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Foi durante mais de duas décadas o típico restaurante de comida tradicional em que marido e mulher tomam conta da casa e tratam os clientes como se fossem família. O “Senhor Manuel” ficava na cozinha, a “Dona Gina” na sala e, à mesa, chegavam sempre travessas cheias, a preços simpáticos. Nos últimos tempos, porém, Manuel Trindade Castro adoeceu e antes de se afastar quis garantir que este seu canto emblemático em Cascais não se perdia. O proprietário ainda conseguiu escolher quem para ali iria, mas não chegou a ver a casa renovada, e que abriu portas há duas semanas, porque acabaria por morrer.
“Quando o senhor Manuel ficou doente, convidou-nos para dar seguimento ao projecto e a ideia era que fosse connosco para a cozinha para nos ajudar a manter as coisas”, conta à Time Out Frederico Vidal, responsável também pelo conhecido restaurante Páteo do Petisco. “Infelizmente, acabou por não resistir e sem o ter nesta transição não nos fez sentido manter tudo igual, já não era a mesma coisa”, acrescenta, explicando ter sido feito um “upgrade”, respeitando sempre a cozinha tradicional e a história da casa.
Prova disso é a renovação do espaço, onde o amarelo das paredes deu lugar ao branco, embora mantendo à entrada uma espécie de mural da fama, com recortes de jornais e revistas em que O Pereira foi aparecendo ao longo dos anos. É uma homenagem ao senhor Manuel que continua assim, de alguma forma, a dar as boas-vindas aos clientes.
“Mantivemos também as famosas arrozadas, os bifes e uma ou outra coisa”, aponta Frederico, para quem a mudança se focou essencialmente na modernização do espaço de forma a proporcionar um maior conforto aos clientes. Os guardanapos de papel, por exemplo, deram lugar aos de pano, e as travessas de inox ganharam uma apresentação mais cuidada. O objectivo da mudança passa também por chamar uma nova clientela para a casa – nova em todos os sentidos. “Quem aqui vinha era já uma geração mais velha, queremos que seja um espaço também para a nossa geração, para quem está nos 30/40 anos.”
A dona Gina vive por cima do restaurante, conta Frederico, e acompanhou a mudança. Foi ajudando no que era preciso e hoje é cliente de vez em quando.
A carta não é extensa, mas como bom restaurante tradicional tem sempre sugestões do dia – quando a Time Out por lá passou, havia, por exemplo, uma caldeirada de peixe (13,50€) e um entrecosto de porco com esmagada de batata (12,50€).
As arrozadas – com abundantes referências no tal mural da fama – têm direito a uma entrada específica no menu. Há arroz de cabidela (14€), de pato (14€), de polvo (14€), de lavagante (29€) ou de lingueirão (14,50€). Nas carnes, está lá o bife do lombo à Pereira (14€), mas também há novidades como os secretos de porco preto com migas (13,50€) ou o tomahawk, com aproximadamente 900 gr (50€/kg).
A influência do Páteo do Petisco nota-se nas entradas, onde não faltam petiscos que podem perfeitamente fazer uma refeição, das favinhas com linguiça (4€), à cabeça de xara (3,50€), passando pelo escabeche de pato (5€), o polvo à Pereira (9€), as amêijoas à bolhão pato (17€) ou o lingueirão ao natural (16€).
As sobremesas são as que se esperam de uma cozinha tradicional – leite creme, mousse de chocolate e arroz doce (4€) –, mas o toque contemporâneo nota-se, por exemplo, no foundant de abóbora (4,50€).
Por agora, os clientes de outros tempos ainda não voltaram muito, mas Frederico não estranha. “Era para termos aberto em Março de 2020, o que não aconteceu obviamente. Estivemos muito tempo fechados e os clientes antigos desabituaram-se”, diz, com a certeza de que “a lufada de ar fresco” veio melhorar o espaço e que acabará por seduzir os comensais de Cascais.
Tv. da Bela Vista 42 (Cascais). Sex-Qua 12.30-15.00, 19.00-00.
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