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Noutros tempos, em Lisboa, o domingo costumava ser dia forte para os engraxadores. Os homens vestiam o fato mais caro e calçavam os melhores sapatos para irem à missa, almoçar fora e darem a volta da praxe com a família ou com a namorada, ou então para irem ao futebol. E cabia aos “homens da graxa” pôr-lhes o calçado num brinquinho. “Vai graxa?” era a frase de rigor. Daí chamarem-lhes também “os graxas”.
Miúdos, homens já feitos ou curvados sob o peso dos anos, caixa do ofício ao ombro ou na mão, os engraxadores ambulantes estavam por toda a cidade, mas muitos tinham ponto fixo na Baixa, quando a Baixa era ainda o centro cosmopolita, comercial, cultural e de lazer de Lisboa, ou então noutros locais de referência, caso do Saldanha ou das estações de Santa Apolónia e do Cais do Sodré. Outros paravam pelos jardins e pelos parques, ou à porta de tascas, cafés, pastelarias e restaurantes, e até teatros e cinemas, cultivando os clientes que garantiam um rendimento regular, dentro do possível.
Esta fotografia foi tirada em finais da década de 70, no Rossio, ao pé da tradicional Ginjinha, mostrando um grupo de engraxadores em pleno trabalho. Nos anos 60, a Câmara de Lisboa chegou a pôr nalgumas zonas abrigos individuais que lhes eram destinados. Nos nossos dias, uns quantos engraxadores, bem poucos, teimam ainda em perguntar “Vai graxa?” nas ruas da capital.