos linear, e a ficção, mesmo a mais fantasiosa, não se dispensa de ler e comentar as idiossincrasias do seu tempo. E que outra característica da actualidade é mais premente do que a luta pelo que é simbólico, as guerras culturais em que se travam as batalhas da inclusão, da diversidade, do pluralismo e do reconhecimento social, económico, artístico? O Capitão América não é apenas um “supersoldado”, é um símbolo. Como personagem de BD, dir-se-ia equivalente ao “Star-Spangled Banner”, o hino dos EUA. Um Capitão América negro? Sem passar pelo crivo político? Sem espectáculo? Calma lá.

O Falcão e o Soldado do Inverno, a minissérie que se estreia nesta sexta-feira no Disney+, dando continuidade à Fase 4 do UCM, lançada em Janeiro com WandaVision, deverá passar por aí. Pelo menos, é essa a expectativa. A informação é escassa, como é hábito dos Marvel Studios, e o rumo narrativo delineado para estes seis episódios de 45 a 55 minutos cada, que serão disponibilizados semanalmente, é uma incógnita. O segredo é a alma do negócio. O que se sabe, pelos trailers e pelas parcas declarações públicas das pessoas envolvidas no projecto, é que Sam tem treinado o escudo do Capitão América, tentando dominá-lo, para que deixe de parecer que ele pertence a outra pessoa, como disse em Endgame. E que Bucky está com ele. Este, o amigo de infância de Steve Rogers, que esteve décadas sob a influência da maléfica HYDRA, sobrevivendo à passagem do tempo graças às experiências a que foi submetido; e aquele, Sam, o amigo que Rogers fez após um profundo e gelado sono de 70 anos. Nunca foram muito à bola um com o outro, mas tinham o Capitão América a ligá-los. Agora que estão só os dois, como é que se vão comportar? Como dois machos alfa com testosterona e força a mais, naturalmente. Uma tensão benigna, que os levará a unir esforços para defrontar os reais vilões desta série.

Primeiro, uma estreia: John Walker (interpretado por Wyatt Russell, que protagonizou Lodge 49 há um par de anos). Uma personagem que, a acreditar nos comics, fará o seu caminho de mau a bom rapaz. Como estamos no início da sua participação, apostamos que ainda não viu a luz e que é mais ou menos por esta altura que tentará ficar com o título de Capitão América – Walker acredita que é o melhor representante dos seus ideais patrióticos; na BD, chega mesmo a ser o Capitão América a certa altura, tal como o Falcão e o Soldado do Inverno. Depois, um regresso: Zemo (Daniel Brühl), o manipulador por detrás da cisão temporária entre os Vingadores, em Capitão América: Guerra Civil (2016), agora com a máscara roxa que usa nos comics. Por fim, os Flag-Smashers, um grupo anarquista aparentemente liderado pela jovem Karli Morgenthau (Erin Kellyman, que vimos em Han Solo: Uma História de Star Wars). De resto, há mais duas personagens dos filmes com presença assegurada: Sharon Carter (Emily VanCamp), a antiga agente da S.H.I.E.L.D e breve interesse romântico de Rogers, que entra em todos os episódios; e o coronel James Rhodes, a.k.a. War Machine (Don Cheadle), que está no UCM desde o primeiro filme, Homem de Ferro (embora Cheadle só lhe dê corpo desde Homem de Ferro 2, de 2010). Não faltam pontos de ligação para entreter os cartógrafos deste universo.

O Falcão e o Soldado do Inverno tem, contudo, outras pretensões. Tal como WandaVision era sobre o luto, sobre a dor, um processo de catarse emocional, também esta nova incursão televisiva da Marvel quer abordar as grandes questões – da identidade, da igualdade, da liberdade de escolha, ecoando a agitação social que se tem vivido nos EUA e um pouco por todo o lado. Na capa do primeiro número do Capitão América, o super-herói criado por Joe Simon e Jack Kirby surgia a esmurrar Hitler. Em 1941, era fácil identificar o alvo. E agora? Qual é o alvo agora? Quem é que o Capitão América deveria estar a esmurrar? E quem é que decide quais são os valores a defender, e porque é que o extremismo se tornou regra para os defender? Malcolm Spellman (Empire), o criador da série e argumentista principal, e Kari Skogland (The Handmaid’s Tale), a realizadora dos seis episódios, vão tentar dar resposta a estas questões através de uma série de acção e aventura que promete ter muito de buddy comedy. E talvez o essencial esteja mesmo aí: no facto de ser possível que dois rapagões de épocas e contextos muito diferentes, que em comum têm apenas a memória de um passado glorioso – digamos a América, sem capitão, para a metáfora ser mais clara –, que estes rapagões, perante um futuro difuso, perante problemas maiores do que as suas tensões egotistas, sejam capazes de tornarem buddies.

Disney+. Sex (Estreia T1).

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