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Um bocado de Lisboa perde-se todos os meses, todas as semanas, todos os dias. Ora é uma pessoa que é empurrada para fora da cidade, ora é um sítio histórico que fecha para dar lugar a mais um negócio sem raízes nem memória, igual a tantos outros. Esta segunda-feira, soubemos que vamos perder o Lounge no final do ano.
Nas redes sociais do histórico bar, a gerência publicou a enésima variação de um história que estamos demasiado habituados a ler. Começa assim: “No final do ano e 25 anos depois, o Lounge despede-se do nº 1 da Rua da Moeda. Aos amigos, espectadores, clientes, técnicos artistas, músicos, DJs e todos os que nos têm acompanhado nesta viagem, obrigado!”
“Acreditamos que a forma de oferecer uma programação eclética e abrangente contribuiu desde o início para a identidade do bairro e da cidade – sempre de portas abertas a todos, com sentido de inclusão e diversidade”, continua a missiva. “Não conseguimos ver renovado o contrato de aluguer do espaço que ocupamos. O tsunami do brilho postiço que tem inundado a cidade e divergências em relação aos interesses da senhoria põem fim a esta viagem. É humano, é negócio.”
“25 anos incríveis”
O Lounge celebrou 25 anos a 4 de Maio, com artistas e os DJs da casa a darem-nos música. Porque a música, no Lounge, era sempre dada. Sem bilhetes nem entraves à entrada, a não ser quando não cabia ninguém lá dentro. O que aconteceu muitas vezes ao longo dos anos. E continuava a acontecer quase todos os fins de semana.
Quando não cabia mais ninguém lá dentro, convivia-se no beco. Era um ponto de encontro, onde parava toda a gente e se sabia que mais hora, menos hora se ia encontrar um amigo. Era um espaço democrático como restavam poucos em Lisboa. E, numa cidade diferente, seria economicamente viável – clientes não lhe faltavam. Portugueses (uns com mais, outros com menos dinheiro), também muitos turistas. Pelos vistos, isso já não é suficiente.
Mas o Lounge ainda não fechou. Faltam 100 noites até 31 de Dezembro, e vai estar aberto em todas. “Vamos continuar na nossa ilha a fazer o que temos vindo a fazer até aqui com a mesma vontade e empenho de sempre”, como o dono Mike Mwaduma disse à Time Out, em Maio, quando só se temia este desfecho. Hoje, nas redes sociais, reforçou a ideia: “Até ao final do ano ainda temos muito para vos dar.” E, deste lado, temos muito para receber. De braços abertos. Com o coração cheio.
Rua da Moeda, 1. Seg-Dom 22.00-04.00. Entrada livre
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