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A tradição de vender perus nas ruas de Lisboa na época do Natal durou pelo menos até às primeiras décadas do século XX. No início de Dezembro, começavam a aparecer os saloios a tanger bandos de perus pela zona da Baixa, do Camões até ao Rossio e aos Restauradores, apregoando bem alto os méritos das aves. A foto desta página foi tirada na primeira década do século passado, no Largo Trindade Coelho, outra das zonas onde se concentravam os mercadores de perus, brandindo as suas longas canas. Por vezes, um animal era esmagado por uma carroça, um automóvel ou um transporte público, entre gritaria e gargalhadas.
Um dos pregões mais comuns era: “Peru saloio! É sa-loooooio!”. Conta quem ainda assistiu a estas cenas que entre os gritos dos vendedores e a chinfrineira feita pelas aves, era por vezes difícil entabular conversa e regatear o preço. Segundo os conhecedores, os perus mais tenros e suculentos eram os mais teimosos e renitentes. À força de terem levado com a cana, tinham ficado com a carne mais mole e mais gostosa. Eram esses que deviam ser comprados, levados para casa e depois embebedados com bagaço, degolados, limpos e cuidadosamente cozinhados, garantindo um magnífico jantar natalício. Os regulamentos municipais de higiene pública e o comércio de porta aberta acabaram com esta tradição natalícia.