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Todos sabiam que seria temporário. Esta é, aliás, uma palavra que se repete quando o assunto é a ocupação de locais da cidade para fins culturais, sendo que alguns colectivos começam a aperfeiçoar-se na arte de fazer o seu trabalho comunitário ou artístico com a casa às costas. É o caso do LARGO Residências, cooperativa que nasceu em 2011 no agora mortiço Largo do Intendente e que desenvolveu um trabalho de fundo com a comunidade local, sem descurar a organização de festas e festivais.
Em 2022, o LARGO mudou-se para o antigo quartel da GNR no Largo do Cabeço de Bola e construiu à sua volta um ecossistema criativo mobilizado por residências artísticas e projectos (temporários e permanentes) ligados às mais variadas áreas, do cinema à cidadania. A 1 de Outubro, fecham-se as portas do quartel ao público, num movimento de preparação para aquilo que constituirá o futuro deste espaço: a construção de um complexo com habitação a custos controlados, espaços comerciais, culturais e de serviços. Ainda assim, o ano de iniciativas e sinergias criadas que fica para trás é mais forte do que o acontecimento do fecho, por isso, os residentes decidiram que os últimos dias no quartel seriam para comemorar. E com a comunidade.
A festa arrancou a 21 de Setembro e continua até 1 de Outubro. No dia 22, às 19.00, há uma performance e conversa com as Manas (grupo de apoio mútuo entre mulheres sobreviventes a múltiplas violências); no sábado, há oficinas pelos artistas Mattia Denisse (11.00) e pelo colectivo BLAB, e um concerto-desenho, às 18.00. O domingo começa com um workshop para crianças que revisita a obra de Lourdes Castro (11.00), prossegue para uma sessão de histórias e oficina de artes plásticas, às 15.00, e uma conversa sobre o impacto da inteligência artificial nas nossas vidas, às 16.00. Retoma-se a programação no dia 28 (até 1 de Outubro), com workshops, teatro, performances, cinema, o já conhecido Bazar no Quartel (no dia 1, a partir das 14.00) e conversas. Depois do concerto (19.30) em que o músico residente Jon Luz convida outros artistas a subirem ao palco, a cooperativa convoca a comunidade para discutir (e talvez saber) como e onde irá a continuar a sua actividade.
Mais de 900 actividades num ano
Os números do Quartel impressionam. Desde Outubro de 2022, mais de 1000 trabalhadores da cultura e acção social envolveram-se na realização de 900 actividades. Ao mesmo tempo, 50 iniciativas deram vida ao espaço diária ou pelo menos regularmente, através do trabalho de 150 pessoas.
Como declara o LARGO Residências em comunicado, esta é a história resumida do último ano: “Em 2022, saímos sozinhos do Largo do Intendente. Em 2023, temos uma família enorme, quer de iniciativas culturais, quer da economia social e solidária que não deixaram o território onde sempre actuaram. É aqui que o seu trabalho continua a ser essencial para a coesão territorial de uma zona da cidade tão cicatrizada.”
No dia 1 de Outubro, fecham-se os portões, mas os residentes mantêm-se no interior e em acção até ao final do ano. O futuro da cooperativa e dos 150 trabalhadores fixos no Quartel ainda não é conhecido, mas haverá um novo espaço para continuar o trabalho feito até aqui, acreditam. Resta saber qual.
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