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Mal o calor começava a manifestar-se, e graças ao comboio, as praias da Costa do Sol enchiam-se de visitantes e banhistas, ávidos de bons ares, de sol e de mar.
“Querida prima, este seu primo lisboeta já mergulhou hoje nas salsas ondas dos Estoris”, escrevia num postal enviado a uma familiar da província, no início da década de 20 do século passado, o jornalista, professor, autor e humorista Armando Ferreira, autor de clássicos cómicos hoje quase totalmente esquecidos, como As Aventuras de D. Martinho de Aguilar em Lisboa, O Galã de Alcântara ou Amor de Perdigão. Tal como Armando Ferreira, muitos eram os alfacinhas que há um século já rumavam às praias da Linha, e especialmente “aos Estoris”, como se dizia na altura (ou seja, S. João, Santo António e Monte Estoril), referidos pelo guia As Nossas Praias – Indicações Gerais para Uso de Banhistas e Turistas, publicado em 1918 pela Sociedade de Propaganda de Portugal, como “muito bem sortidas de barracas para os banhistas, sendo digna de ver-se a animação de todas elas, principalmente da parte da manhã, quando a concorrência é deveras extraordinária”. É que, como já Eça escrevia por finais do século XIX em Os Maias, “Lisboa, no Verão, era tão secante!...”
A inauguração da ferrovia da Linha de Cascais, em 1895, foi fundamental para um maior, melhor e mais rápido acesso às praias da Linha. E já no século XX, no dia 15 de Agosto de 1926, partia da primitiva estação em madeira do Cais do Sodré a primeira composição eléctrica em Portugal, operada pela Sociedade Estoril, do empresário Fausto de Figueiredo (em Agosto de 1928, seria inaugurada a nova Estação do Cais do Sodré, projectada por Pardal Monteiro).
Graças ao comboio, as praias da Costa do Sol, que antes eram apenas frequentadas pelos locais, pelos visitantes estrangeiros (que dispunham já de vários e muito bons hotéis para se alojarem) e por turistas ocasionais, passaram, mal o tempo aquecia, a ser destino regular de férias, ou de fim-de-semana, de milhares de alfacinhas ávidos de bons ares, de sol e de mar, como documenta a foto destas páginas, tirada há 100 anos no areal da praia do Tamariz. Os menos abonados, esses, ficavam-se pelas praias mais populares e próximas da capital, como Alcântara, Pedrouços, Algés ou Cruz Quebrada, em que se instalavam com as suas ceiras de palha ou vime contendo os panelões com arroz de frango, bacalhau ou favas cozidas, sem esquecer os garrafões de vinho tinto.
Alguns anos mais tarde, em 1930, o citado Fausto de Figueiredo, dono do Casino do Estoril, das Termas do Estoril (futuro Hotel do Parque) e do Palácio Hotel, conseguiria que o comboio Sud-Express passasse a ter a ligação Paris-Estoril, e trouxesse ainda mais visitantes estrangeiros aos “Estoris” e às outras praias da Costa do Sol. Como bem notava Armando Ferreira, numa crónica então publicada na desaparecida revista Ilustração Portuguesa: “Há lá coisa melhor e mais civilizada do que banhoca e solinho de manhã, almoço bem mastigado e depois uma passeata à beira-mar para concluir a digestão, aqui pelos nossos aprazíveis Estoris? Lisboa que espere!...”
Lisboa de outras eras:
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