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Foi lá que, em 1931, na revista O Mexilhão, Beatriz Costa e Ribeirinho popularizaram a canção O Burrié, imenso sucesso à época; que cinco anos mais tarde, em 1936, um burro subiu ao palco para acompanhar a mesma Beatriz Costa na canção Arre Burro, da revista com o mesmo título, causando sensação; que, em 1958, Eugénio Salvador apresentou uma das suas mais sumptuosas revistas como produtor, Pernas à Vela, com Raul Solnado, Humberto Madeira, Anita Guerreiro e Barroso Lopes no elenco; ou que, em 1969, aquela actriz estreou a que seria uma das mais célebres e emblemáticas canções sobre Lisboa, Cheira a Lisboa, na revista Peço a Palavra!.
Tudo isto aconteceu no mítico Teatro Variedades, pensado por Luís Galhardo, projectado por Urbano de Castro e inaugurado no Parque Mayer a 8 de Julho de 1926 com a revista Pó d’Arroz, que tinha em estreia, no seu elenco, um jovem actor chamado Vasco Santana (então referido como “Sant’Ana”, também co-autor do espectáculo e brilhando num quadro chamado Toilettes Modernas, ao lado da actriz, fadista e divette Anita Ferréro, também conhecida como Anita “Salambô”), e o lendário Costinha nas funções de compère. Era o segundo teatro do Parque após do Maria Vitória (abririam depois o Capitólio, em 1931, o Recreio, em 1937, e que duraria só três anos, e o ABC, em 1956, bem como restaurantes, casas de fados, carrosséis e barracas de tiro).
Entre os muitos, muitos artistas que passaram pelo palco do Variedades protagonizando revistas ou peças de teatro, e além dos já referidos, podemos mencionar Eugénio Salvador (que também o explorou durante vários anos, em sociedade com Rui Martins), Paulo Renato, Henrique Santana, António Silva, Mirita Casimiro, Laura Alves, José Viana, Badaró, Irene Isidro, Carlos José Teixeira, Mara Abrantes, Luís Piçarra, Mariema, Vítor Mendes, Maria Dulce, Eunice Muñoz, Camilo de Oliveira, Carlos Miguel, Marina Mota, Carlos Cunha ou Amália e Hermínia Silva, que inclusivamente actuaram juntas na revista Boa Nova, em 1942. Os nomes de grandes empresários teatrais como o já mencionado Luís Galhardo, Vasco Morgado ou Giuseppe Bastos, e de autores como Ernesto Rodrigues, César de Oliveira e Rogério Bracinha, ficaram igualmente ligados ao Variedades.
Em 1966, o teatro foi muito danificado por um incêndio que afectou todo o Parque Mayer, tendo sido reconstruído. Na década de 90, a renovação e exploração do Variedades foi assumida por Vasco Morgado Júnior e Hélder Freire Costa, sendo nessa altura que Filipe Lá Féria lá gravou para a RTP o seu programa Grande Noite. Encerrado em finais dos anos 90, com a decadência do Parque Mayer, o Variedades esteve abandonado e a degradar-se durante mais de duas décadas. O pintor, cenógrafo e autor Mário Alberto morou lá, no seu atelier, entre 1973 e o início deste século, quando sofreu um AVC e teve que ir para um lar. Foi o derradeiro residente do Parque Mayer. Em 2020, começaram as obras de reabilitação e requalificação do edifício, prevendo-se que o Variedades reabra em meados deste ano. Mas será que voltará lá a ver-se revista à portuguesa?
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