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Há praticamente quatro décadas que o Jazz em Agosto mostra tudo o que pode e deve ser o jazz. Criado por Madalena de Azeredo Perdigão (1923-1989) – que também nos legou o Serviço de Música da Fundação Calouste Gulbenkian, a Orquestra e Coro Gulbenkian ou o Ballet Gulbenkian – e dirigido há muitos e bons anos por Rui Neves, deu e continua a dar palco a alguns dos mais importantes inovadores do género. Esta edição arranca já na quinta-feira, 27, com um concerto da pianista, compositora e improvisadora francesa Eve Risser, à frente da sua Red Desert Orchestra.
Segue-se, na sexta-feira, 28, a actuação de Trance Map +, projecto sempre em fluxo que tem no processamento de som de Matt Wright e no saxofone de Evan Parker as suas únicas constantes. E o lendário saxofonista volta a pisar o anfiteatro ao ar livre da Gulbenkian na noite de sábado, ladeado pela Natural Information Society de Joshua Abrams, que cruza o jazz com a hipnótica música gnaoua do noroeste africano.
No dia seguinte, duas notáveis guitarristas passam pela Fundação Gulbenkian. A partir das 18.30, no Auditório 2, toca Julia Reidy, compositora australiana (mas radicada em Berlim) de uma música que deve tanto ao primitivismo americano de John Fahey como aos esquissos para um mundo em ruínas de Jandek. E às 21.30, dois anos depois de a pandemia a ter forçado a cancelar uma passagem por este festival, vamos finalmente ouvir a norueguesa Hedvig Mollestad e a sua banda – em que milita a trompetista portuguesa Susana Santos Silva, que se apresenta a solo no sábado, pelas 18.30 – tocar as canções do álbum Ekhidna (2020), a meio caminho entre o jazz de vistas largas e um certo rock das décadas de 1970 e 80, ora mais progressivo, ora mais hard, quase a roçar o metal.
O ritmo de concertos abranda após o primeiro fim-de-semana. Mas as propostas musicais não deixam de ser apelativas. Na segunda-feira, 31, o compositor e baterista João Lencastre lidera o quarteto multinacional que gravou o álbum Safe in Your Own World no ano passado. Seguem-se três trios, que apontam diferentes caminhos para o jazz. Primeiro The Attic (Rodrigo Amado, Gonçalo Almeida e Onno Govaert), a 1; depois o trio da saxofonista e flautista Zoh Amba, com Luke Stewart (contrabaixo) e o incomparável Chris Corsano (bateria), a 2; e ainda, no dia 3, os Ghosted, isto é, os improvisadores Oren Ambarchi (guitarra), Johan Berthling (contrabaixo) e Andreas Werliin (bateria).
Terminada a semana laboral, na noite de sexta-feira, 4, o anfiteatro ao ar livre recebe o quinteto Fire and Water, liderado por Myra Melford (piano) e completado por Mary Halvorson (guitarra), Ingrid Laubrock (saxofones), Tomeka Reid (violoncelo) e Lesley Mok (bateria). Nas tardes do último fim-de-semana deste Jazz em Agosto, vão escutar-se os solos da pianista Marta Warelis, no sábado, 5, e da percussionista Camille Émaille, no domingo, 6. Entre estes concertos, no sábado à noite, a guitarrista norte-americana Mary Halvorson, que também toca na noite anterior, volta a subir ao palco, mas agora na companhia do sexteto com que gravou o álbum Amaryllis, um dos mais gabados do ano passado, algures entre a música escrita e o jazz contemporâneo. O festival termina ao som da Supersonic Orchestra, armada nórdica liderada pelo baterista e compositor Gard Nilssen.
Fundação Calouste Gulbenkian (Lisboa). 27 Jul-6 Ago. 6€-90€
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