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Le Fantôme de l'Opéra, de Gaston Leroux, é um romance gótico francês, ofuscado pelo sucesso da sua adaptação a teatro musical, que bateu o recorde de permanência na Broadway e continua em palco até hoje, desde a primeira vez em cena, em 1986. Este ano, chega a Portugal em versão concerto. Antes da estreia, bate-se texto, fazem-se marcações e ensaia-se muito.
Os primeiros ensaios com todo o elenco arrancaram em Julho, na Igreja de São Jorge de Arroios. No salão da paróquia, decorado com cadeiras verdes e um cortinado amarelo-torrado, é difícil imaginar a grandiosidade que se espera da estreia da versão em concerto d’O Fantasma da Ópera, em Outubro e Novembro, no Coliseu do Porto e no Campo Pequeno, em Lisboa, respectivamente. Acompanhados apenas por um piano portátil Roland FP-4, os artistas focam-se nas indicações do encenador e tentam apurar as cenas o melhor possível, embora o resultado final inclua um dispositivo cénico de fazer cair o queixo, com mais de uma centena de nomes em palco.
O responsável pela produção é Armando Calado, que também tem formação musical e não hesita em cantar durante os intervalos. A partir dos bastidores, filma tudo com o seu iPad, para mais tarde poder oferecer aos artistas um registo em vídeo. A acompanhá-lo, sentado atrás da cadeira do encenador e cenógrafo Pedro Ribeiro, está o resto do elenco. No meio do salão, em frente ao piano, Sofia Escobar e Bruno Almeida treinam as marcações feitas.
Sofia Escobar interpreta Christine Daaé, a protagonista do musical. Mas já não é a primeira vez a encarnar a personagem. Esteve quase quatro anos no West End, em Londres, onde contracenou com Lara Martins, que fez o papel de Carlotta durante mais de meia década. “Estou há muitos anos em Londres, estive seis anos a fazer O Fantasma da Ópera e a maior parte dos portugueses a assistir não sabia que havia uma cantora portuguesa em palco. Talvez a comunicação social possa ter um papel mais activo na cobertura dos artistas portugueses que estão a vingar lá fora em áreas muito competitivas”, sugere Lara durante uma breve conversa, antes de ser chamada para repetir uma cena.
A licença para a estreia da versão concerto em Portugal não foi difícil de arranjar, porque Armando Calado foi o primeiro a entrar na corrida, mas o produtor, já fora do salão, ao sol, confessa entre risos ter levado pastéis de nata e uma garrafa de Vinho do Porto para a mesa das negociações. “Ele dizia ‘oh, you shouldn’t’. Mas, se havia qualquer dúvida, com o vinho ficou o assunto resolvido”, diz a brincar. “Uma versão concerto tem outra dimensão. Nós temos coros de 80 pessoas em palco e em Londres são dez ou 15. Dá para fechar os olhos e deliciares-te até ao fim. Às vezes muita encenação até distrai da beleza da música”, acrescenta.
“Primeiro reunimos com uma coach inglesa, para treinar a fonética cantada. Como promotor quero que seja o mais perfeito possível”, confessa Armando, que já viu O Fantasma da Ópera, em Londres, pelo menos cinco vezes. O regresso a Portugal é uma história comprida, mas a verdade é que, mais de uma década lá fora, orgulha-se de poder estrear o espectáculo no seu país, com um elenco exclusivamente nacional. “Sabia muito bem com quem queria trabalhar. No início de Agosto do ano passado, fui a Madrid ter com a Sofia e perguntei-lhe se queria fazer o musical. Disse-me que era um sonho dela poder fazê-lo em Portugal pela primeira vez. Depois pôs-me em contacto com a Lara, que me disse exactamente o mesmo”, conta o produtor. “Fiz finca-pé para que o elenco fosse todo português. Temos muito talento em Portugal e sei que as coisas não mudam de um dia para o outro, mas acho triste continuar a haver pessoas que acham que o que se faz lá fora é que é bom.”
Para acompanhar Sofia e Lara em palco, juntam-se talentos como Bruno Almeida e Fernando Fernandes (mais conhecido como FF), ambos responsáveis por interpretar o Fantasma, mas também o tenor Filipe de Moura, que se estreou como solista em 2018, no Teatro Nacional de São Carlos, e o barítono Ricardo Panela, eleito este ano Melhor Intérprete no Festival de Ópera Armel, na Hungria.
Este não é o espectáculo do West End de que o público está à espera
“Encenar esta peça, com cantores profissionais e uma orquestra, é o sonho de qualquer encenador”, confessa Pedro Ribeiro, que minutos antes estivera a despedir-se do elenco, na última marcação antes do ensaio geral. “Trabalhei a pensar como é que uma pessoa que nunca viu O Fantasma da Ópera pode ficar verdadeiramente interessada no que se está a passar em palco, a nível de cena, com os personagens. Não queria que fosse uma versão sentada, em que os cantores estivessem apenas a ler a partitura. Queria criar movimento e penso que o consegui fazer através de um dispositivo cénico circular, que remete para a protagonista, que é uma bailarina, e cria entradas brutais.”
O maior desafio foi encontrar uma linguagem visual capaz de fazer jus à história d’O Fantasma da Ópera. “Temos ainda uma vídeo designer a trabalhar connosco, a Alexandre Côrte-Real Almeida, que está a desenhar o conteúdo para um ecrã que irá mostrar de forma contemporânea diversos momentos necessários para perceber a peça”, revela. “Na abertura, também haverá espaço para nos interrogarmos sobre o que é o terror e o que é o fantasma.” Mas Pedro Ribeiro admite gostar particularmente do final. “Acho que encontrámos uma forma bonita da Christine se despedir do fantasma. Não há efeitos especiais, é muito simples, mas acho que adiciona uma camada emocional que não estava lá”, acrescenta. “Este não é o espectáculo do West End de que o público está à espera.”
Com estreias marcadas para 18 e 19 de Outubro, no Coliseu do Porto, e 21, 22 e 23 de Novembro, no Campo Pequeno, em Lisboa, os bilhetes para O Fantasma da Ópera em concerto (em inglês, com legendas em português) encontram-se disponíveis para venda nos locais habituais e na Ticketline, entre os 15€ e os 150€ (com direito a encontro com o elenco, no final do espectáculo).
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