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Dino Alves varreu o lixo e encerrou o último dia da 50.ª ModaLisboa no Pavilhão Carlos Lopes.
O vento não levou tudo mas houveram plantas derrubadas e estruturas reforçadas durante esta edição da ModaLisboa, que ao terceiro dia de desfiles teve menos pessoas na plateia e a cirandar entre as instalações abertas ao público, como o Wonder Room, a Workstation e uma exposição sobre calçado português. Ainda assim, no último desfile da noite, Dino Alves foi transformista: as luzes não se apagaram, a música não começou e no meio da passerelle amontoaram-se sacos de lixo. Entraram contentores, carrinhos do lixo, ouviram-se berbequins e os andaimes e estruturas circundantes às bancadas começaram a ser desmontados. Era o fim da ModaLisboa e o início da colecção A Outra Verdade, que no fim estendeu uma passadeira vermelha a modelos e criador.
Antes foi a vez do jovem David Ferreira, na plataforma de micromarcas LAB, dar um espectáculo mais contido que o habitual, do veterano Filipe Faísca homenagear os bordados da Madeira, de Lidija Kolovrat e Ricardo Andrez.
Estes foram os melhores coordenados que desfilaram na passerelle.
Olga Noronha
Olga Noronha levou a colecção Uncanny com corpos deformados a alinharem-se nos trilhos da Estufa Fria, entre as folhagens verdes e o lago central, no primeiro desfile do terceiro dia do evento, que teve momentos de pausa para se apreciarem as peças como deve ser. Nudes, verdes esmeralda e vermelhos sangue que casam com as peças de silicone, teflon e poliuretano.
David Ferreira
Tem sido David Ferreira o responsável pelos momentos mais extravagantes e mais perto de alta-costura das últimas edições da ModaLisboa. Ainda assim, esta edição, conteve-se. Mas manteve os detalhes bordados à mão e as propostas fora da caixa. Ao som de uma versão de “Survivor”, houve vestidos totalmente em pelo, como este, felpa castanha ou vinil com os tais bordados em dourado. Usou materiais “do PVC à pele de cordeiro da Mongólia, veludo, seda e lã”, explica na nota de sala, “numa viagem entre o fitted e o oversized”. A fechar o desfile, em vez de uma noiva, uma viúva negra.
Filipe Faísca
Sem convidados especiais mas com um agradecimento especial às bordadeiras da Madeira, Filipe Faísca fez uma colecção bonita e delicada com linhos e bordados da ilha. Envolveu as modelos em cachecóis grandes para dar o toque invernal que faltou em peças essencialmente brancas e negras. A colecção Sexto Sentido teve ainda vestidos de noite em veludo lavanda ou vermelho e óculos de sol com três lentes, uma colaboração especial com a Olhar de Prata.
Ricardo Andrez
O burburinho que se ouviu no início do desfile tem um motivo: o designer Ricardo Andrez usou como padrão principal para a sua colecção Outono-Inverno 2018/19 o axadrezado típico da britânica Burberry. Misturou-o com um rosa pastilha elástica muito millennial, pintas vermelhas em fundo branco, notas de dólar estampadas ou na capa do álbum “Nevermind” dos Nirvana para criar peças tanto fluidas como oversize, mas sempre na categoria de streetwear. Impossível ficar indiferente à cadela Milka da modelo Margarita que também teve direito a outfit.
Dino Alves
Dino Alves desenhou silhuetas disformes e aparentemente desproporcionais propositadamente. A colecção A Outra Verdade tinha peças de roupa “com proporções aparentemente incorretas, painéis de peças com modelagem alterada e usadas com aplicação diferente, bem como linhas de cintura fora do lugar habitual”, explica. Nada é defeito, é tudo feitio, e calha muito bem, mostrando vários layers e materiais como algodão, lã, alcochoados, seda ou neoprene.