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Do passado, resta a história, sem grandes marcas visíveis no espaço. A sombra de Miguel Rocha Vieira, chef que acabou afastado do Anfíbio no final do ano passado, já não parece pairar por ali. Junto ao Tejo, na Doca da Marinha vende-se uma vida nova – e não é mentira. Olivier da Costa entrou no negócio do restaurante e revolucionou-o. Não foi só uma mudança de nome ou conceito, mas também de aspecto. No ÀCosta, que ganhou ainda um parque de estacionamento privativo, a aposta está agora no peixe e no marisco.
“Normalmente, tudo o que abre é muito básico, ninguém arrisca, ninguém faz uma coisa uau. São pequenas coisas que fazem a diferença”, diz-nos Olivier, enquanto apresenta o restaurante que o obrigou a criar um novo conceito. “Eu entrei neste restaurante numa festa em Junho do ano passado e disse: o restaurante é meu”, conta o empresário, sem grandes rodeios, como já lhe é tão característico. “Imaginei logo isto. Imaginei logo o bar, imaginei logo como é que ia fazer a coisa. Quando entro num espaço e imagino como é que vai ser, já não há maneira nenhuma de voltar atrás”, garante.
Foi em Novembro do ano passado que se soube que o Anfíbio, como foi apresentado à cidade, teria os dias contados. O chef Miguel Rocha Vieira estava de saída, depois dos resultados terem ficado aquém dos desejados e previstos pelo grupo Lean Man, liderado por Bernardo Delgado (também proprietário dos quiosques Banana Café), que optou por procurar um parceiro para o negócio. Olivier chegou-se à frente, mas ficou apenas com o restaurante, deixando de fora os três quiosques ao longo da Doca da Marinha.
“Eu gostei do restaurante, acho é que eles falharam no conceito. Os restaurantes têm que ter um conceito. Tu não podes querer fazer um Praia na Vila com comida estrela Michelin. A carta e o conceito não casavam”, justifica, com a confiança de que esta nova vida do espaço vai dar muito que falar. E nem a localização, em tempos apontada como um desafio, o assusta. “A localização é premium. A Bica do Sapato durante 15 anos foi o sítio em Lisboa e era, em bom português, atrás do sol posto. Eu lembro-me de ser miúdo e haver a loucura da Bica do Sapato. Durante anos e anos. Antigamente havia o Manuel [Reis], agora há o Olivier. E também houve uma altura em que havia o Pedro Luz [Alcântara Café] e agora há o Olivier.”
Com Olivier da Costa já se sabe que não há meias-medidas, nem o empresário sabe viver de outra maneira. Veja-se o Tritão que domina o novo bar criado na esplanada, um balcão de mármore majestoso. No interior destacam-se outros elementos marinhos, como uma concha onde se exibem champanhes, junto a uma montra de peixe fresco e marisco. Os sofás e cadeiras, outrora às riscas, têm agora tons de madeira e verde escuro, e as mesas ganharam toalhas brancas. Na esplanada, as mesmas toalhas na mesa e as cadeiras em tons mais claros. “Aqui não vai ser um conceito festivo”, alerta Olivier. “Somos um restaurante à séria”, continua. “Nesta fase, queremos especializar-nos na comida. Depois se eu vir que há ambiente que dá para pôr uma musiquinha, eu depois logo vejo. Modéstia à parte, fui eu o primeiro em Portugal a fazer isso e eu é que sei como é se faz”, resume.
Mesmo assim, conta Olivier, haverá DJ no restaurante. “Vais poder vir beber um copo, vais poder ouvir música, vai ser um restaurante um bocado como o Seen, não quero Praias na Vila.”
Para a carta, Olivier diz ter-se inspirado, acima de tudo, na vista, mas também no receituário da família. “O que é tu fazes num restaurante que é em frente ao rio? Quando vejo o mar, gosto de comer amêijoa, peixe… Podia ter feito aqui um italiano, um rodízio de carne, mas também vejo a oportunidade e vejo um bocadinho aquilo que não há e aquilo que eu sinto que me falta a mim e aos meus clientes. Onde é que em Lisboa comes um bom peixe grelhado ou um bom arroz de lavagante, comida de mar, com esta vista e com esta decoração?”
Para começar, há amêijoas à Bulhão Pato (28€), camarão à guilho (27€), navalha grelhada com manteiga de alho e ervas (22€) e casco de sapateira recheado (24€), mas também um carpaccio de peixe do dia (19€), um ceviche de vieiras (29€) e um ovo ÀCosta (27€), com maionese, tártaro de camarão e caviar e que é finalizado na mesa.
O peixe pode ser pedido grelhado, embora Olivier destaque também o arroz de lavagante (45€/duas pessoas), a açorda de camarão (29€), que pode perfeitamente ser partilhada, ou o bacalhau àCosta (45€/duas pessoas), servido no pão. “O bacalhau é uma homenagem ao meu pai [o chef Michel da Costa]. A primeira vez que vi alguém fazer bacalhau no pão, foi o meu pai que fez. Este é feito com pil pil”, explica.
“Eu primeiro queria fazer um restaurante de comida portuguesa e queria o mais tradicional possível, comida de tacho. Foi a primeira ideia. Depois, pensei em ir para a comida de mar, tradicional. E depois [pensei em] tradicional, mas com coisas um bocadinho fora da caixa. É a história do ovo, é o carpaccio de dourada”, exemplifica. “A carta ainda é muito embrionária. Nos primeiros seis meses vai haver muita modificação, mas sabemos automaticamente que temos que ter o lingueirão, temos de ter amêijoa, temos de ter berbigão, temos de ter camarão à guilho, camarão cozido”.
Se tivesse que apontar dois pratos, Olivier não deixava de fora as lulas grelhadas com molho beurre blanc (preço sob consulta) e o arroz àCosta (45€/duas pessoas), com arroz nero, choco, camarão e tamboril. “Eu acho que um restaurante de peixe não ter umas lulinhas grelhadas com um molhozinho… Eu fiz o molho mais afrancesado, mais by Olivier. É exactamente o mesmo molho que a gente mete na pata de caranguejo do Yazuka, que é um dos bestsellers. Comes essas lulinhas com um arroz rico e atiras-te para o chão”, garante. Quanto ao arroz, “é um prato que faz todo o sentido ter, entre a paella e o arroz à valenciana”. “Eu acho que acontece muito, e toda a gente se anda a queixar, é que habitualmente vem o arroz e depois tens um camarão e três pontinhos de maionese. Eu não pedi só arroz, pedi arroz com tudo. Eu aqui ponho a mais porque odeio pobreza”, brinca.
E depois ainda há pratos de carne como o pica pau do lombo (35€) ou o bife ÀCosta (37€) e as sobremesas sempre vistosas como a mousse de chocolate da tia Matilde (9€), o pão de ló de Ovar (9€) ou o doce da casa (9€), aqui feito com gelado de iogurte grego, bolacha maria e doce de ovos.
Avenida Infante Dom Henrique (Campo das Cebolas). 21 052 2724. Ter-Qui 12.30-00.30, Sex-Sáb 12.30-02.00, Dom 12.30-00.30
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