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“Por que é que nos agrada tanto o polido?”, pergunta Byung-Chul Han no seu A Salvação do Belo (2016, Relógio D’Água). “O liso, o polido, a ausência de rugas são, na época actual, identificados com o belo”. Para o filósofo e ensaísta sul-coreano, a beleza hoje é lisa. “Lisa pois não apresenta resistência, não quebra e exige likes. O liso suprime a distância e convida ao toque.” Muitas – senão todas – as obras da exposição "Primeira Pedra 2016-2022", que estão no Museu Nacional dos Coches até Setembro, convidam ao toque. "A pedra tem de ser sentida, mexida", adverte Guta Moura Guedes, a responsável por desafiar 36 arquitectos, designers e artistas a olhar para a pedra portuguesa.
Em 2016, a presidente da experimentadesign, a convite da Assimagra, associação portuguesa da indústria dos recursos minerais, foi convidada a criar um projecto que relançasse o sector. Chamou-lhe Primeira Pedra e tinha um objectivo claro: a internacionalização desta indústria extractiva. Findo o programa, a pergunta impõe-se:conseguiu? "Sim e há inúmeros exemplos”, assegura. “A partir do momento em que começámos a estar na estrada, [soubemos de] encomendas que foram feitas diretamente à nossa indústria precisamente por clientes e arquitectos que viram a exposição e que começaram a perceber o valor da indústria e a ver a qualidade da nossa pedra", diz a curadora, que tem apresentado a Primeira Pedra como case study em países como Espanha ou Brasil.
Com financiamento europeu, há seis anos que a pedra portuguesa corre o mundo na forma de bancos, cadeiras, esculturas ou fontes, interpretada por autores nacionais e internacionais. Agora, as 74 peças estão reunidas no museu em Belém numa mostra colectiva que chegou a estar apontada para 2020, mas que foi sendo adiada pela pandemia. Neste interregno, dois artistas juntaram-se ao certame: Vhils e Ai Weiwei. Este último, cuja obra não foi colocada a tempo da inauguração, fez um auto-retrato "através de um processo que combina alta tecnologia com escultura manual", avança a folha de sala. O artista e activista chinês é um dos nomes internacionais mais sonantes, a par da sérvia Marina Abramović, que, em granito gabro de Odivelas, criou duas cadeiras que convidam os visitantes sentados a observarem-se silenciosamente, evocando a performance que a própria apresentou no Museu de Arte Moderna de Nova Iorque, em 2010, em que enfrentou, em silêncio, quem se colocasse à sua frente.
"Tinham que ser autores em que eu tivesse já uma confiança muito grande, quer em termos de resultado quer em termos de percurso. Não é um tipo de projecto onde iria arriscar convidar uma geração muito nova. Por causa da complexidade", conta a curadora sobre a representação portuguesa no projecto.
De um catálogo de cerca de 70 pedras à disposição, o mármore reuniu a preferência de muitos autores. O arquitecto Manuel Aires Mateus foi um dos que recorreu ao mármore de Estremoz. A Fernanda Fragateiro, a única mulher na comitiva portuguesa, foi proposto que trabalhasse com uma pedra típica do norte do país, o granito. O designer Miguel Vieira Baptista utilizou mármore pele de tigre.
A reportagem completa e as entrevistas aos artistas podem ser lidas na íntegra na edição da Time Out Lisboa que chega às bancas este fim-de-semana.
Museu Nacional dos Coches (Belém). Ter-Dom. 10.00-18.00. Até 25 Set. 8€
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