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Estamos à beira de uma piscina rodeada de espreguiçadeiras. Para onde quer que nos viremos, o que vemos é o recém-inaugurado Locke de Santa Joana – à excepção da imponente Igreja do Sagrado Coração de Jesus, a sul. A oeste, a nova construção alberga a maioria dos 370 quartos que compõem a nova unidade hoteleira. Do lado oposto, um restaurante, a sua esplanada e um grande arco que liga esta zona de lazer à Rua de Santa Marta. Por fim – e com os interiores, por enquanto, mantidos em segredo –, a principal edificação do velho Convento de Santa Joana.
É um quarteirão inteiro. O hotel abriu a 15 de Julho e é a 16.ª unidade de um grupo britânico que está a espalhar-se pela Europa. Este, contudo, está repleto de história. Além de ser o primeiro em solo português, é o maior Locke (sim, o nome é inspirado no filósofo inglês) inaugurado até à data.
Um quarteirão de há séculos
O lugar escolhido não é um lugar qualquer. Aqui, sobrevivem os vestígios de um velho convento do século XVII, mas não só – há dezenas de achados que remontam à presença romana no território, assim como posteriores acrescentos à construção, levados a cabo já após o terramoto de 1755, altura em que o edifício deixa de ser Noviciado dos Missionários para a Índia para albergar freiras dominicanas, desalojadas pelo sismo.
Sem hábitos, mas de biquíni e fato de banho, os primeiros hóspedes torram agora sob o sol lisboeta. Estamos no centro da cidade, a poucos metros do Marquês de Pombal, mas a sensação é de que fomos para longe do trânsito e do burburinho da capital. À uma descontracção – informalidade, até – associada à cadeia. Logo no lobby, existe uma cafetaria pensada para pequenos lanches e refeições ligeiras para levar. Hóspedes e visitantes podem entrar e fazer o pedido ao balcão, mas também através do postigo que liga o pequeno café ao exterior do hotel, na Rua Camilo Castelo Branco.
A pensar nos que viajam e continuam a trabalhar remotamente, existe uma sala com pinta de cowork. À semelhança do resto do hotel, é pet friendly. Os interiores são um trabalho feito a quatro mãos. As áreas comuns, como a entrada ou os restaurantes e bares, foram projectadas pelo espanhol Lázaro Rosa Violán, o mesmo que assina o JNcQUOI Avenida e o Rocco. Os quartos são obra dos norte-americanos da Post Company. Confortáveis e acolhedores, foram pensados, sobretudo, de um ponto de vista prático. Quase todos têm uma pequena cozinha, devidamente equipada para a preparação de refeições, o que ajuda a explicar os sacos de supermercado que vemos passar junto à piscina.
À mesa
É na parte detrás do edifício principal, construído do zero, que encontramos o coração do Locke de Santa Joana. Um pátio, onde os hóspedes vão a banhos, mas também aberto à cidade, com áreas relvadas e alguns achados arqueológicos que aqui foram expostos. As atenções depressa se viram a esplanada do Santa Marta, um dos restaurantes integrados no projecto, o único a funcionar para já. Aqui, com uma cozinha de base mediterrânica e 60 lugares, servem-se pequenos-almoços, almoços, lanches e jantares. O objectivo é que também os lisboetas entrem e folheiem o cardápio. Além das pizzas napolitanas, há especialidades da grelha, como as coxas de frango com molho piri-piri ou os camarões vermelhos do Algarve.
E isto é só o início. Com o Outono, virão outros espaços, também eles abertos a não hóspedes. O Santa Joana, restaurante de ocupa a antiga igreja do convento, será a jóia da coroa do hotel. Por revelar continua o nome do chef que estará associado ao futuro projecto. O hotel apenas revela que será um nome internacional. Todos os espaços de restauração são desenvolvidos em parceria com a londrina White Rabbit Projects, enquanto os bares, outro capítulo se suma importância, têm o dedo da Spiritland (também sediada em Londres), responsável pela animação e também por dar o nome a um futuro bar subterrâneo com forte componente musical. Os próximos meses terão ainda a abertura do The Kissaten, casa da "maior colecção de uísques de Lisboa", e d'O Pequeno, focado em champanhes e martinis.
Um museu habitado
Parte da edificação principal do antigo convento continua por revelar. Além do futuro restaurante e de um pequeno pátio interior, reservou-se uma antiga capela para instalar um núcleo expositivo. Ao longo dos últimos anos, as obras de construção e reabilitação que deram origem ao hotel desenterraram dezenas de vestígios e artefactos. Alguns deles vão ter lugar num conjunto de vitrines pensado para o efeito.
É aqui que ficam as acomodações de tipologias mais especiais. Há quartos na antiga sacristia, um estúdio com mais de 20 metros quadrados e uma suite, a maior de todas com 75 metros quadrados. Pelo meio, tropeçamos em painéis de azulejos, ornamentos originais do próprio convento, mantidos no lugar para abrilhantar a passagem. Nas paredes, e em contraste com a arte centenária do local, encontramos peças contemporâneas, assinadas por Sebastião Lobo.
Ao deixarmos o edifício estamos de volta à casa partida, a piscina do hotel. O Locke de Santa Joana já mexe – há gente na esplanada, um bar de apoio junto às espreguiçadeiras, turistas a apanhar sol à porta do quarto – há uma fileira inteira de quartos, no piso térreo, cuja porta dá directamente para a piscina –, e um portão aberto para a rua. Por muitos hóspedes que estejam no novo hotel de Lisboa, há sempre lugar para receber um lisboeta curioso.
Rua Camilo Castelo Branco, 18. 21 155 5590. A partir de 200€ p/ noite
Artigo actualizado no dia 17 de Agosto, às 9h45.
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