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Klaus: A Origem do Pai Natal, o primeiro original de animação da Netflix, chega esta sexta à plataforma de streaming e conta com a participação de dois portugueses. A Time Out foi ao SPA Studios, em Madrid, falar com Sérgio Martins, supervisor de animação do filme, para perceber como tudo foi feito.
Sérgio Martins cresceu a desenhar. Aos oito anos sabia que queria ser animador e aos 17 entrou num curso da ETIC, em Lisboa, onde começou a fazer as primeiras curtas-metragens. Seguiram-se vários anos a trabalhar em Portugal, com o irmão Edgar Martins, em pequenos estúdios, a fazer séries e filmes de autor.
“Houve um momento em que estávamos um bocado cansados disso e decidimos falar com o ex-vocalista dos Blink 182, Tom DeLonge, e perguntar-lhe se estaria interessado em fazer uma animação para um videoclipe”, conta-nos numa sala de projecção dos SPA Studios, nos arredores de Madrid. O cantor de punk rock gostou da ideia e quis avançar com uma animação para um vídeo da sua nova banda, Angels & Airwave. “Fizemos uma curta-metragem, The Dream Walker, que chamou a atenção de pessoas no mundo da animação e o Sergio Pablos convidou-me para vir trabalhar para aqui e perguntou se queria ser supervisor de animação”, recorda Sérgio Martins.
Pablos, director do conceituado estúdio de animação responsável por Gru – O Maldisposto, Rio ou Smurfs convidou também Edgar Martins para se juntar à equipa. Sérgio Martins assumiu o cargo de supervisor de animação e o irmão o de director de história. A sua entrada em 2016 coincidiu com o início da produção de Klaus, o primeiro filme original de animação da Netflix. A ideia surgiu de uma pergunta muito simples: “Como é que nunca contaram a história do Pai Natal em animação?”
Depois foi fazer um filme de Natal que não fosse sobre Natal. “Para Sergio Pablos, realizador, tinha de haver uma forma de contar a história que todos conhecem sem ser cheesy e repetitiva”, explica o director de animação. A fórmula encontrada foi recorrer a uma personagem que não fosse muito amigável nem quisesse saber dos outros. Com ironia e contraste, o espectador aprende a “lição do Natal” sem que nada lhe seja forçado. “Enquanto vês o filme começas a sentir-te natalício – é esse o objectivo”, descreve Sérgio Martins.
Foi ele o responsável por desenvolver as personagens do filme e as “tornar credíveis ao ponto de as conhecer tão bem como se de pessoas reais se tratassem”. No clássico O Padrinho, Marlon Brando tem uma voz característica porque o realizador Francis Ford Coppola lhe disse que tinha sido atingido por um tiro na garganta. “É este tipo de extras que dá muito mais vida às personagens e que as torna mais apelativas.” Em Klaus: A Origem do Pai Natal, Jasper, um dos protagonistas, cresce habituado a grandes luxos e a ter tudo o que queria. Sérgio decidiu que o personagem teria de aprender a ser altruísta, por isso a sua história encaminha-o para uma situação em que é confrontado com adversidades. “Se o pai lhe deu tudo, então tem de ser um bocado preguiçoso e tem de estar habituado a uma vida opulenta. Aí começas a juntar- -lhe todos os maneirismos e a personagem torna-se tão rica quanto uma pessoa real. É um bocado o trabalho que os actores fazem quando estão a desenvolver uma personagem que vão representar”, resume.
A forma como as personagens se movimentam, a sua atitude e expressões são delineadas por Sérgio. “O supervisor dá um breefing aos animadores sobre quem é a personagem e como a deve desenhar. Se este trabalho não fosse feito, cada um deles faria uma coisa diferente”. Esta é a primeira vez que um filme em 2D não é linear e tem luz e sombra em todos os frames. “É de loucos. Dentro da animação este é um processo revolucionário”, diz, sem conseguir esconder o entusiasmo. “Havia o 2D da Disney, até que veio o 3D, em que tudo é uniforme. Esta forma de animar não é bem 3D. É como se fosse uma ilustração feita à mão com movimento”. Foi desenvolvido um programa de iluminação que permite pensar as sombras e as luzes à mão, com recurso a um pincel. O software ajuda a aplicar as sombras e luzes ao movimento do filme, conferindo aos personagens uma camada volumétrica. “É tudo pintado à mão e o programa consegue perceber o que foi pintado e tentar aplicar luz e sombra para os desenhos seleccionados. É um trabalho partilhado entre o artista e o computador. Faz-se o primeiro desenho e o computador percebe como os restantes vão ser”.
O filme que se estreia no catálogo da Netflix esta sexta, 15 de Novembro, recorre às vozes de Jason Schwartzman (Darjeeling Limited), Rashida Jones (The Social Network) e J. K. Simmons (La La Land e Juno) no elenco principal e assinala o início da aposta da empresa de streaming na criação de conteúdos originais de animação.
A Time Out viajou para Madrid a convite da Netflix
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