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Depois de um concerto em 2015 no Mexefest, a rapper brasileira está de volta no sábado com um novo álbum, Ambulante, uma ajuda para superar a “onda cinza” do Brasil. Falámos com ela.
Fogos de artifício no coração. Foi assim que Karol Conká (chama-se assim por dizer desde pequena que o seu primeiro nome se escrevia com K) diz ter sido quando soube que Rihanna tinha usado uma música sua num desfile de lingerie na Coreia do Sul em Setembro. “Recebi uma mensagem dos fãs dizendo que a Rihanna estava tocando essa música num evento dela e achei muito legal”, conta à Time Out por telefone. “É um reconhecimento saber que a música vai além, ultrapassa barreiras. Mas se a música não fosse dos Buraka não ia ter esse impacto tão gostoso.”
A música em causa, “Bota”, lançada em 2013 em colaboração com os Buraka Som Sistema, foi feita a pensar na Copa do ano seguinte. No mesmo ano, Karol, de 32 anos e natural de Curitiba, lançava o seu primeiro álbum, Batuk Freak, e tornava-se uma revelação do rap no Brasil. Na altura, a Rolling Stone punha-a na lista dos dez artistas a conhecer e uma das suas canções, “Boa Noite”, era escolhida para fazer parte da banda sonora do videojogo FIFA 14.
Foram precisos mais cinco anos para a brasileira, assumidamente bissexual, voltar aos palcos com um novo álbum, Ambulante, que agora traz a Lisboa. Neste tempo, não esteve parada. “Fui apresentadora de um programa de TV e acabei entrando no mundo da publicidade”, conta. “Fui planejando mais a carreira para ver o que ia fazer, fui lançando singles.”
O seu último álbum, Ambulante, chegou no fim de 2018 e foi feito em apenas quatro meses – “no tempo certo, sem correrias”. “Quis mostrar esse meu espírito de transitar por outros estilos, estou-me sentindo bem resolvida e à vontade”, continua. Essa nova mistura de estilos vai do brega ao reggae e até inclui uma balada romântica, “Saudade”, mais improvável para a voz do hip- -hop feminino brasileiro.
“Foi quase brincando”, explica. “Nem tinha intenção de colocar [“Saudade”] no álbum, foi no improviso. O produtor achou que era legal dar esse lado mais sensível, normalmente só falo de poder e de feminismo e esse sentimento de saudade tem tudo a ver com ser poderosa. Você assume um sentimento.”
Na verdade, viajar entre vários géneros é uma coisa antiga. “A minha referência musical desde a infância sempre foi de tudo um pouco”, conta. “Na prateleira da minha casa tinha samba, tinha MPB, rap, reggae, soul, jazz, sempre transitava por todos esses lugares, mas sempre me identifiquei com rap. Ouvia The Cure, Enya, Destiny’s Child, Erika Badu, Lauryn Hill, Elza Soares…”
Elza Soares, uma inspiração, acabou mesmo por escrever o texto que serve de apresentação para este seu segundo álbum: “Karol é com K, mas também com O de orgulho, com R de resistência, F de forte, de fama, de mudar essa realidade dura que desenharam para nós.”
Ambulante pode ser uma cura para esta “onda cinza”, garante Karol. “É uma maneira de não ser pessimista, gosto sempre de pensar que a força do bem sempre vence. Temos de usar a nossa arte para levar solução e conforto, se não falamos, a nossa voz não vale de nada.”
Em Setembro, subiu ao palco do Rock In Rio com Linn da Quebrada e Gloria Groove, duas artistas LGBT que tão bem representam a resistência brasileira em tempos de Bolsonaro. “Foi incrível, sou amiga delas há um tempo. São artistas com atitude rock, inspiradoras, mulheres que fazem acontecer.”
Como aliás, muitos artistas queer que têm nascido no Brasil nos últimos anos. “Apesar de vivermos um momento triste, temos outro lado cheio de luz e alegria para inspirar a gente”, diz Karol.
As canções de Ambulante e Batuk Freak podem ser ouvidas no sábado no Musicbox, num concerto a propósito do Jameson Urban Routes. No dia seguinte, Karol Conká toca no Hard Club, no Porto.
Sábado, 03.00-06.00, no Musicbox. Rua Nova do Carvalho, 24 (Cais do Sodré). 15€.